Os impactos da cláusula de barreira aplicada nas eleições deste ano passarão por fortalecimento de bancadas, fusões e resistência. O PSL, legenda de Jair Bolsonaro, aposta no crescimento de seu partido no Congresso. Siglas menores deverão se fundir para ocupar o caminho do centro, sem a obrigação de marchar com a base governista ou se aliar à oposição.
Já o PCdoB, o mais antigo entre os partidos asfixiados pela nova regra, ainda aguarda decisão judicial que poderá reverter o quadro. Caso isso não ocorra, deverá seguir atuando, mesmo sem direito a recursos do fundo partidário e à propaganda na TV.
A eleição de Bolsonaro municiou seus correligionários para o assédio a novos parlamentares de partidos nanicos. O PSL conquistou 52 cadeiras na Câmara, mas espera chegar a 60, tirando do PT a posição de maior bancada da Casa. No Senado, elegeu quatro representantes e agora ambiciona chegar a seis.
Pelo menos uma deputada já avisou que vai desembarcar no PSL nas próximas semanas. Eleita pelo PRP do Distrito Federal, a procuradora aposentada Bia Kicis é ligada ao presidente eleito — acompanhou na casa dele a apuração do segundo turno. Seu objetivo é comandar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a principal da Casa, o que seria impossível em uma legenda sem expressão:
— Tenho embasamento jurídico grande e, como base de apoio, posso contribuir muito com a CCJ.
Pelo menos três deputados eleitos confirmaram sondagens do PSL: Eduardo Braide (PMN-MA), Pastor Gildenemyr (PMN-MA) e Fernando Rodolfo (PHS-PE). No Senado, nomes ligados à segurança pública estão no radar, ambos da Rede Sustentabilidade. O primeiro é o ex-coordenador da Lei Seca no Rio Grande do Norte, Capitão Styvenson, que não tem identificação com a sigla de origem, tendo se filiado apenas para concorrer.
O segundo é o Delegado Alessandro Vieira (SE), que faz ressalvas em trocar de legenda.
Vou esperar o partido e acho natural se o caminho for de fusão com outras siglas. Hoje, não tenho convite formal para sair.
FRANCO CARTAFINA
Deputado federal eleito pelo PHS (MG), partido que não conseguiu superar a cláusula de desempenho nas eleições deste ano
— Acredito que, no momento, é mais importante fortalecer alternativas de centro. Os extremos do Brasil estão dificultando o avanço da sociedade — comenta.
A Rede, que elegeu um deputado e cinco senadores, está em negociações para se fundir com PPS e PV. A nova sigla adotaria postura independente, sem apoiar o governo ou integrar a oposição.
Outra fusão especulada seria liderada pelo PHS, que elegeu o governador do Tocantins, Mauro Carlesse. Poderão se unir ao partido o PRP e o PMN, com expectativa de adesão à base de Jair Bolsonaro.
— Vou esperar o partido e acho natural se o caminho for de fusão com outras siglas. Hoje, não tenho convite formal para sair — diz Franco Cartafina (PHS-MG).
Legenda de vice eleito foi “reprovada” nas urnas
O PCdoB, que reelegeu o governador do Maranhão, Flávio Dino, ficou próximo de ultrapassar a cláusula de barreira. Elegeu nove deputados em sete Estados, dois a menos do que o exigido. Outra forma de vencê-la seria ter recebido 1% de votos válidos em nove Estados e 1,5% no país, o que também não ocorreu.
Porém, uma ação na Justiça poderá reverter a situação. A eleição do deputado federal Isaac Carvalho (BA) ainda é discutida pelo Judiciário devido a uma condenação por “desvio de recursos públicos ou uso indevido” em 2010, quando ocupava a prefeitura da cidade baiana de Juazeiro. Caso seu mandato seja confirmado, o partido, que fez mais de 1% dos votos válidos em 14 Estados, poderia atingir o índice de 1,5% no país a partir de novo cálculo de votos. Se ainda assim o PCdoB for barrado, haverá tentativa de incorporação de outras siglas. A última alternativa considerada pela legenda seria permanecer sozinha, mesmo com dificuldades financeiras.
Entre os partidos que não alcançaram os índices mínimos, está o PRTB do general Hamilton Mourão, vice-presidente eleito.
O Patriota negocia com duas siglas. Apenas uma deverá ser incorporada. O nome da nova agremiação permaneceria o mesmo.