O último ato de Michel Temer no Palácio do Planalto foi o retrato do desânimo em que o governo ficou mergulhado durante o ano. Após a passagem da faixa para Jair Bolsonaro, ele evitou descer a rampa ao lado do sucessor, preferindo deixar o local por uma saída alternativa, no subsolo. O destino foi a base aérea da capital federal, de onde embarcou em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), diretamente a São Paulo.
Foram menos de cinco minutos entre a entrega da faixa e a saída pela garagem privativa do palácio. Sem ser notada pelos convidados de Bolsonaro que se concentravam na parte térrea do prédio, a comitiva de Temer deixou o Planalto pela saída lateral leste.
A partida discreta do ex-presidente não impediu que, antes, ele ouvisse vaias do público que estava na Praça dos Três Poderes.
Os apupos começaram logo que apareceu ao lado de Marcela, no alto da rampa, para recepcionar o casal Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão e sua mulher, Paula. Além de gritos de "Fora, Temer", houve provocações em tom de galhofa dirigidas a Marcela.
Antes do Natal, na última reunião com sua equipe, Temer fez gracejos com o bordão que marcou sua passagem pelo Executivo. Presidente mais impopular desde a redemocratização, em 1989, com índices de rejeição que chegaram a 82%, disse que sentirá falta do "Fora, Temer".
– Quando falavam "fora" era porque eu estava dentro – brincou, arrancando risos de seus ministros.
O marasmo da administração foi visível nos últimos dias.
Após vaivém, Temer desistiu de conceder indulto de Natal (perdão da pena) para presos condenados. O emedebista deixou para Bolsonaro a definir a nova política para o salário mínimo. Tradicionalmente, o decreto é editado nos derradeiros dias do ano, mas Temer preferiu deixar a tarefa para o sucessor.
Pelo Twitter, o agora ex-presidente disse que entregou um país melhor aos brasileiros e que sai "com a alma leve e a consciência do dever cumprido".
Apesar de estarem em Brasília para os últimos compromissos oficiais, a mulher e o filho do emedebista, Marcela e Michelzinho, já haviam deixado o Palácio do Jaburu, residência do vice-presidente, durante o mês de dezembro. Eles voltaram à capital paulista.
Foco será destinado às três denúncias da PGR
Sem mandato desde ontem e, por consequência, sem foro privilegiado, Temer deverá se concentrar na defesa de três denúncias que pesam contra ele, uma delas encaminhada ao Supremo Tribunal Federal em dezembro e não apreciada pelo Congresso.
A análise dos casos se dará na primeira instância, assim que os relatores enviarem os documentos para as varas competentes, o que não tem prazo para ser realizado.
*Com agências.