Além de irregularidades nas arrecadações de campanha do PT, o que consta nas delações do ex-ministro Antonio Palocci, homologadas pela Operação Lava-Jato? GaúchaZH obteve um resumo dos cinco anexos em poder do juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. A partir deles, cotejou os relatos com os de depoimentos prestados por Palocci e outros delatores. O resultado é um elenco de contratos, obras e serviços permeado por propinas. O ex-ministro fala também de vazamentos de documentos confidenciais. Confira aqui um resumo:
1 - Sete Brasil: Palocci afirma que, por meio de sua empresa de consultoria (a Projeto), intermediou cobrança de propina paga pelo grupo Odebrecht para conseguir contratos de construção de navios-sonda para a Sete Brasil (empresa de exploração do pré-sal, que une grupos de investimentos privados e a Petrobras). Antes de fazer a delação, o ex-ministro adiantou esse assunto, em depoimento prestado em 16 de julho à Polícia Federal em Curitiba, tomado pela delegada Rúbia Pinheiro, que conduz investigações da Operação Greenfield, focada em irregularidades em investimentos dos fundos de pensão de estatais. Conforme Palocci, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou "furioso" ao saber que empresas estrangeiras seriam contratadas para fazer os navios. Ele ordenou que empreiteiras brasileiras fossem priorizadas, após supostamente ter sido alertado por João Vaccari (na época tesoureiro do PT) de que seria mais fácil cobrar propina de brasileiros do que das construtoras de outros países.
A iniciativa ganhou até uma expressão, "política de conteúdo local". O argumento era desenvolver a indústria nacional, gerar empregos e movimentar a economia. Palocci, porém, acrescenta uma terceira razão para a escolha: o plano incluía propina. "Nacionalizava a indústria do petróleo e ganhava boa propina", declarou textualmente à PF o ex-ministro. Conforme o depoimento, com orientação de Lula, a Petrobras reduziu de 18 para 12 o número de sondas a serem contratadas no Exterior e, dessas, 10 contaram com participação de empresas brasileiras na construção. Foi o embrião da Sete Brasil.
2 - Grupo Schahin: solicitação de propina feita por Palocci para "superar entraves" que o Grupo Schahin tinha com a Petrobras. Isso envolvia débitos da estatal petrolífera relativos à construção do navio-sonda Vitória 10.000. O ex-ministro teria também intermediado repasse de verbas do grupo para PT, como contrapartida por ter ganho contrato de construção do barco.
3 - Campos de petróleo na África: Palocci se compromete a detalhar propina recebida por funcionários da Petrobras para facilitar negociações envolvendo blocos de exploração de petróleo na África. No mesmo anexo, o ex-ministro fala também de enriquecimento ilícito de uma instituição financeira em uma dessas negociações (envolvendo campos de óleo africanos) e repasses de dinheiro ao PT.
O trecho liberado pelo juiz Sergio Moro não cita nominalmente qual seria a instituição financeira, mas fontes da Lava-Jato admitem que se trata do banco BTG Pactual, investigado desde 2015.
O BTG Pactual comprou metade da PetroAfrica, pertencente à Petrobras, em junho de 2013. O banco ainda planeja manter sua participação de 50% na PetroAfrica, mesmo que a Petrobras venda sua parte. Palocci fala que o negócio, na época, foi concretizado mediante suposto financiamento de atividades ilícitas pelo BTG, metamorfoseada em contribuições ao PT.
O BTG tem como um dos sócios André Esteves, que já esteve preso pela Lava-Jato em 2015, por suspeita de participar dos planos de compra do silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Por insuficiência de provas, Esteves foi absolvido em julho. Ele protocolou uma petição que o coloca à disposição para prestar esclarecimentos à Polícia Federal de Curitiba.
4 - Servidores públicos aliciados: Palocci se compromete a ajudar com indícios da participação de funcionários públicos e investigadores particulares na violação de decisões judiciais sob sigilo. Entre essas decisões, por exemplo, estariam os mandados de busca e apreensão feitos em residências do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - as ordens judiciais teriam sido vazadas propositalmente. O caso ocorreu em fevereiro de 2016. O vazamento teria partido de uma funcionária da Receita Federal, que estava de posse de cópia das ordens judiciais. O namorado era simpatizante do ex-presidente e teria vazado para um blogueiro os despachos oficiais, o que frustrou o efeito-surpresa das buscas feitas pela Polícia Federal. Com relação a investigadores particulares, Palocci fala o que sabe sobre a sugestão de contratar uma multinacional de investigação para espionar integrantes da Lava-Jato.
5 - Usina de Belo Monte: Palocci afirma poder relatar todos os políticos que receberam propina referente à construção da Usina de Belo Monte, no Pará. Ele estaria disposto a confirmar revelações feitas por dois outros delatores: Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa, e Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, ambos condenados na Lava-Jato.
Eles disseram que um familiar de Palocci teria participado das negociações para garantir fatia das obras de Belo Monte para um trio de empreiteiras (Camargo, Odebrecht e Andrade Gutierrez). Do valor do empreendimento, 1% deveria ser destinado ao MDB e ao PT, percentual rachado entre os dois partidos. Isso resultou em R$ 140 milhões em propinas de parte das três construtoras, correspondente ao percentual da obra, orçada em R$ 18 bilhões. Palocci indicou João Vaccari Neto para cuidar do dinheiro do PT e o senador Edison Lobão para tratar da parte do MDB, de acordo com Azevedo. O suborno foi entregue em forma de contribuição oficial.