Na cerimônia de cem dias do que chama de "ministério improvável" da Mulher, Família e Direitos Humanos, nesta sexta-feira (12), a titular da pasta, Damares Alves, parodiou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), galanteou o mestre de cerimônias e declarou amor a Paulo Guedes, da Economia, em indireta por mais recursos.
Ao falar das três metas entregues ao governo Jair Bolsonaro na véspera, Damares mencionou a dificuldade de selecioná-las — os objetivos estipulados pela pasta foram aprovar o ensino domiciliar (home schooling), regulamentar artigos da Lei Brasileira de Inclusão (LBI) e alavancar a campanha nacional de prevenção ao suicídio e à automutilação.
— Tínhamos milhares de metas para colocar. No dia em que a gente decidiu isso, a reunião foi tensa, porque todo mundo aqui tinha metas — afirmou Damares. — Mas a gente só tinha de apresentar duas. Com muita insistência, apresentamos três para o governo federal. E a gente cumpriu. A gente bateu a meta, nós vamos dobrar a meta — prosseguiu, baixando o volume da voz.
A plateia, formada majoritariamente por servidores, foi às gargalhadas e a aplaudiu.
— Eu não disse isso! Eu não disse isso! — reagiu a ministra.
Em julho de 2015, a então presidente Dilma ia anunciar 15 mil novas vagas no Pronatec Aprendiz e acabou se enrolando para explicar o aumento tímido no programa, que era uma de suas principais bandeiras.
— Não vamos colocar meta. Vamos deixar a meta aberta, mas, quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta — afirmou.
A declaração viralizou e se tornou um dos muitos memes sobre a petista.
Servidores do ministério também
falam em multiplicar a meta
Em longa apresentação no Ministério da Mulher, outros servidores entraram na brincadeira.
— Ministra, a senhora falou em dobrar a meta — afirmou o secretário adjunto Alexandre Magno, ao falar da LBI. — A gente gostaria de multiplicar a meta por 10 ou 20, mais ou menos — afirmou.
Toninho Costa, da secretaria de direitos da pessoa idosa, apresentou o Programa Viver.
— Quero dizer para a senhora que, através da criatividade, nós não vamos dobrar esse programa. Nós vamos colocar seis vezes mais — prometeu.
No início do evento, Damares interrompeu o mestre de cerimônias para fazer comentários, atitude que repetiria ao longo de mais de três horas.
— Continue, senhor cerimonial. É lindo meu cerimonial. Eu posso chamar o homem de lindo, sim, viu, gente! — disse a ministra.
O homem, servidor de seu gabinete, deu uma tosse tímida.
— Tu não é casado com nenhuma celebridade, não, né? — ela questionou.
Nesta semana, na Câmara, ela elogiou o deputado Túlio Gadêlha (PDT-PE), namorado da apresentadora Fátima Bernardes.
No final do evento, Damares voltou ao assunto.
— Eu vou encerrar, tá, cerimonial lindo? Vai sair na imprensa que eu estou paquerando o cerimonial lindo — disse.
O servidor, desta vez, se pronunciou.
— Ministra, jamais responderia um elogio da senhora como...
Damares o interrompeu.
— Como aquele outro respondeu! — emendou ela, entusiasmada.
Depois de ser chamado de lindo, Gadêlha foi às redes sociais criticar a apresentação da ministra na Comissão de Direitos Humanos e Minorias na Câmara e arrematou:
— Diga a ela que pode tirar o Jesus da goiabeira que não vai rolar milagre, não.
Em palestras, Damares contou que, ao pensar em suicídio, subiu em um pé de goiaba e desistiu ao ver a imagem de Jesus.
"Temos um grupo de ministros
no WhatsApp, isso é tão chique"
Na cerimônia desta sexta, a ministra também se dirigiu ao colega Paulo Guedes ao observar que o Ministério da Mulher tem orçamento reduzido.
— Temos um grupo de ministros no WhatsApp, isso é tão chique — contou. — Todo dia eu mando assim para o Paulo Guedes. Paulo Guedes, eu te amo. Ministro Paulo Guedes, pergunta se eu não falo assim, o senhor é meu ministro predileto. Ministro Paulo Guedes, vem tomar café comigo. Ele já entendeu por que eu amo ele — afirmou.
No evento, Damares disse que vai pedir que o projeto de lei de ensino domiciliar tramite em caráter de urgência no Congresso e se comprometeu com a regulamentação total da LBI.
— Essa lei demorou 14 anos para ser aprovada no Congresso Nacional. Está aprovada desde 2015, estamos em 2019 e ela não foi regulamentada. Vou dizer pra vocês um artigo que está dando trabalho. A definição do que é pessoa com deficiência. Vocês não têm ideia. É inconcebível! — comentou.
Ela afirmou que trata da inclusão de pessoas com deficiência no governo e com o Congresso Nacional.
— Ó, o recado que eu vou mandar. Os deputados lá têm o direito de escolher 24 assessores. Vamos pedir para os deputados darem exemplo. Eles vão ter de ter a cota de pessoas com deficiência no gabinete deles também — disse, sob aplausos.