– Estamos aqui para desmentir fake news sobre queimadas que estão acontecendo no Xingu. As queimadas sempre existiram, não é por conta do novo governo que entrou – defendeu, em um vídeo, Ysani Kalapalo, a indígena levada pelo presidente Jair Bolsonaro à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Publicada em sua conta no YouTube há seis dias, a gravação foi parar no Twitter do Ministério das Relações Exteriores, legendada em inglês.
Ysani é natural da aldeia Tehuhungu, localizada no Parque do Xingu, no Mato Grosso, e tem se mostrado uma indígena dissonante. De etnia kalapalo, considera-se uma youtuber de direita e apresenta-se como uma "indígena do século 21". Em seu canal, soma 276 mil inscritos e mais de 28,6 milhões de visualizações.
Nesta terça-feira (24), sentada em uma das cadeiras do plenário amadeirado da ONU e com uma bandeira do Brasil enrolada no pescoço, chegou ao auge de sua popularidade. Ela assistiu aos 32 minutos do discurso de Bolsonaro e chancelou a sua defesa de liberar a exploração das áreas indígenas.
– O índio não quer ser latifundiário pobre em cima de terras ricas, especialmente das terras mais ricas do mundo – afirmou o presidente, sob os olhos de Ysani.
Bolsonaro e Ysani também se alinham nas críticas ao cacique Raoni Metuktire, mencionado na ONU pelo presidente como exemplo dos índios brasileiros "usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia". Pelo YouTube, a indígena já havia protestado contra Raoni, criticando que "tem um certo cacique aí que a gente vê muito na mídia que se diz representante de todos os povos do Xingu, o que não é verdade".
No passado, porém, a relação era outra. Antes de envergar pela direita, Ysani elogiava Raoni. A indígena chegou a militar contra a instalação da Usina de Belo Monte, no Pará, até, segundo diz, se dar conta que só repetia ideias como "papagaio".
– As pessoas dizem que eu fui comprada pra ser direitista, mas eu sou tão gananciosa a ponto de vender a minha alma – comentou, em um de seus vídeos, sobre a mudança de posicionamento político.
Pelo YouTube, Ysani também exibiu a sua visita à casa de Bolsonaro, no Rio, quando perguntou, aos risos, se era verdade que ele iria metralhar todos os povos indígenas. Postou, ainda, a sua "treta" com Manuela D'Ávila, ao escrever em uma postagem da ex-deputada que ela parasse de "falar merda". O histórico inclui gravações sobre outros temas, além da política. Bem-humorada, gravou vídeos sobre as posições sexuais praticadas pelos indígenas e sobre o formato da vagina e do pênis das mulheres e homens desses povos.
Única entidade indígena que se manifestou favorável à ida de Ysani à ONU, o Grupo de Indígenas Agricultores teve uma carta de sua autoria lida pelo presidente na Assembleia Geral. O grupo seria composto por líderes de povos que defendem uma legislação mais branda para as terras indígenas, permitindo a exploração econômica e o uso de sementes transgênicas.
Em contrapartida, 16 povos do Xingu assinaram uma nota de repúdio por considerarem a escolha da indígena uma ofensa. Para esses caciques, ela foi usada para "convencer a comunidade internacional de sua política colonialista e genocida".