Em uma conversa de novembro de 2015 em um chat intitulado PF-MPF Lava Jato 2, o procurador Deltan Dallagnol afirmou que "jornalista que vaza não comete crime", disse neste sábado (22) o site The Intercept Brasil em sua newsletter. Ao discutir medidas para coibir vazamentos de informação da força-tarefa da Lava-Jato na época, Dallagnol teria defendido que utilizar poder processual para investigar jornalistas que tenham publicado conteúdo de vazamentos seria "praticamente impossível".
Desde o dia 9 de abril, o Intercept tem divulgado conversas privadas de Dallagnol com o então juiz Sergio Moro (atual Ministro da Justiça e Segurança Pública) e conversas entre procuradores da Lava-Jato no aplicativo Telegram. O site mantém a política de não comentar a fonte do vazamento.
O Ministério Público Federal (MPF) condenou o vazamento como uma "ação criminosa de um hacker que praticou os mais graves ataques à atividade do Ministério Público Federal". Segundo o órgão, um hacker teria "sequestrado" identidades, "se passando por procuradores e jornalistas em conversas com terceiros no propósito rasteiro de obter a confiança de seus interlocutores e assim conseguir mais informações". Na nota, divulgada em 10 de junho, o MPF afirmou que investiga o vazamento das conversas.
Ainda em sua newsletter deste sábado, o Intercept divulgou uma declaração atribuída a Dallagnol de maio de 2018 em um chat no aplicativo Telegram por ocasião de um manifesto pela liberdade de expressão redigido e publicado por ele e sua equipe. O contexto era a defesa de um procurador ameaçado de punição depois de ter realizado críticas à Justiça Eleitoral. "Autoridades Públicas estão sujeitas a críticas e tem uma esfera de privacidade menor do que o cidadão que não é pessoa pública", escreveu Dallagnol no chat Liberdade de expressão CF.
Desde o início da publicação dos vazamentos, os diálogos atribuídos a Sergio Moro e Deltan Dallagnol tem sido motivo de debate. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu o afastamento temporário dos citados nas reportagens, entre eles Moro e Dallagnol. Em nota do dia 10 de abril, a entidade afirma que "a íntegra dos documentos deve ser analisada para que, somente após o devido processo legal — com todo o plexo de direitos fundamentais que lhe é inerente —, seja formado juízo definitivo de valor".