Conhecido pelas frases polêmicas, o guru do presidente Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho, disse, nesta terça-feira (9), em Porto Alegre, que as Forças Armadas foram as responsáveis pela ascensão da esquerda brasileira e que os generais, agora, estão "dando palpite e fazendo besteira" — em um claro recado à ala militar do governo. O filósofo falou direto dos Estados Unidos, em videoconferência, para o público do 32º Fórum da Liberdade, organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE), no Centro de Eventos da PUCRS.
Antes de começar a palestra, Carvalho arrancou risos da plateia, formada principalmente por jovens empresários, ao acender um cachimbo — cena transmitida ao vivo, em dois telões, que também mostraram sua biblioteca e um cachorro circulando ao fundo. Entre goles de água e o que parecia ser uísque, ele começou falando por cerca de 15 minutos, basicamente sobre a ditadura militar. Foi aplaudido inúmeras vezes.
Segundo o escritor, "os militares jamais foram os monstros como a esquerda pintou", mas também não foram os "libertadores do país, como gostam de dizer".
— Ao contrário: vocês, militares, entregaram o país à esquerda, e a esquerda dominou o país por 35 anos, humilhando vocês — disse, criticando a doutrina positivista (corrente surgida no século 19 que defende o conhecimento científico como única forma de saber verdadeiro).
Para Carvalho, o "positivismo abriu as portas ao comunismo":
— Onde o positivismo conseguiu se impor, logo em seguida deu lugar ao comunismo. Abriu as portas ao comunismo. Dizem que o autor do positivismo, Auguste Comte, morreu louco. Eu acho que viveu louco. E foi o positivismo que dominou nossos militares. Com esses libertadores, onde íamos parar? Eles não libertaram o país coisa nenhuma. Nós nada devemos aos militares sob esse aspecto. Sob o aspecto econômico, sim, eles fizeram coisas muito importantes. Mas, politicamente, destruíram a possibilidade de uma política eficaz de direita e abriram as portas ao domínio tucano-petista.
À vontade diante da câmera e da plateia, que não esboçou qualquer reação negativa, Carvalho disse que "cada um tem de reconhecer seus erros":
— Não estou falando de um ou de outro oficial. Estou falando isso para todas as Forças Armadas. Nunca vi, dentro das Forças Armadas, ações para reduzir os efeitos do positivismo. É uma ideologia danosa. O positivismo é o pai do comunismo. Tapa a boca da direita, dos conservadores, dos cristãos, e aí abre espaço para o monopólio da esquerda.
Quando a palestra foi aberta a perguntas, ele disse que "as universidades estão tomadas de imbecis" e voltou a atacar o Exército — não é de hoje, aliás, que olavistas e militares medem forças nos bastidores do governo Bolsonaro.
— Partimos da figura do imbecil coletivo (uma referência a um de seus livros) para a coletividade imbecilizada. As universidades estão tomadas de imbecis. É gente de uma inépcia, de uma ignorância indescritível. Agora também apareceram os generais dando palpite e fazendo besteira. A direita no Brasil está se formando agora. Direitistas são, em primeiro lugar, anticomunistas. Os anos 70 e 80 foram a época de maior sucesso da indústria do livro comunista no Brasil. E quanto havia de literatura anticomunista nas livrarias? Nada. A esquerda tinha espaço aberto. Isso foram os governos militares que fizeram — concluiu.
Na opinião de Carvalho, os militares deveriam "pedir desculpas" ao Brasil por terem aberto as portas ao "tucano-petismo".
— Esses generais abriram as portas do Brasil ao tucano-petismo e nunca se arrependeram, nunca pediram desculpas. Agora vamos esperar que os generais nos salvem de novo? Eles não vão salvar. Somos nós que temos de fazer isso. Contra o comunismo não adianta positivismo, só anticomunismo — afirmou.
Ao longo do encontro, que durou cerca de uma hora, Carvalho ainda atacou a mídia, afirmando que ele e Bolsonaro "furaram o bloqueio" e brincou sobre o fato de que a única coisa que seus críticos podem fazer é "xingar".
— Agora eles vêm com essa: "ah, o Olavo de Carvalho comeu três mulheres na década de 70". É isso que fazem — disse, às gargalhadas, provocando risos entre os interlocutores.
Ao final do evento, o filósofo foi novamente aplaudido e, antes de encerrar a transmissão de vídeo, mandou beijos para os espectadores.