Ungido pelo governador eleito para comandar a Secretaria Estadual da Fazenda, o economista Marco Aurélio Santos Cardoso ostenta os atributos necessários para enfrentar o desafio-monstro que o espera a partir de 1º de janeiro de 2019 – a começar pelo currículo irrepreensível e pela benção de Aod Cunha, o homem que conseguiu manter as contas do Estado equilibradas por três anos, entre 2007 e 2009.
Mas – e sempre há um "mas" – será preciso mais do que competência técnica para tirar o Estado da situação de insolvência na qual se encontra. De 2015 para cá, após dois anos de profunda recessão, o quadro se deteriorou. Cardoso deverá receber as chaves do cofre com R$ 3 bilhões de déficit orçamentário (despesas acima das receitas) e com o 13º salário do Executivo parcelado. Se as projeções se confirmarem, em seus primeiros dias no cargo receberá as boas-vindas e uma lista de urgências para atender:
1) Quitar a folha de dezembro dos servidores, que estará pendurada
2) Iniciar o pagamento dos contracheques de janeiro
3) Escolher o que priorizar, entre pendências com prefeituras, hospitais e fornecedores
E o inventário da crise vai bem além disso. Cardoso descobrirá – se já não sabe – que o número de servidores inativos já representa mais de 55% da folha do Executivo, que o rombo na Previdência deve passar de R$ 11 bilhões, que o passivo com os professores pelo não pagamento do piso nacional do magistério baterá na casa dos R$ 30 bilhões. E por aí vai.
Será preciso mais do que mão de ferro e saídas convencionais. Além da esperada acuidade técnica, Cardoso terá de mostrar habilidade política, tanto quanto o futuro inquilino do Palácio Piratini, Eduardo Leite (PSDB). Precisará ter capacidade de comunicação, com transparência total e boa dose de sensibilidade.
O principal desafio do futuro titular da Fazenda não será fazer cortes – até porque não há mais muito o que cortar. Será convencer a sociedade, as corporações, o Judiciário, o Legislativo, o Tribunal de Contas, o Ministério Público e a Defensoria de que cada um terá de fazer a sua parte.