Em um dos depoimentos mais emblemáticos da Lava-Jato, em setembro de 2017, o ex-ministro Antonio Palocci admitiu ao juiz Sergio Moro que cometera crimes de corrupção. Réu confesso, foi também o primeiro petista a imputar delitos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mais de sete meses depois, Palocci torna-se ainda o primeiro homem forte do PT a celebrar um acordo de delação premiada na Lava-Jato. Segundo O Globo, o ex-aliado assinou a colaboração, que precisa passar pela homologação da Justiça, com a Polícia Federal (PF).
Os documentos apresentados pelo delator seriam suficientes para a abertura de novas investigações e prisões. O conteúdo do acordo, bem como os benefícios, são mantidos em sigilo. Porém, o depoimento do ex-ministro a Moro dá sinais de possíveis linhas da colaboração, que implicariam diretamente Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff.
Luiz Inácio Lula da Silva
O ex-presidente seria o político mais citado pelo delator. A Moro, Palocci mencionou um "pacto de sangue de R$ 300 milhões" entre Lula e a Odebrecht. De acordo com o ex-ministro, a empreiteira temia que a Presidência de Dilma Rousseff representasse um entrave nas relações com o governo federal. Por isso, Emílio Odebrecht teria oferecido um "pacote de propina" a Lula em seus últimos dias no Planalto.
— O Emílio (Odebrecht) abordou (Lula) no final de 2010, não foi pra oferecer alguma coisa, doutor (Moro), foi pra fazer um pacto, que eu chamei de pacto de sangue. Envolvia um presente pessoal que era um sítio, envolvia o prédio de um museu pago pela empresa, envolvia palestras pagas a R$ 200 mil, fora impostos, combinadas com a Odebrecht. E envolvia uma reserva de R$ 300 milhões — declarou Palocci no depoimento.
Mediador da relação entre PT e Odebrecht, Palocci era o operador da "conta amigo" no sistema de propinas da construtura, que supostamente bancava despesas pessoais e programas de interesse de Lula. Dessa conta, teriam saído recursos para palestras do ex-presidente e doações ao Instituto Lula.
Pelas declarações do ex-ministro, o ex-presidente sabia do loteamento das diretorias da Petrobras para partidos políticos e encomendou que os diretores encaminhassem "reservas partidárias". Palocci também deixou claro que a relação entre Odebrecht e Lula era "muito aberta" e que, somente entre o fim de 2013 e o início de 2014, a empreiteira repassou R$ 4 milhões para cobrir um rombo nas contas do Instituto Lula.
Dilma Rousseff
Entre suas declarações, Palocci afirmou que Dilma conhecia o esquema de corrupção entre o PT e empreiteiras e inclusive era uma das beneficiárias e mantenedora dos acertos. Segundo o ex-ministro, a Odebrecht manteve "relação bastante intensa, bastante movida a vantagens dirigidas à empresa, a propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos em forma de doação de campanha, em forma de benefícios pessoais, em forma de caixa 1 e caixa 2" nos governos Lula e Dilma.
Diante de Moro, o ex-ministro citou assuntos supostamente discutidos na presença da ex-presidente e que dependeram de sua chancela. Um dos episódios teria ocorrido em 2010, quando Palocci diz ter se encontrado com Lula, Dilma e José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, para debater os contratos de exploração do pré-sal. Na ocasião, o ex-presidente teria afirmado que gostaria de usar os projetos da estatal para financiar a campanha "dessa companheira aqui (Dilma), que eu quero ver eleita presidente do Brasil".
Palocci também mencionou que Dilma esteve em reuniões com Emílio e Marcelo Odebrecht discutindo a participação da empreiteira em obras da União. Pela versão do ex-ministro, a campanha à reeleição da petista foi marcada pelo uso de doações eleitorais oficiais para esconder o pagamento de propina.