- Correção: o grupo J&F não é controlador das marcas Sadia e Perdigão. Na verdade, as marcas são pertencentes à BRF. A informação incorreta permaneceu publicada entre 22h35min de 16/05/2018 e 9h32min de 17/05/2018. O texto foi corrigido.
A delação da JBS, que foi vazada parcialmente em 17 de maio do ano passado, mexeu com o cenário político nacional e acarretou na primeira denúncia por crime comum contra um presidente da República no exercício do mandato.
Aliados do presidente, executivos da JBS e outros políticos são investigados por fatos relevados pelo acordo de colaboração. Veja como estão os principais alvos da delação:
Michel Temer
O presidente da República foi gravado pelo empresário Joesley Batista em uma conversa no Palácio do Jaburu, à noite, sem qualquer registro em agenda ou dos responsáveis pela segurança oficial. Desde lá, viu sua impopularidade aumentar, precisou investir recursos públicos e capital político para enterrar dois pedidos de investigação na Câmara e não conseguiu implementar suas principais propostas de governo, como a reforma da Previdência. É investigado em um inquérito no qual é suspeito de beneficiar uma empresa do setor portuário com a edição de um decreto e de ter recebido propina.
Joesley Batista
O empresário, um dos donos do Grupo J&F, da marca Friboi, foi o responsável pelas gravações de conversas com o presidente Michel Temer e com o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Os diálogos integraram a delação premiada de executivos da companhia com o Ministério Público Federal (MPF), considerado por críticos como muito benevolente. Mas outras gravações e evidencias descobertas mais tarde levaram a um pedido para cancelar o acordo — a decisão sobre isso está com o ministro Edson Fachin, do STF. Joesley acabou sendo preso e hoje cumpre prisão domiciliar, além de ser alvo de processos.
Aécio Neves
O senador do PSDB mineiro aparece em uma gravação pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista para cobrir "despesas com advogados". Na conversa, fica combinado que indicaria "alguém que possa matar" antes de fazer delação premiada para receber o dinheiro — o escolhido, um primo do ex-candidato à Presidência, foi monitorado e filmado pela Polícia Federal recebendo e transportando R$ 500 mil do J&F para Minas Gerais. Frederico Pacheco, a irmã de Aécio, Andréa, e Mendherson Lima, assessor parlamentar do senador Zezé Perrella (MDB-MG), chegaram a ser presos e respondem por obstrução à investigação. O tucano também é réu no caso. Ele foi afastado duas vezes do cargo no Senado, mas voltou após decisões favoráveis do STF e da Casa legislativa.
Rodrigo Rocha Loures
Ex-assessor especial da Presidência e ex-deputado federal, foi indicado por Michel Temer a Joesley Batista como a pessoa a quem o empresário deveria procurar quando precisasse contatar o presidente, em substituição a Geddel Vieira Lima. Foi filmado pela Polícia Federal saindo de uma restaurante com uma mala na qual estavam R$ 500 mil entregues por Ricardo Saud, executivo da J&F. Foi preso e deixou a prisão quase um mês depois. É réu no processo, o mesmo que investiga Temer por corrupção passiva e teve o prosseguimento barrado pela Câmara. Cumpre prisão domiciliar.
Coronel Lima e José Yunes
Homens do círculo mais próximo de Michel Temer, o ex-assessor especial da Presidência e o ex-coronel da Polícia Militar de São Paulo foram presos no final de março em operação da Polícia Federal sob suspeita de serem intermediários do presidente no recebimento de propina. Ricardo Saud, executivo do J&F, disse ter entregue R$ 1 milhão ao militar _ os recursos seriam para uso em campanha, mas o presidente teria ficado com o dinheiro para proveito pessoal. A delação da companhia também levantou suspeitas sobre o advogado, indicando relações com o suposto benefício de empresas portuárias. Ambos são réus. Eles foram presos temporariamente em março, mas foram soltos após dois dias detidos.
Ricardo Saud
Ricardo Saud era diretor de relações institucionais da J&F e foi um dos delatores da empresa no acordo com o MPF. Na operação controlada da Polícia Federal em que Rocha Loures recebe os R$ 500 mil, ele foi o entregador. Assim como Joesley, foi denunciado por obstrução da Justiça após quebrar pontos do acordo de delação premiada. Saud seria um dos intermediários no pagamento de vantagem indevida em nome da empresa a políticos. Cumpre prisão domiciliar.