Na primeira manifestação pública depois que seu nome apareceu nos vazamentos de conversas divulgadas pelo site The Intercept Brasil, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse em rede social na noite deste sábado (22) que o ministro Sergio Moro "se saiu bem" no depoimento no Senado sobre o assunto.
FHC não fez comentários sobre as menções ao seu nome no caso que vieram à tona na terça-feira (18). Segundo mensagens publicadas pelo Intercept, Moro se posicionou contra investigações sobre o ex-presidente na Lava-Jato por temer que elas afetassem "alguém cujo apoio é importante".
O ex-juiz e hoje ministro da Justiça teria escrito, na época em que ainda atuava na operação, que uma apuração envolvendo o tucano poderia "melindrá-lo" e seria, portanto, "questionável".
"Vi pela TV o debate entre Moro e deputados", afirmou FHC no Twitter, referindo-se provavelmente ao depoimento que o ministro da Justiça prestou, na verdade, a senadores. Ele foi ao Congresso na quarta (19) explicar a suposta troca de mensagens com membros do Ministério Público Federal (MPF) que atuavam na força-tarefa.
"O ministro se saiu bem", prosseguiu o ex-presidente. "Havia mais vontade de destruir e abalar a Lava-Jato que de compreender. De todo modo, com ele (o debate) ganha a democracia. É sempre bom ver autoridades tendo que explicar suas ações", concluiu.
Foi o primeiro tuíte de Fernando Henrique desde o sábado anterior (15), quando ele havia postado um texto que fazia alusão ao vazamento das conversas e continha críticas ao governo Jair Bolsonaro (PSL). "A troca de mensagens da Lava-Jato continua. Idem a de cadeiras no governo. Por enquanto sem relação. Está difícil acertar o rumo", afirmou na ocasião.
Sobre as informações divulgadas pelo Intercept, FHC só se manifestou na própria quarta, por meio da assessoria de imprensa de sua fundação (antigo Instituto FHC).
A entidade afirmou que a investigação em questão foi arquivada. Disse ainda que o ex-presidente desconhece inquéritos ou suspeitas relacionadas a seu governo ligadas à delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, relatadas na reportagem do site, assim como menções a seu filho Paulo Henrique na Lava-Jato.
O site publicou a transcrição de uma conversa atribuídas a procuradores da Lava-Jato sobre citação a negócios da empresa de Paulo Henrique. O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa no MPF, disse em mensagens privadas que uma investigação a respeito daria "mais argumentos pela imparcialidade" da operação.
No depoimento no Senado, Moro falou ao longo de quase nove horas a membros da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Ele disse estar tranquilo em relação ao conteúdo que veio a público e admitiu a possibilidade de deixar o posto no governo caso sejam apontadas irregularidades em sua conduta.
— Eu não tenho nenhum apego pelo cargo em si. Apresente tudo. Vamos submeter isso, então, ao escrutínio público. E, se houver ali irregularidade da minha parte, eu saio. Mas não houve. Por quê? Porque eu sempre agi com base na lei e de maneira imparcial — disse o ex-magistrado aos parlamentares.