Diálogos atribuídos a procuradores da força-tarefa da Lava-Jato indicam que o então juiz Sergio Moro tinha dúvidas sobre as provas apresentadas pelo ex-ministro Antonio Palocci em delação premiada. Apesar disso, o magistrado divulgou partes do acordo em outubro do ano passado, uma semana antes do primeiro turno das eleições presidenciais.
As mensagens, obtidas pelo site The Intercept Brasil e publicadas em parceria com o jornal Folha de S.Paulo nesta segunda-feira (29), sugerem que Moro achava a delação relevante por representar uma quebra dos vínculos que uniam o PT desde o início das investigações. "Russo (Moro) comentou que embora seja difícil provar ele (Palocci) é o único que quebrou a omerta petista", teria escrito o procurador Paulo Roberto Galvão a seus colegas em um grupo de mensagens do aplicativo Telegram, em 25 de setembro, associando os petistas à Omertà, o código de honra da máfia italiana.
As provas apresentadas por Palocci também teriam gerado desconfiança em integrantes da Lava-Jato, caso da procuradora Laura Tessler. "Não só é difícil provar, como é impossível extrair algo da delação dele", teria escrito. "O melhor é que (Palocci) fala até daquilo que ele acha que pode ser que talvez seja", diz mensagem atribuída ao procurador Antônio Carlos Welter.
Palloci negociou por quase oito meses para fechar acordo com a Procuradoria-Geral da República e a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba. As mensagens sugerem que as negociações foram encerradas porque os procuradores achavam que a delação acrescentava pouco ao que os investigadores já sabiam e não incluía provas capazes de sustentar os depoimentos que tinham novidades.
O ex-ministro fechou, então, delação com a Polícia Federal em março do ano passado — acordo que foi homologado três meses depois pelo relator da Lava-Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), João Pedro Gebran Neto. Parte do sigilo do material foi quebrado por Moro em 1º de outubro de 2018.
No material divulgado, Palocci afirma que as campanhas da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2010 e 2014, receberam dinheiro de caixa 2 e que, somadas, haviam custado R$ 1,4 bilhão — o triplo do declarado. Ainda segundo o ex-ministro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Siva teria autorizado o loteamento da Petrobras por partidos políticos e que ele sabia do recolhimento de propina das empreiteiras que tinha negócios com a estatal.