Apoiado por 12 partidos e cerca de 40 deputados, o governador Eduardo Leite começa a destravar as nomeações do segundo escalão para reverter descontentamentos na base de sustentação do Piratini na Assembleia Legislativa. As reclamações se acentuaram nos últimos dias, em especial no PTB, aliado de primeira hora da campanha eleitoral passada.
A principal reclamação dos trabalhistas é com o espaço do MDB no governo, considerado demasiado para quem era um adversário no segundo turno e aderiu após a derrota nas urnas. Nos bastidores, comenta-se que há casos de deputados do MDB que controlam, sozinhos, mais de 70 cargos.
— PP e PTB são os que mais pressionam por cargos. E o MDB quer manter o seu pessoal ainda da época do governo Sartori. É uma equação complicada porque o governador precisa de todos para aprovar a privatização das estatais — comenta uma testemunha das negociações.
Na sexta-feira (1º), uma comitiva do PTB se reuniu com Leite no 21º andar do Centro Administrativo Fernando Ferrari, quando pediu pressa na redistribuição das vagas represadas. Entre os presentes, estava o presidente da Assembleia, Luis Augusto Lara, os deputados Aloísio Classmann e Elizandro Sabino e a secretária do Trabalho, Regina Becker Fortunati, todos do PTB.
Chefe da Casa Civil e principal articulador político do Piratini, Otomar Vivian não participou da audiência. Apesar de conhecer de antemão a pauta da reunião, ele viajou para o Interior. Na Assembleia, parte da demora nas nomeações é atribuída à centralização das decisões no gabinete do governador. Leite faz questão de avaliar os currículos dos indicados, sobretudo nas áreas mais técnicas.
Ao mesmo tempo, uma equipe mapeia todos os cargos. Entre os integrantes do grupo está a Michele Petry, assessora de Leite vinculada ao PSDB, e o secretário-adjunto da Casa Civil, Bruno Freitas. Só depois os nomes dos indicados são repassados à Otomar, a quem cabe oficializar a maioria das nomeações. À boca pequena, os deputados repetem que "o Diário Oficial não está falando", expressão que resume a lentidão do governo na acomodação dos apoiadores.
Ainda na sexta-feira, o Piratini agilizou a ida do ex-deputado Enio Bacci (PTB) para a chefia do Detran e de Ailton dos Santos Machado (PP) à presidência da Ceasa. A exemplo dos petebistas, o PSB também pediu uma reunião com o governador para reivindicar pressa na composição do segundo escalão. Um levantamento informal que circula pelas bancadas aliadas mostra que dos cerca de 30 postos disponíveis, apenas 10 teriam sido nomeados por Leite. Os demais ainda seriam ocupados por indicados na gestão de José Ivo Sartori.
Nos últimos dias de gestão no Piratini, o ex-governador havia decidido exonerar todos os ocupantes de cargo em comissão, mas recuou a pedido de Leite, que temia descontinuidade dos serviços. O novo governador topou acelerar agora a redistribuição dos espaços, mas não esconde a irritação com a pressão que tem recebido dos aliados.