Um novo trecho de conversa atribuída a integrantes da Operação Lava-Jato no Ministério Público Federal (MPF), em Curitiba, veio à tona nesta quinta-feira (20). A suposta troca de mensagens indica que uma crítica do então juiz e hoje ministro Sergio Moro foi debatida pelos procuradores na hora de escalar a equipe para audiência com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O novo vazamento reforça a percepção, gerada por diálogos anteriores, de que haveria orientação de Moro ao MPF.
A divulgação do material foi feita pelo jornalista Reinaldo Azevedo, em seu blog e no programa O É da Coisa, da BandNews FM, em parceria com o site The Intercept Brasil. Na primeira série de reportagens publicada pelo Intercept sobre o tema, em 9 de junho, o site revelou suposto diálogo em que Moro teria reclamado ao procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava-Jato no MPF, do desempenho da procuradora Laura Tessler. A conversa teria ocorrido em 13 de março de 2017:
Moro — 12:32:39 — Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem.
Dallagnol — 12:42:34 — Ok, manterei sim, obrigado!
Nesta quinta-feira, Azevedo publicou a continuação da suposta troca de mensagens, a partir de um segundo diálogo, atribuído a Dallagnol e ao procurador Carlos Fernando Lima. A conversa teria ocorrido 17 minutos depois:
Dallagnol — 12:42:34 — Recebeu a msg do moro sobre a audiência tb?
Lima — 13:09:44 — Não. O que ele disse?
Dallagnol — 13:11:42 — Não comenta com ninguém e me assegura que teu telegram não tá aberto aí no computador e que outras pessoas não estão vendo por aí, que falo
Dallagnol — 13:12:28 — (Vc vai entender por que estou pedindo isso)
Lima — 13:13:31 — Ele está só para mim.
Lima — 13:14:06 — Depois, apagamos o conteúdo.
Dallagnol então cola a mensagem que teria sido enviada por Moro pouco antes, reclamando da procuradora. O colega teria respondido.
Lima — 13:17:03 — Vou apagar, ok?
Dallagnol — 13:17:07 — apaga sim
Lima — 13:17:26 — Apagado.
Dallagnol — 13:17:26 — Vamos ver como está a escala e talvez sugerir que vão 2, e fazer uma reunião sobre estratégia de inquirição, sem mencionar ela.
Lima — 13:18:11 — Por isso tinha sugerido que Júlio ou Robinho fossem também. No do Lula não podemos deixar acontecer.
Lima — 13:18:32 — Apaguei.
Dois meses depois, em 10 de maio de 2017, o ex-presidente Lula deporia pela primeira vez em Curitiba, diante de Moro. Entre os procuradores, Laura Tessler não estava presente. Coube a Júlio Noronha e a Roberson Pozzobon representar o MPF.
Em audiência no Senado, na quarta-feira (19), Moro foi questionado sobre a possível interferência na troca de procuradores. Na ocasião, o ministro da Justiça respondeu que, "pelo teor das mensagens, se forem autênticas, não tem nada de anormal nessas comunicações". Moro disse ainda que "em nenhum momento no texto, há alguma solicitação de substituição daquela pessoa (Laura), tanto que essa pessoa continua e continuou realizando audiências e atos processuais, até hoje, dentro da Lava-Jato".
Em resposta a Reinaldo Azevedo, o Ministério da Justiça enviou a seguinte nota:
"Sobre suposta mensagem atribuída ao ministro da Justiça esclarece-se que não se reconhece a autenticidade, pois pode ter sido editada ou adulterada pelo grupo criminoso, que mesmo se autêntica nada tem de ilícita ou antiética. A suposta mensagem já havia sido divulgada semana passada, nada havendo de novo."