O Movimento Brasil Livre (MBL) divulgou neste domingo (23) áudio em que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, pede desculpas aos seus integrantes por mensagem trocada com integrantes da Operação Lava- Jato em março de 2016, na qual os chama de tontos.
— Se de fato usei o termo, peço escusas, mas saibam que têm todo o meu respeito e sempre terão — declarou Moro, segundo a gravação publicada no Youtube pelo deputado estadual Arthur Mamãe Falei (DEM-SP), do MBL.
Procurada pela Folha de S.Paulo, a assessoria do ministro informou não ter conhecimento do áudio.
O diálogo em que Moro critica o movimento consta em reportagem da Folha e do site The Intercept Brasil neste domingo.
Nele, Moro pede ao coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, que encontre uma forma de conter o MBL, que havia armado protesto em frente ao apartamento do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, morto no ano seguinte.
O temor era de que isso melindrasse as relações do então juiz com o ministro, que poderia retirar da 13ª Vara de Curitiba parte dos processos em curso para que eles passassem a tramitar no Supremo.
"Nao.sei se vcs tem algum contato mas alguns tontos daquele movimento brasil livre foram fazer protesto na frente do condominio.do ministro", digitou o então magistrado no Telegram. "Isso nao ajuda evidentemente."
No áudio deste domingo, Moro reitera que, em seu entendimento, as mensagens foram obtidas de maneira criminosa e podem ter sido adulteradas.
— Nem sei se são verdadeiras. Saí do Telegram em 2017.
Ele justifica que o momento era tenso em função da divulgação, autorizada por ele próprio, de escutas de conversas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então presidente Dilma Rousseff.
— Aquilo lá eu fiz com convicção na absoluta correção, mas gerou toda uma pressão e foi um período complicado. Achei que esse protesto na época era um tanto quanto inconveniente —argumentou o ministro. — O ministro Teori Zavascki era boa gente, uma pessoa séria e a realização daquele protesto poderia gerar uma animosidade do Supremo contra a 13ª Vara.
Moro sustenta não saber se usou mesmo termo "tonto".
— Acredito que não, pode ter sido adulterado, mas queria dizer assim, pedir minhas escusas se eu eventualmente utilizei. Sempre respeitei o MBL e sempre agradeci o apoio que este movimento deu não só à Lava Jato mas a esse movimento, nos últimos cinco anos, de avanço contra a corrupção e construção de um país melhor — declarou.
A reportagem publicada pela Folha e pelo Intercept neste domingo foi produzida a partir de mensagens privadas enviadas por uma fonte anônima ao The Intercept Brasil e analisadas em conjunto pelo jornal e pelo site.
A suposta conversa mostra como os procuradores da Lava-Jato teriam se articulado para proteger Moro e evitar que tensões entre ele e o Supremo paralisassem as investigações em março de 2016.