O enfrentamento entre o capitão reservista do Exército Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) na reta final das eleições tende a aglutinar apoio ao militar dentro das Forças Armadas. Parece evidente, ainda mais que ele tem como vice na chapa um general, Hamilton Mourão (PRTB). Mas nem sempre o que parece óbvio faz parte da realidade.
GaúchaZH falou com três generais do Exército nesta quarta-feira (3), quatro dias antes das eleições. Um deles está na ativa, os outros dois na reserva, com bom trânsito no governo federal. Os três analisaram a candidatura Bolsonaro.
E a realidade é que durante décadas Bolsonaro foi visto com ressalvas dentro das Forças Armadas. A principal razão é que deixou o Exército, em 1988, em meio a um processo judicial no qual era acusado de planejar explosão de bombas em quartéis, para forçar aumentos salariais na categoria. Bolsonaro acabou absolvido e sempre negou a autoria desses planos. Em seguida foi para a reserva e virou político. Mas a imagem de um sujeito de ideias explosivas permaneceu.
_ Qual militar de carreira, ainda mais do alto oficialato, aprecia um comandado com currículo de insubordinado? As pessoas mudam, mas não muito - pondera um dos generais ouvidos pela reportagem.
Ao longo das décadas o temperamento mercurial atrapalhou a imagem de Bolsonaro. Foi assim quando falou em eliminar milhares (numa entrevista à TV), em prender políticos, em fuzilar o então presidente Fernando Henrique Cardoso, quando discutiu asperamente com mulheres no plenário da Câmara ou em frente a microfones. Mas moderou o discurso ao ser ungido candidato à Presidência. Assegura que amadureceu. Manteve o discurso de combater a criminalidade, com o qual agrada os colegas de farda e os policiais, país afora.
Um segundo óbice que sempre permeou as relações de Bolsonaro como a caserna é que ele não é visto pelo alto-oficialato como alguém com o mesmo preparo. Ele foi capitão - oficial de nível médio - e está há 30 anos afastado da carreira, apesar de discursar como se ainda fosse um militar. Uma parte da resistência a Bolsonaro entre o generalato diminuiu com a escolha do general Mourão como candidato a vice em sua chapa. Esse, sim, comandante que deixou o cargo há menos de um ano e bastante prestigiado. E Mourão, apesar de hierarquicamente superior no meio castrense, tem seguido as orientações de Bolsonaro durante a campanha. Inclusive aceitou críticas recebidas após manifestar opiniões polêmicas, como a de que o 13º salário é um atrapalho na vida do empresariado.
Feitas as ressalvas, o fato é que Bolsonaro consolidou a simpatia dos militares, asseguram os três generais consultados por GaúchaZH. Menos por méritos dele e mais por exclusão.
- Virou plebiscito. Ao insistir em dividir, em estimular o confronto e flertar com a convulsão social, outros candidatos acabaram jogando os militares nos braços do Bolsonaro. Milico atura tudo, menos pregação de anarquia - resume um dos generais.
Além de Mourão, dois dos generais mais prestigiados do país, Augusto Heleno e Carlos Alberto Santos Cruz (ambos ex-comandantes da Missão de Paz no Haiti), são apoiadores e consultores da candidatura de Bolsonaro. Cruz, que também comandou as tropas da ONU no Congo, semana passada fez uma "Carta Aberta" aos colegas, criticando manifestações de artistas em prol de "partidos com ideologias totalitárias". Ele se referiu ao principal adversário de Bolsonaro (sem citar nome) como "fantoche de um presidiário condenado por corrupção". A manifestação está contida em gravação enviada por ele à reportagem.
Apesar das manifestações inflamadas, os generais ouvidos pela reportagem negam qualquer possibilidade de uma intervenção militar no país - perdendo ou ganhando Bolsonaro. A não ser em caso de guerra civil. Não há mais espaço internacional para esse tipo de aventura, resumem.
Outros generais cotados para um possível governo Bolsonaro:
Paulo Chagas - candidato a governador no Distrito Federal pelo PRP, está na reserva há 12 anos. Usa discurso exaltado, é antipetista de carteirinha e tem ideário conservador.
Richard Fernandez Nunes - atual secretário da Segurança Pública no Rio de Janeiro, está na ativa.
Oswaldo Ferreira - reservista, já apoia Bolsonaro e atua no seu programa de governo.
Aléssio Ribeiro Souto - reservista, tem estimulado as discussões sobre Educação e Ciências num possível governo Bolsonaro.
Edson Pujol - está na ativa, no Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, mostra um perfil moderado e legalista. Foi colega de turma de Bolsonaro.
Dois outros reservistas prestigiados estariam entre as ambições de Bolsonaro para um futuro governo, caso assim o desejassem. Ambos atuam no governo Temer: Sérgio Etchegoyen (chefe do Gabinete de Segurança Institucional e da Agência Brasileira de Inteligência - Abin) e Joaquim Silva e Luna, atual ministro da Defesa.