O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot voltou aos holofotes na quinta-feira (26) ao explanar plano para matar o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2017, quando ainda ocupava o comando do Ministério Público Federal (MPF). Essa não é a primeira vez que Janot se envolve em polêmica.
Autor de duas das três denúncias contra o ex-presidente Michel Temer em meio ao mandato do emedebista, o procurador coleciona conflitos com Gilmar, frases emblemáticas e embaraços relacionados a investigações.
Náuseas
Dias após apresentar a primeira denúncia contra Temer, Janot afirmou que ficou "chocado" e sentiu "náuseas" ao ouvir pela primeira vez a gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer, feita durante um encontro dos dois no Palácio do Jaburu, em Brasília. O diálogo, em que Temer supostamente dava aval para a compra do silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha, era a peça central das investigações contra o então presidente.
Bambu e flechas
Em julho de 2017, na reta final do mandato na PGR, Janot prometeu continuar no "mesmo ritmo" até a entrega do cargo. Na ocasião, Janot usou uma frase que se tornaria célebre:
— Enquanto houver bambu, lá vai flecha.
A fala ocorreu dias após o procurador apresentar a primeira denúncia contra Temer em meio ao caso da JBS e meses antes de acusar o então chefe do Executivo pela segunda vez.
Na apresentação do balanço de sua gestão na Procuradoria-Geral da República (PGR), em cerimônia interna, Janot recebeu um arco e flecha como presente. O souvenir indígena foi enviado pela tribo Xokó, de Sergipe.
Aliado citado em delação
Em agosto de 2017, delatores da JBS entregam gravação com indícios de que o procurador Marcello Miller, apontado como aliado próximo de Janot, ajudou a elaborar o acordo dos executivos com a PGR. A aproximação entre Miller e os empresários ocorreu pouco antes de ele deixar o MPF e atuar em um escritório de advocacia que negociou o acordo de leniência do grupo JBS. A ligação suspeita gerou desconforto e minou os últimos dias de Janot no comando da PGR.
Brigas com Gilmar
Ao longo de sua gestão, Janot protagonizou momentos de tensão com o ministro Gilmar Mendes.
Em certo momento, Janot chegou a acusar Gilmar de "decrepitude moral" ao rebater críticas do ministro sobre supostos vazamentos a órgãos de imprensa.
Em 2017, o procurador se defendeu em relação aos atritos com Gilmar:
– Eu não brigo com ele, ele é que briga comigo. O ministro Gilmar não briga só comigo, briga com muita gente, e vocês podem constatar que eu não tenho nenhum protagonismo contra ele. O que eu tenho são respostas quando ele se refere a mim.
Na mesma época, Gilmar disse que Janot era o procurador-geral “mais desqualificado da história”. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Gilmar disse que Janot não tem “preparo jurídico nem emocional para dirigir algum órgão dessa importância".
Conversa de bar
Em setembro de 2017, um encontro de Janot com o advogado de Joesley Batista, Pierpaolo Bottini, foi motivo de nova polêmica no âmbito da delação premiada da JBS. Janot e Bottini foram fotografados enquanto conversavam próximos a engradados de cerveja em um bar de Brasília. Na noite anterior, o procurador havia pedido a prisão de Joesley e do executivo Ricardo Saud.
O encontro foi revelado pelo site O Antagonista, que divulgou uma foto de Janot e Bottini dividindo a mesma mesa. O advogado confirmou ter conversado com o procurador-geral. Em nota distribuída à imprensa, ele disse que o encontro ocorreu "casualmente".
CPI
Janot virou um dos alvos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) da JBS, montada em 2017 para apurar, entre outros assuntos, acordo de delação entre executivos da empresa, os irmãos Batista e o MPF. No final daquele ano, o então relator da CPI, Carlos Marun (PMDB-MS), decidiu retirar de seu parecer final os pedidos de indiciamento contra o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e o seu ex-chefe de gabinete, o procurador Eduardo Pelella. Em janeiro de 2018, Janot foi ouvido pela Polícia Federal, na condição de testemunha no inquérito que apura possíveis irregularidades nas negociações do acordo de colaboração.