Partido do presidente Jair Bolsonaro e com a segunda maior bancada da Câmara, o PSL começa a legislatura dividido, com ameaça de deserção em massa e sob risco de abalar a frágil coesão da base governista. Eleitos na onda de renovação que alterou o mapa do poder em Brasília, grande parte dos 53 deputados busca um protagonismo individual no Congresso, relegando a segundo plano os interesses do Palácio do Planalto.
A atitude causa desconfiança nos partidos aliados. Sem identificar uma liderança inconteste e que assegure unidade dentro da própria legenda, os demais apoiadores começam a duvidar da capacidade do governo de aprovar reformas consideradas essenciais, como a da Previdência.
— A gente fica assustado porque parece que eles só estão comprometidos consigo mesmos. Estão sempre postando vídeo nas redes sociais defendendo pautas populistas. Fica difícil porque o governo ainda não tem uma base sólida, e você olha para o lado e vê o próprio partido do presidente dividido — afirma um parlamentar aliado.
A dispersão ficou visível na terça-feira (5), quando o líder do governo na Casa, Major Vitor Hugo (PSL-GO), convocou reunião da base para discutir a reforma. Dos 19 partidos que simpatizam com a iniciativa, somente sete enviaram representante — siglas que, juntas, possuem apenas 45 votos. Para aprovar a reforma da Previdência, o governo precisa de 308 votos. O próprio PSL esnobou o encontro, enviando um vice-líder.
O episódio formalizou o descontentamento da base, sobretudo do centrão, com a escolha de Vitor Hugo para o posto. Debutante na Câmara — assim como 49 dos 53 deputados do PSL —, o deputado é considerado um neófito para exercer a função, em especial conduzindo temas complexos como reformas estruturantes. Ele tampouco tem interlocução direta com ministros com poder de decisão, como Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Paulo Guedes (Economia). Já há boicote escancarado às ações de Vitor Hugo como forma de pressionar o Planalto a indicar um substituto.
O deputado também enfrenta resistência no PSL e mantém desavenças públicas com o líder da bancada, Delegado Waldir (GO), seu rival na disputa pelo controle do diretório goiano. Na semana passada, outro movimento expôs os rachas internos no partido. Durante eleição para a segunda vice-presidência da Casa — a única que teve segundo turno —, o presidente nacional do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), teve como adversário o correligionário Charlles Evangelista (MG).
Bivar venceu por escassos 14 votos de diferença (198 a 184) e não escondeu o descontentamento com a atitude do colega. Evangelista foi excluído do grupo de WhatsApp da bancada e responde a processo para expulsão do partido.
— É muita gente inexperiente. Querem trabalhar, mas acabam botando os pés pelas mãos — comenta um líder do PSL no Estado.
Por enquanto, Bivar tenta afastar do núcleo do poder os mais problemáticos. Ele enviou mensagem aos insatisfeitos, garantindo passe livre para quem quiser deixar a legenda. Os estrategistas do Planalto entendem que boa parte da bancada foi eleita graças à associação da imagem à campanha de Bolsonaro, mas não tem maturidade política para falar em nome do governo.
Nos bastidores, crescem rumores de migração para o DEM, legenda fortalecida com as vitórias para o comando da Câmara e do Senado e que mantém três ministérios. Também não está descartada a fundação de novo partido a ser incorporado mais tarde pelo aliado. A ideia seria isolar no PSL os personagens folclóricos e individualistas, como Alexandre Frota (SP) e Joice Hasselmann (SP), tidos como os mais explosivos.