O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, classificou como "conversa privada" e minimizou a troca de mensagens atribuídas ao ministro da Justiça e Segurança, Sergio Moro, e ao procurador do Ministério Público Federal (MPF) Deltan Dallagnol.
Material obtido e divulgado pelo site Intercept Brasil no domingo (9) mostra troca de colaborações entre eles quando Moro era juiz e atuava na Operação Lava-Jato.
— Conversa privada é conversa privada, né? E, descontextualizada, ela traz qualquer número de ilações. Então o ministro Moro é um cara da mais ilibada confiança do presidente, é uma pessoa que, dentro do país, tem um respeito por parte enorme da população, haja vista aí as pesquisas de opinião que dão a popularidade dele — afirmou Mourão, ao deixar o Palácio do Planalto nesta segunda-feira (10).
Segundo Mourão, conversas privadas acabam sendo "pinçadas" e tiradas de contexto:
— Toda vez que você pega uma conversa privada, eu pinço aqui, acolá, fora de um contexto.
Questionado sobre o fato de conversas privadas terem sido usadas por investigadores na Lava-Jato, Mourão respondeu apenas que "é diferente". O vice-presidente disse ainda "não ver nada de mais" no caso e descartou a possibilidade de a troca de mensagens entre o então juiz e o procurador interferirem na Lava-Jato.
— Em relação aos processos ocorridos na Lava-Jato, todos eles passaram por primeira, segunda e outros já chegaram na terceira instância. Então, eu não vejo nada demais nisso aí tudo. — afirmou.
Mourão disse não ter tratado sobre o assunto com o presidente Jair Bolsonaro, com quem se reuniu na manhã desta segunda, num encontro que não estava previsto nas agendas públicas.
— De vez em quando o presidente quer ter um tempo só para os dois (presidente e vice) conversarem. Não tocamos nesse assunto, tocamos em outras histórias — disse.
O general disse ter "visto por alto" a troca de mensagens atribuídas a Moro em uma emissora de televisão na manhã desta segunda.
Repercussão
O site The Intercept Brasil divulgou no domingo (9) uma troca de mensagens atribuídas a Moro e a Dallagnol em que eles aparecem compartilhando colaborações quando integravam a força-tarefa da Operação Lava-Jato.
Após a publicação das reportagens, a equipe de procuradores da operação divulgou nota chamando a revelação de mensagens de "ataque criminoso à Lava-Jato" e disse que o caso põe em risco a segurança de seus integrantes. Também em nota, Moro negou que haja no material revelado "qualquer anormalidade ou direcionamento" da sua atuação como juiz.
Para o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, a troca de colaborações entre Moro e Dallagnol põe em xeque a equidistância da Justiça.
— Apenas coloca em dúvida, principalmente ao olhar do leigo, a equidistância do órgão julgador, que tem ser absoluta. Agora, as consequências, eu não sei. Temos que aguardar — afirmou o magistrado.