O governo Jair Bolsonaro espera deixar para trás a partir de desta segunda-feira (18) um dos núcleos da crise que atinge a gestão. Com a confirmação da exoneração do ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, que já estaria assinada pelo presidente e deve ser publicada no Diário Oficial, a expectativa é afastar do Palácio do Planalto as suspeitas sobre desvio de recursos públicos por meio de candidaturas fantasmas do PSL na eleição passada. O antigo aliado, porém, promete reagir e ampliar a maré de más notícias às vésperas do envio da reforma da Previdência ao Congresso, na quarta-feira (20).
Neste domingo (17), Bolsonaro se pronunciou pelo Twitter. “Assumimos um Brasil ainda em crise em todos os sentidos. Sabemos a dificuldade que é tentar consertar tudo isso. O sistema não desistirá, mas estamos determinados a mudar os rumos do país e fazer diferente dos anteriores, já que são eles os responsáveis pelo que estamos passando”, escreveu. Na sequência, listou ações do início da gestão.
Políticos e militares tentaram, nos últimos dias, manter Bebianno, que foi responsável pela coordenação da campanha eleitoral do presidente, no cargo. Mas Bolsonaro mostrou-se irredutível. Além do desgaste com o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o que mais pesou na decisão é “quebra de confiança”: o ministro teria “vazado” diálogos entre ele e o presidente para a imprensa, o que ele nega.
A preocupação é com a reação do provável demitido. Para auxiliares, Bebianno ainda pode criar problemas em razão das informações que detém – ele seria um homem-bomba. Durante o fim de semana, o ministro deu sinais de que esse temor pode se confirmar. Segundo o colunista Lauro Jardim, de O Globo, Bebianno teria declarado a um interlocutor ter perdido a confiança no presidente.
– Tenho vergonha de ter acreditado nele. É uma pessoa louca, um perigo para o Brasil – teria dito Bebianno, e completado: – O problema não é o pimpolho. Jair é o problema. Ele usa o Carlos como instrumento. É assustador.
Questionado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o ministro negou o relato do colunista. Bebianno tem ainda outra mágoa. Diz ter recebido tratamento distinto do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, também suspeito de ter operado o suposto esquema de candidaturas fantasmas do PSL. Ele questiona o fato de ser apontado pelas candidaturas de laranjas em Pernambuco, mas não no Estado mineiro.
– No caso de Minas Gerais, do Marcelo Álvaro Antônio, por que não sou culpado então? – perguntou.
No sábado (16), Álvaro Antônio negou que haja relação entre os dois casos:
– Não vejo relação de uma coisa com a outra. A questão do Bebianno está sendo resolvida, quem decide é o presidente da República, e a minha questão é completamente separada. O presidente é quem vai decidir.
Bebianno se sente traído e abandonado e não deve poupar Carlos após a exoneração, segundo interlocutores. Em conversas, o ministro teria dito que o “ciúme exacerbado” que o vereador carioca tem do pai foi posto acima do projeto de melhorar o país, ao qual ele se empenhou nos últimos anos, como coordenador e incentivador da campanha de Bolsonaro desde os primórdios. O presidente poderia ser poupado de ataques diretos.
Ao conquistar a empatia de Bolsonaro, Bebianno virou automaticamente um alvo de Carlos, avaliam seus interlocutores. O ministro, por sua vez, enxerga no vereador uma pedra no sapato do presidente, e só se refere a Carlos com adjetivos que desqualificam sua capacidade intelectual. Pessoas próximas dizem que ele não terá receio em atacar.