Depois de um início de manhã tranquilo em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, a tensão começa a se elevar na vigília ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta sexta-feira (6). O petista passou a noite no prédio da entidade, e o número de apoiadores do lado de fora aumenta desde as 10h. Gritos contra a imprensa e o juiz federal Sergio Moro, que expediu o mandado de prisão de Lula, são ouvidos a todo instante.
Em conversas nas calçadas, defensores do ex-chefe de Estado falam em "resistir" e dificultar a chegada da Polícia Federal ao local, caso Lula não se entregue na capital paranaense até as 17h, como determina a ordem judicial.
O petista chegou à sede do sindicato, seu berço político nos anos de 1970, no fim da tarde de quinta-feira (5). E, até agora, lá permanece.
Do lado de fora, militantes do PT, sem-teto, sindicalistas, integrantes de movimentos sociais, comunistas e simpatizantes se aglomeraram para recebê-lo. Na sequência, líderes políticos discursaram no carro de som. Nos intervalos, samba e forró tocavam nas caixas, enquanto vendedores ambulantes comercializavam churrasquinho e cerveja.
Às 2h, Lula apareceu na janela, no segundo andar do edifício. Mandou beijos, abanou e fechou o punho como se comemorasse vitória. A catarse foi imediata: na rua, os apoiadores entoaram, em uníssono, "Lula, guerreiro do povo brasileiro ", repetidas vezes.
A madrugada avançou, e muita gente deixou o local. Mas muitos ficaram também.
Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto que vivem na Ocupação Povo Sem Medo, em São Bernardo, montaram um barracão com ripas de madeira e lonas. Em um panelão prepararam arroz. No entorno, espalharam colchões e travesseiros ao relento.
Até as 8h desta sexta-feira (6), a maioria ainda dormia no local, com cobertores e bandeiras vermelhas. Aos poucos, o povo começou a levantar e a tomar café. Ao fundo, o zumbido dos helicópteros das redes de TV era mais alto do que a modinha sertaneja tocando na Kombi estacionada logo ali.
A partir das 10h, quando já havia se espalhado a notícia de que Lula não pretendia deixar o local para ir a Curitiba, o movimento começou a crescer, e a tendência é de que siga aumentando ao longo da tarde.