Sem o efeito surpresa, resta à Polícia Federal incrementar os planos para prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O pensamento majoritário entre os policiais é evitar, o quanto possível, confronto com apoiadores do petista, que fazem vigília na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP). Para isso, a palavra de ordem é negociar. Veja as soluções:
1 - Negociação
Equipes da PM e da PF fazem um "congelamento" de área em torno do Sindicato dos Metalúrgicos, onde Lula está acampado. Isso significa que quem está no prédio não pode sair e quem está fora do perímetro delimitado pelos policiais não pode entrar. Dificilmente alguma solução de força será tomada à noite. Primeiro, porque mandados de prisão, via de regra, só podem ser cumpridos de dia. Em segundo lugar, para não colocar em risco inocentes, na escuridão. A análise é de um oficial da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
2 - Vencer pelo cansaço
Num plano intermediário, os policiais podem, além do cerco ao prédio, impedir o ingresso de víveres e água na sede do Sindicato dos Metalúrgicos. Com o desconforto, é possível que os apoiadores comecem a deixar o local. Outra saída é cortar a luz. Uma terceira ameaça: retirar a oferta de cela especial, a que Lula tem direito caso se entregue até as 17h à PF em Curitiba.
De forma paralela, a PF pode sugerir ao Ministério Público Federal que peça para decretar a prisão preventiva de Lula, sob argumento de garantir a aplicação da lei e preservar a ordem. Para ficar claro: Lula seria preso por força da execução da pena de 12 anos por corrupção e, além disso, receberia prisão preventiva pelos outros processos a que responde na Justiça Federal (são oito ao todo, incluindo o do triplex).
— Havendo dificuldade para cumprir o mandado de prisão expedido, resta configurado o risco da aplicação da lei penal e, em razão do tumulto que o condenado vem causando para não ser preso, a necessidade da prisão preventiva nos demais processos em que ainda não houve sentença, para garantir a ordem pública — diz um delegado que integrou a Lava-Jato.
Ou seja, se Lula ganhasse habeas corpus para não ficar preso pela pena de 12 anos, ficaria preso igual por força das ordens de prisão preventiva. Isso inviabilizaria uma vida normal e, em consequência, a atuação política. Os advogados de Lula provavelmente tentarão evitar a preventiva. Os militantes talvez não cedam ao pedido de que o ex-presidente se entregue.
3 - Uso da força
Lógico que nem só a negociação pesa nessa equação para prender Lula. A PF colocou de prontidão equipes do Grupo de Pronta Intervenção (GPI). O Comando de Operações Táticas (COT), com sede em Brasília, também está de sobreaviso.
O GPI já está em Curitiba, mas pode ser deslocado para São Bernardo do Campo, na tentativa de afastar os apoiadores do ex-presidente ou, pelo menos, garantir que os agentes encarregados possam cumprir o mandado de prisão.
O mais provável, porém, é que Batalhões de Operações Especiais (BOE) da PM paulista sejam requisitados para "congelar" a área em torno do prédio onde está o ex-presidente. Eles são equipados com aparato antidistúrbio (bombas de gás, balas de borracha, escudos, granadas de luz e som). Seria um jeito de romper o cinturão de proteção do ex-presidente, sem causar danos graves às pessoas. Nesse caso, os policiais não usam armas letais.
Qual medida será adotada? Depende do comportamento dos apoiadores do ex-presidente, dizem os policiais consultados.