Supostos diálogos envolvendo procuradores da Lava-Jato sugerem que a força-tarefa cogitou investigar ao mesmo tempo os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva para "passar recado de imparcialidade". Divulgadas na noite de terça-feira (18) pelo The Intercept Brasil, as mensagens indicam que os procuradores estavam preocupados com as críticas de que a operação seria partidária.
Em um suposto grupo do Telegram chamado FT MPF Curitiba 2, os procuradores discutiram sobre a possibilidade de investigar simultaneamente doações da Odebrecht a FHC e Lula. Diante de documentos compartilhados pelo procurador Roberson Pozzobon, chegam a demonstrar entusiasmo.
"Sensacional esse e-mail", teria enviado a procuradora Laura Tessler.
Um dos documentos mostraria uma troca de e-mails, em 2014, entre uma secretária de FHC, um representante da Associação Petroquímica e Química da Argentina (Apla) e um empresário do ramo cultural, Pedro Longhi. Na conversa, a mensagem atribuída à secretária pede para que o destinatário verifique com a Braskem — empresa do ramo petroquímico controlada pela Odebrecht — "qual a melhor maneira para (a empresa) fazer a doação" à Fundação FHC.
Em outra imagem, aparecem dados do que seria um laudo feito naquele ano pela Polícia Federal indicando pagamentos de R$ 975 mil feitos pela Odebrecht para a entidade do tucano, entre 2011 e de 2012. Depois de enviar os documentos, Pozzobon teria proposto aprofundar as investigações sobre as doações, que, se fossem caixa 2, não seriam crimes prescritos.
"Porra bomba isso", teria respondido o procurador Paulo Galvão.
Em seguida, Pozzobon teria perguntado aos colegas:
"O que acha da ideia do PIC (Procedimento de Investigação Criminal)? Vai ser massa!"
"Acho excelente sim Robinho", responde Galvão.
"Legal! Se os demais também estiverem de acordo, faço a portaria amanhã cedo. Acho que vale até uma BA (busca e apreensão) na secretaria da iFHC (Fundação Fernando Henrique Cardoso) que mandou o e-mail. Ela é secretária da Presidência!", complementa Pozzobon. "Mais, talvez pudéssemos cumprir BA nos três concomitantemente: Lils (empresa que agencia as palestras de Lula), Instituto Lula e iFHC", emenda o procurador.
Segundo o Intercept, os procuradores teriam perdido o ânimo ao perceberem que os argumentos da defesa de FHC, de que os pagamentos não escondiam propinas, também poderiam ser usados pelos advogados de Lula.
"Mas será que não será argumento pra defesa da Lils dizendo que é a prova que não era corrupção?", questionou Diogo Castor de Mattos, à época, procurador da Lava-Jato.
"Pensei nisso também. Temos que ter um bom indício de corrupção do FHC/PSDB antes", respondeu Pozzobon.
Em 2017, investigações indicaram que Lula teria recebido, por meio da empresa Lils Palestras, Eventos e Publicações, R$ 27 milhões em quatro anos. Investigado pelas operações Lava-Jato, Zelotes e Janus, o petista afirmou, na época, não possuir os R$ 24 milhões que a Procuradoria da República pediu que fossem bloqueados.
Ao Intercept, a Fundação FHC disse que os valores recebidos foram regularmente contabilizados e que “não tem conhecimento de qualquer investigação ou denúncia do Ministério Público Federal" baseadas em doações da Odebrecht.