Depois de se despedir do neto Arthur, vítima de meningite meningocócica, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornou às 15h40min deste sábado (2) à sede da Polícia Federal em Curitiba, onde foi recepcionado com uma faixa de cerca de 10 metros de comprimento estendida na vizinhança por apoiadores. Nela, era possível ler de longe, em letras garrafais, a mensagem “Arthur vive”.
A saída do petista da superintendência da PF durou cerca de nove horas, transcorreu sem incidentes e marcou, de forma trágica, a volta de Lula ao seu berço político - São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, onde foi realizado o funeral e onde ele iniciou a vida pública, como líder sindical, na década de 1970.
Abatido, ele reencontrou familiares, companheiros de sigla e amigos, entre eles a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-ministro Fernando Haddad, no velório do corpo de Arthur, morto na última sexta-feira. Só deixou o Cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo, após a cerimônia de cremação, iniciada por volta do meio-dia.
Blindado pela escolta da Polícia Federal, foi acompanhado à distância pela imprensa. A militância não promoveu manifestações ou atos públicos, mas muitos apoiadores foram até o crematório demonstrar solidariedade. Ele retribuiu com acenos.
O périplo do ex-presidente teve início às 7h, quando, sob um grito solitário de "força Lula", ele deixou as dependências da PF na capital paranaense, onde cumpre pena desde abril de 2018, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Embarcou em um helicóptero ao lado de policiais federais, sem algemas e vestindo terno preto e camisa social azul. Fez uma primeira parada no aeroporto de Bacacheri, nas proximidades, de onde partiu para Congonhas, na capital paulista, a bordo de um avião cedido pelo governo do Paraná. De lá, tomou outro helicóptero para São Bernardo, cidade onde, em abril de 2018, se entregou à PF.
A liberação provisória foi autorizada pela Justiça, com base no Código de Execução Penal. Tanto a PF quanto o Ministério Público Federal chancelaram a medida. Há cerca de um mês, Lula já havia pedido permissão para acompanhar o funeral do irmão, mas não conseguiu participar. Houve controvérsia. Dessa vez, a decisão favorável foi imediata.
O preso recebeu a notícia do falecimento do neto na tarde de sexta-feira, por meio de Sandro Lula da Silva, seu filho e pai de Arthur. Chorou muito, segundo interlocutores. Ele tinha uma foto do menino consigo. Os dois eram bastante ligados - Arthur, que nasceu quando Lula lutava contra um câncer, chegou a visitar o avô duas vezes na prisão.
Neste sábado, o sentimento era de tristeza na Vigília Lula Livre, montada em frente à PF. Um grupo de militantes decidiu pintar a faixa em homenagem a Arthur na tentativa de fazer com que o fundador do PT visse a homenagem do alto, em seu retorno.
Ninguém merece passar por isso que ele está passando. É muito triste – disse um homem, usando boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).