A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) se referiu ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, como "menino" que "nem com a ajuda do pai" conseguiu assumir a liderança do PSL na Câmara dos Deputados.
As declarações de Joice, que foi destituída do cargo de liderança do governo no Congresso na quinta-feira (17), foram dadas nesta sexta (18), no início de uma reunião do comando do PSL para discutir o racha aberto entre o partido e o Palácio do Planalto.
— Eu assinei a lista (de apoio ao deputado) Waldir porque eu dei a minha palavra. Eu não vou sacrificar a minha palavra e a minha honra por conta de dois meses na liderança, botando um menino na liderança que não consegue nada sozinho — disse Joice, referindo-se à guerra de listas deflagrada entre a ala bolsonarista do PSL e o grupo alinhado ao deputado Luciano Bivar (PSL-PE), presidente da sigla.
Os bolsonaristas tentaram destituir Waldir da liderança do partido na Câmara e substituí-lo por Eduardo, mas o movimento não teve êxito porque houve a invalidação de assinaturas coletadas. Joice endossou a permanência de Waldir e acabou punida pelo presidente Bolsonaro com a perda da liderança do governo no Congresso.
— Nem com a ajuda do pai (o Eduardo) conseguiu a maioria para estar líder do PSL. Então que tipo de liderança há no Eduardo Bolsonaro? Eu gosto do Eduardo Bolsonaro, agora tudo o que ele conseguiu foi à sombra de alguém. Nem mesmo com a interferência direta do Presidente da República ele conseguiu maioria para ser líder. E se conseguir eventualmente, porque a pressão continua; se conseguir de um ou de outro, não vai ter legitimidade — completou.
Deputado que gravou reclamações deve ser expulso, diz Joice
A ex-líder do governo no Congresso disse ainda nesta sexta que na crise o partido está "separando o joio do trigo" e defendeu que o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) deve ser expulso da sigla, por ele ter gravado uma reunião de parlamentares em que Waldir disse que iria "implodir" Bolsonaro.
— A gente tem araponga dentro do partido, gente, olha que coisa sensacional — ironizou Joice. — Não adianta você ter 53 deputados e 15 atrapalhando e o resto trabalhando. Então a porta da rua tem que ser a serventia da casa. Alguns já estão suspensos, porque atacaram o partido, e eu acho que alguns têm que ser expulsos e o mandato discutido na Justiça — concluiu a parlamentar.
O PSL vive há dias uma guerra aberta entre aliados do presidente da legenda, deputado Luciano Bivar (PE), e um grupo alinhado ao presidente Bolsonaro. O racha ficou evidente depois de Bolsonaro ter aconselhado um seguidor a esquecer o partido e ter dito que Bivar estava queimado.
A crise no PSL extrapolou nesta quinta-feira (17) as barreiras do partido e atingiu a articulação política do governo Jair Bolsonaro no Congresso Nacional.
Em meio ao clima de beligerância no PSL, o presidente sofreu derrotas em série, foi chamado de vagabundo pelo líder do partido na Câmara, deputado Delegado Waldir (GO), e, em um contragolpe, decidiu tirar a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do governo no Congresso.
O esquema de candidaturas laranjas do PSL, caso revelado pelo jornal Folha de S.Paulo em uma série de publicações desde o início do ano, deu início a atual crise na legenda e tem sido um dos elementos de desgaste entre o grupo de Bivar e o de Bolsonaro, que ameaça deixar o partido.
O escândalo dos laranjas já derrubou o ministro Gustavo Bebianno, provocou o indiciamento e a denúncia do ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio e levou a uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal a endereços ligados a Bivar em Pernambuco.
Na semana passada, diante disso, Bolsonaro requereu a Bivar a realização de uma auditoria externa nas contas da legenda. A ideia tem sido a de usar eventuais irregularidades nos documentos como justa causa para uma desfiliação de deputados da sigla, o que evitaria perda de mandato. O episódio, no entanto, criou uma disputa interna na sigla, com a ameaça inclusive de expulsões.
A aliados Bolsonaro tem dito que só oficializará a saída do PSL caso consiga viabilizar a migração segura de cerca de 20 deputados do PSL (de uma bancada de 53) para outra sigla. Nos bastidores, esses parlamentares já aceitam abrir mão do fundo partidário do PSL em troca de uma desfiliação sem a perda do mandato. A previsão é de que o PSL receba R$ 110 milhões de recursos públicos em 2019, a maior fatia entre todas as legendas.
A lei permite, em algumas situações, que o parlamentar mude de partido sem risco de perder o mandato — entre elas mudança substancial e desvio reiterado do programa partidário e grave discriminação política pessoal.