O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu a implantação de terceiro turno no programa de atenção básica. Nesse modelo, já em prática em algumas cidades do País, unidades atuam em horários estendidos, sobretudo noturnos, para garantir que pessoas que trabalham possam se consultar ou levar seus dependentes para o atendimento.
— A mulher trabalhadora, o homem trabalhador às vezes sai de casa antes das 7h e chega depois das 17h. A unidade fica praticamente inalcançável — disse, pouco depois da cerimônia de transmissão de cargo nesta quarta-feira (2).
Mandetta pretende nos próximos 100 dias apresentar propostas para três pilares prioritários: a atenção hospitalar — trazendo o que ele definiu como um "choque de gestão", com mais transparência e critérios definidos para a condução de filas de espera e acesso aos serviços.
O segundo eixo será uma medida emergencial em Roraima, Estado que recebeu um grande número de refugiados e que vive às voltas com uma epidemia de sarampo. O terceiro eixo, completou, será a facilitação do acesso à atenção básica. Mandetta quer dar mais espaço para essa forma de atendimento — uma medida há tempos defendida por especialistas no setor. A expectativa é de que uma secretaria seja criada apenas para cuidar dessa forma de atenção.
Em um discurso de mais de 40 minutos para um auditório lotado, Mandeta falou de fé, família e noção de pátria, agradeceu o presidente Jair Bolsonaro pela indicação, garantiu que não haverá retrocesso no direito à Saúde.
— Vamos cumprir a Constituição Brasileira — disse, numa resposta ao receio de que o SUS de alguma forma pudesse estar sob risco, com restrição de atendimentos.
Mas logo em seguida emendou que, exceto os preceitos constitucionais, não há na saúde "verdades absolutas".
Mais Médicos
Na transmissão de cargo, Mandetta não poupou críticas ao Mais Médicos e à Saúde Indígena, que afirma receber recursos em demasia e apresentar resultados muito abaixo do que seria considerado adequado, com altos índices de mortalidade. Mas o tom foi conciliador e de elogios ao falar de Santas Casas, da classe médica e de outros profissionais de saúde. Citou vários: enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas.
— Vamos construir pontes — disse.
Médico ortopedista, Luiz Henrique Mandetta é ex-secretário de Saúde de Campo Grande (MS) e foi por duas vezes deputado federal pelo DEM. No parlamento, foi uma das vozes contrárias à criação do Mais Médicos, programa que agora ele pretende modificar. Na eleição do ano passado, Mandetta não se candidatou e colaborou com o programa de governo de Jair Bolsonaro, na área da Saúde.
Ao contrário de antecessores, Mandetta tem uma relação estreita com o Conselho Federal de Medicina. Essa proximidade se solidificou na campanha contrária ao Mais Médicos e ficou patente no discurso de transmissão de cargo.
— Medicina não se ensina de atacado, não se aprende de orelhada — afirmou, numa clara referência à expansão das faculdades prevista no Mais Médicos. Mais tarde, ele emendou dizendo que o aumento de profissionais no mercado não foi acompanhado de nenhum modelo para fixar os profissionais em áreas mais distantes.
Defensor da carreira de Estado para médicos — proposta que foi incluída no programa de governo de Jair Bolsonaro —, Mandetta disse ser necessário analisar a real necessidade de profissionais em áreas mais remotas e sugeriu que, em alguns pontos, profissionais possam ficar 15 dias em vez de o mês todo.
— Talvez para alguns lugares o ideal não seja o formato de carreira. Temos diferentes brasis, não adianta uma receita de bolo. Os objetivos podem ser os mesmos, mas as estratégias distintas.
Mandetta em nenhum momento pediu mais recursos para a pasta que irá comandar. Mas falou, ao contrário de economia, que ele acredita que virá com mais controle.
— Cada centavo economizado tem de ir para seu objeto fim que é a assistência. É muito fácil esquecer num ministério desta proporção que R$ 1 mil reais é dinheiro. Vamos atrás de cada centavo economizado.
Participaram da cerimônia de transmissão de posse, o ministros Osmar Terra (Cidadania), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Tereza Cristina (Agricultura). Entre os convidados também estavam o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Ribeiro, o presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde, Leonardo Vilella, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e o deputado José Juscelino dos Santos (DEM).
Na despedida do cargo, Gilberto Occhi fez um discurso afinado com seu sucessor. Ele disse ser favorável a bandeiras já anunciadas por Mandetta, como a reformulação do Mais Médicos, o reforço na atenção básica e a revisão dos hospitais federais.
— Dentro daquilo que eu ouvi você falar nos últimos dias, concordo plenamente com a revisão dos hospitais e institutos federais no Rio de Janeiro, do programa Mais Médicos, com a saúde da Família sendo cada vez mais reforçada, o programa de vacinação e também a gestão da informação do ministério para que a gente possa ser mais eficiente e usar os recursos da melhor maneira possível.
Com voz embargada, Occhi afirmou ter dado a Mandetta uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida e citou como desafios avançar na rotulagem de alimentos e na informatização da saúde.