Na tentativa de fazer uma contraposição ao presidente Jair Bolsonaro, que deve atuar como um cabo eleitoral nas próximas disputas municipais, siglas de esquerda e centro-esquerda querem formar uma frente de oposição, em um ensaio para uma coalizão partidária em 2020.
Após terem se dividido na eleição presidencial, partidos como PT, PDT e PSOL tentam abandonar divergências programáticas e adotar uma postura pragmática no esforço de fazer frente ao governo. Nas últimas semanas, dirigentes das legendas têm debatido uma linha única de atuação legislativa em oposição à reforma da Previdência. A estratégia é reproduzir para outras propostas governistas, criando condições para uma aliança eleitoral no ano que vem.
Para dirigentes dos partidos, a discussão ainda é prematura. Reconhecem, no entanto, que uma união na disputa municipal seria uma consequência natural caso a aliança legislativa seja exitosa e fortaleça o campo da oposição.
— Se a gente conseguir criar uma unidade programática, é uma consequência natural, no futuro, discutir alianças municipais. O que está em jogo é o Brasil. Ou a gente tem juízo e estabelece prioridades ou seremos vencidos — disse Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, partido de Ciro Gomes.
Eleições municipais para "recuperar o protagonismo"
A avaliação feita por líderes das legendas, em caráter reservado, é de que não se pode desperdiçar a oportunidade de aproveitar as eleições municipais para tentar recuperar o protagonismo da esquerda e barrar o avanço da direita no país, sobretudo do PSL, partido do presidente.
A sigla de Jair Bolsonaro tem a maior bancada da Câmara, empatada com o PT. A direção do partido discute aproveitar o impulso eleitoral do ano passado para lançar candidatos em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte.
— É uma oportunidade de a oposição apresentar um projeto alternativo — disse o presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros. Segundo ele, é preciso respeitar a autonomia de cada partido, mas "colocar o interesse do povo brasileiro em primeiro lugar".
A proposta de formar uma frente legislativa nasceu após PT, PSB e PSOL terem conseguido chegar a um consenso e formar um bloco único para a disputa à sucessão da Câmara dos Deputados. Na discussão da reforma previdenciária, eles conseguiram atrair PDT e PC do B e fecharam questão contra a proposta.
No mês passado, integrantes dos cinco partidos se reuniram para esboçar uma estratégia de reação à mudança nas aposentadorias, que inclui a atração de apoios em siglas de centro e a criação de um "movimento cívico nacional" em oposição ao projeto.
— Antes de 2020, temos que pensar em derrotar o Bolsonaro agora, senão não terá 2020 —afirmou o secretário de assuntos institucionais do PT, José Guimarães.
— O esforço é de unir a oposição em torno de algumas bandeiras, como a luta pela democracia e os direitos do povo — acrescentou.
"Eleição só em ano de eleição"
A possibilidade de formar uma frente eleitoral, no entanto, pode esbarrar em ambições partidárias das siglas, que já começaram a articular candidaturas próprias para a disputa do ano que vem.
No Rio de Janeiro, por exemplo, o PSOL defende o lançamento do deputado federal Marcelo Freixo, que ficou em segundo lugar na disputa municipal de 2016.
O PDT, por sua vez, considera o nome da deputada estadual Martha Rocha, que sofreu ataque a tiros neste ano, e o PSB lançar o deputado federal Alessandro Molon.
Em São Paulo, o PT avalia os nomes dos ex-ministros Alexandre Padilha e Aloizio Mercadante, enquanto o PSB prega o do ex-governador Márcio França e o PDT discute o da deputada federal Tabata Amaral.
— Nós temos de estar juntos quando há risco de retirada de direitos e de precarização de trabalho. Eleição só se discute em ano de eleição — disse o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.