O ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Sergio Moro, teve divulgada na madrugada desta quarta-feira (10) entrevista concedida ao programa Conversa com Bial. No encontro, Moro fez um balanço do seu trabalho nos cem primeiros dias como ministro na equipe da atual presidência do Brasil e comentou episódios polêmicos de sua carreira como juiz federal.
A conversa foi originalmente gravada na última sexta-feira (5), mas, no começo do programa, houve uma atualização: o ministro comentou, por videoconferência, o episódio ocorrido no domingo (7), no Rio de Janeiro, em que militares do Exército dispararam 80 tiros contra o automóvel de uma família, matando o músico Evaldo do Santos Rosa.
Ressaltando o caráter trágico do incidente, ele citou a necessidade de apuração do caso e salientou o fato de o Exército ter agido para "tomar providências cabíveis". Ao ser questionado por Pedro Bial se a atitude dos militares poderia ser enquadrada na situação de "escusável medo, surpresa ou violenta emoção" a que se refere o pacote anticrime apresentado pelo ministro ao Congresso (situação em que os policiais não seriam passíveis de punição), Moro afirmou que o episódio não teria qualquer relação com o que se coloca no projeto.
— Pelo que eu entendi no episódio, e mais uma vez destacando que ele está em apuração pelo Exército, aparentemente não teria havido sequer uma situação de legítima defesa — afirmou o juiz.
Sobre os primeiros meses de atuação como ministro, Moro destacou a necessidade de diálogo com as diversas esferas políticas, como parlamentares, congressistas e senadores.
— É necessário muito diálogo, conversação e convencimento — disse o ministro.
Questionado sobre sua relação com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, após envio de mensagens envolvendo a apresentação do pacote anticrime ao Congresso, Moro afirmou que ambos levantaram "a bandeira da paz". Para o ministro, rusgas pontuais na política podem acontecer, e o episódio foi superdimensionado.
Momento infeliz
Em relação às dificuldades enfrentadas até então no governo, Moro apontou a revogação da nomeação de Ilona Szabó como um dos momentos mais infelizes. Em fevereiro, a cientista política e diretora do Instituto Igarapé foi convidada por Moro para integrar o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Devido à repercussão negativa nas redes sociais por parte do eleitorado do presidente Jair Bolsonaro, Ilona foi exonerada do cargo um dia após a nomeação ser publicada no Diário Oficial.
— O presidente pediu que eu revisse porque estava gerando ataque do eleitorado específico dele — disse Moro ao explicitar que entendia a solicitação de Bolsonaro. — Quem saiu mais prejudicado fui eu — completou.
Na entrevista, Moro comentou ainda momentos polêmicos de sua atuação como juiz. Sobre o episódio de condução coercitiva do ex-presidente Lula, o ministro justificou que, na ocasião, havia indícios de que poderiam ocorrer movimentos de resistência de manifestantes que atrapalhariam operações de busca e apreensão para coleta de provas sobre o caso. Por isso, sustentou, "a decisão foi correta".
Sobre a divulgação de áudios entre a ex-presidente Dilma e Lula, posteriormente anulada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, Moro respondeu com outra pergunta:
— Vamos voltar a falar dos projetos do ministério?
O juiz declarou que "fez o que achava que era certo" e que a decisão tomada foi correta:
— O problema não era a captação do diálogo e a divulgação, o problema era o conteúdo do diálogo.