A Polícia Federal trabalhava há meses com três cenários possíveis para a detenção de Luiz Inácio Lula da Silva, caso ela fosse determinada. O primeiro, ideal, é que os advogados o apresentassem assim que o sistema E-proc da Justiça Federal colocasse no site a ordem de prisão. O próprio Lula falou ao juiz Sergio Moro, quando interrogado, que bastaria ter sido convidado e se apresentaria para depor. Alguns policiais chegaram a acreditar que, sim, partiria do ex-presidente a iniciativa de se apresentar, como um estadista.
O segundo cenário seria que o juiz desse algum sinal de que está por assinar a ordem de prisão. Com isso, a PF agiria na surdina, mandaria equipes discretas na vigilância de Lula e, assim que o documento fosse assinado, bateria na porta do ex-presidente (no sindicato, no Instituto Lula, na residência, onde ele estivesse) e o convidaria a ingressar numa viatura, também discreta. Para isso seria necessário que os advogados dele não fossem avisados da determinação para detenção.
O terceiro cenário, o pior possível, é que um vazamento da notícia com horas de antecedência permitisse que os admiradores de Lula reunissem uma multidão e tentassem impedir a prisão do ex-presidente. O que os policiais não imaginavam é que o próprio juiz Sergio Moro decidisse noticiar publicamente tudo e ainda dar 24 horas para que o condenado se apresentasse.
As 24 horas foram suficientes para organizar o que os petistas vem chamando de "resistência cívica". E que os policiais encaram como chance para uma grande balbúrdia, talvez até uma tragédia.
— Moro foi humanitário ao dar as 24 horas. Mas, do ponto de vista tático, é muito ruim, porque afastar uma multidão é muito mais difícil do que prender uma pessoa apenas. O juiz agiu às pressas — pondera um agente da PF ouvido por GaúchaZH.
A precipitação de Moro em determinar a prisão pode ter sido tentativa de evitar que o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitasse um pedido de habeas corpus para que ninguém seja preso após condenação em 2ª instância (inclusive Lula). Pelo menos até que o tema seja julgado em definitivo pela corte. O habeas ainda não foi apreciado pelo relator Marco Aurélio Mello.