O vice-presidente Hamilton Mourão falou sobre suas visões de futuro e as expectativas e os planos de governo em uma palestra para autoridades e convidados em Santa Cruz do Sul nesta terça-feira (6). No evento, ocorrido no Hotel Águas Claras Higienópolis, Mourão criticou a pressão internacional sobre a política ambiental do Brasil, argumentando que o país "não é culpado pela situação do meio ambiente mundial".
— Temos que perseguir os interesses brasileiros, e não estrangeiros. Sofremos pressão enorme pela questão do clima, senhoras e senhores. O Brasil não é o culpado pela situação do meio ambiente mundial. Nossa matriz energética é limpa. O resto do mundo queima petróleo e carvão para produzir, nós não fazemos isso. A Amazônia está guardada. Existe essa pressão, e nós temos que combatê-la — afirmou.
Além disso, o general da reserva comentou sobre a questão da mudança climática. Embora não tenha dado por certo se considera as alterações como permanentes, Mourão disse não ser possível duvidar que elas têm ocorrido.
— O clima mudou, ninguém tem dúvida. Não sabemos se essa mudança veio para ficar ou é mais uma daquelas sazonalidades da nossa vida neste planeta Terra. Todos nós lembramos aqui que invernos de 40 anos atrás eram invernos. E já está quente, hoje já está calor. Mudou, não há como negar isso — defendeu.
Nova realidade global
O vice-presidente dedicou grande parte da palestra para analisar a atual situação político-econômica mundial e o papel do Brasil perante esse cenário.
Dentre os problemas citados, Mourão elencou alguns tópicos, como desafios às instituições que nasceram depois da Segunda Guerra Mundial — como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) — a competição pela busca dos mercados e uma enorme volatilidade — geradas pela globalização — e sociedades em permanente estado de alerta, "mesmo em um mundo desenvolvido".
A partir dessas questões, de acordo com o general da reserva, surge a discussão sobre a "crise da democracia liberal". O modelo político, no entanto, é defendido pelo vice-presidente como o meio para encontrar soluções para os atuais flagelos mundiais.
— As pessoas querem solução da noite pro dia (...), o problema tem que ser solucionado por nós. A democracia liberal venceu na Primeira Guerra Mundial o imperialismo, venceu na Segunda Guerra Mundial o nazi-fascismo e venceu o comunismo. E é por meio dela que nós vamos achar soluções para essa gama de problemas que o mundo de hoje vive.
Situação do Brasil
Falando especificamente da situação brasileira, o vice-presidente defendeu que é necessário "transpor um muro", erguido pela "incompetência, má-gestão e corrupção". Novamente, ele defendeu que cabe à sociedade brasileira superar esses problemas.
— Nós temos uma capacidade ilimitada e, com isso, temos plenas condições de superar essa situação que vem sendo vivida — disse. — O Brasil precisa mudar e nós temos um duplo desafio. O desafio de resgatar a gestão econômica, que nos levou a essa recessão e ao grande número de desempregados que vivemos hoje, e temos que nos adaptar a essa nova realidade global.
Citando o "Destino Manifesto Brasileiro" — "fazer do Brasil a maior, a mais vibrante, mais próspera democracia liberal do Hemisfério Sul" —, Mourão também defendeu que o Estado é um peso em cima do empresário brasileiro.
— Precisamos retirar o peso da ineficiência das costas de quem trabalha, investe e produz. O Estado continua a ser um peso em cima do empresário brasileiro e nós temos que tirar esse peso, de modo que esse empresário tenha cada vez mais liberdade para investir, para empreender, para colocar mais gente no mercado de trabalho e como consequência, ter emprego e renda para a nossa população — disse.
Em determinado momento da palestra, Mourão mostrou um quadro contendo os resultados contas públicas brasileiras de 2012 a 2018. Ele também criou um novo lema para rebatizar os períodos de governo de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff: "Gasto é vida". Além disso, parafraseou o escritor Machado de Assis para resumir os governos do PT anteriores:
— Quando alguém tem a vocação da riqueza, mas sem a vocação do trabalho, a resultante desses impulsos é uma só: dívidas.
Além disso, o vice-presidente voltou a defender a necessidade de ser aprovada uma reforma tributária.
— Já está em discussão e a sociedade já entendeu a importância. Temos a proposta do Senado, do governo. Vai começar a ser discutido isso de imediato, acredito que na próxima semana, uma vez que essa semana o senado toque a previdência — contou.
Economia do conhecimento
No âmbito das novas tecnologias, Mourão afirmou que estamos transitando da economia do pós-guerra para a economia do conhecimento. Ele defendeu que o modelo, restrito a alguns nichos do mercado, ainda vai atingir toda a população.
— Profissões irão desaparecer, a indústrias contratará cada vez menos gente porque ela vai se automatizar. A indústria 4.0, 5.0. E pra onde vão migrar essas pessoas? Vão migrar para o setor de serviços. Cada vez mais o setor de serviços, seja saúde, educação, comércio, ele será o grande empregador da população mundial. Temos que estar prontos para isso, não adianta nos enganarmos e achar que o modelo que vivemos vai persistir.
América Latina
Parte da fala de Mourão foi dedicada a analisar a situação da América do Sul. Destacando que o Brasil faz fronteira com outros 10 países, ele defendeu que é necessário que as nações vizinhas ajudem a controlar a fronteira. Além disso, dentre os conflitos existentes na região, o general da reserva apontou a questão do tráfico de drogas como a mais latente.
— O pior flagelo dos últimos 30 anos, ele está na nossa fronteira. Os maiores produtores de cocaína, Colômbia, Peru e Bolívia. E o Paraguai com a maconha. Para onde vai essa droga? Ou ela vem pra cima da nossa juventude aqui dentro do Brasil, ou ela passa pelo Brasil e vai para os grandes mercados externos da Europa e dos Estados Unidos. É dinheiro vivo, é cash, é o maior mercado mundial. É um combate incessante, senhoras e senhores, e se nós não travarmos esse combate contra a cocaína nós vamos perder uma, duas gerações de brasileiros para essa questão — disse.
Já em relação à crise na Venezuela, o vice-presidente afirmou que apenas os cidadãos venezuelanos podem resolver esse problema. A saída, defendeu, é uma união das forças armadas para levar a eleições "livres e honestas".