O Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) irá oferecer a partir de abril o curso de extensão chamado O Golpe de 2016 e a Nova Onda Conservadora no Brasil. Com a participação de, pelo menos, 20 professores, a atividade abordará o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff sob diferentes temáticas. O curso será oferecido aos alunos de graduação e pós-graduação da universidade interessados no debate.
Segundo a diretora do IFCH, Claudia Wasserman, a extensão tomará como base a área de pesquisa de cada professor. Entre os temas que serão debatidos pelos docentes estão a democracia, as relações de gênero, o papel da mídia, a ditadura militar, os movimentos sociais e os aspectos legislativos.
— Eles vão abordar os temas que pesquisam diante do golpe de 2016. Em resumo, a gente acha que foi golpe — afirma Claudia, que vai tratar da "democracia estressada na América Latina".
Professor do Departamento de História da UFRGS, Francisco Marshall defende que essa é uma forma de compreender um fenômeno histórico.
— A finalidade aqui não é de política partidária, é acadêmica. Até hoje tem gente que acha que a tomada de poder de 1964 foi uma revolução e não foi golpe. No Brasil, como esse episódio é recente, ainda há uma parte da população que foi às ruas e que não quer vestir a manta de golpista. Isso cria um ambiente tenso e passional. Todavia, a tomada de poder é um processo político muito conhecido, desde a Grécia Antiga.
O professor considera que o fim do governo Dilma teve novidades em relação a outros casos históricos de tomada de poder.
— Na América Latina isso se deu até o passado recente com forças militares, mas no século 20 outras forças também interferem. A entrada das Forças Armadas é posterior ao fato. Enquanto antes ela inaugurou o processo, agora ela se associou ao processo. A tomada de poder nesse caso foi alvo de um processo muito complexo, de muitos agentes, que precisa ser entendido. E as universidades querem analisar este fenômeno.
Vou estudar com mais calma o caso e ver o que fazer, se ingresso com alguma ação judicial ou notifico o Ministério Público
clique aqui para ler a matéria
É preciso estudar como esse processo se produz na sociedade. E quem acha que não foi golpe que crie seu curso.
clique aqui para ler a matéria
Curso foi inspirado em experiência da UnB
O curso de extensão da UFRGS foi montado com base na experiência do professor Luis Felipe Miguel, da graduação em Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB), que passou a oferecer a disciplina optativa "O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil". Após a divulgação do curso, o ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho, informou pelo Twitter que solicitou à Advocacia-Geral da União, ao Tribunal de Contas da União e ao Ministério Público Federal a apuração de improbidade administrativa dos responsáveis por criarem a disciplina.
Os professores do IFCH da UFRGS divulgaram uma nota contra a decisão do ministro na qual afirmam que o "Instituto sublinha o seu comprometimento com a autonomia universitária e reforça seu compromisso histórico com a liberdade de ensino e a independência necessária para que a comunidade científica brasileira possa levar adiante o seu labor".
Para o professor Marshall, o ministro feriu "a autonomia acadêmica e tentou impedir o conhecimento" e, ao mesmo tempo, incentivou os demais docentes a se posicionarem.
— É um ciclo que agora se tornará imperativo na agenda acadêmica brasileira e será difícil compreender a universidade que não realizar essa agenda. O ministro só teve o desatino de acelerar esse processo. As universidades devem esse compromisso com a sociedade, que é converter em conhecimento as opiniões, as teses diferentes.
O curso
O IFCH é constituído por quatro cursos de graduação: História, Filosofia, Ciências Sociais (Antropologia, Sociologia e Ciência Política) e Políticas Públicas. Os professores dessas áreas farão minipalestras, de 15 a 20 minutos, sobre o tema e depois abrirão espaço para debate. O curso terá início na primeira semana de abril, com data e local a serem definidos. Devem ser realizados de um a dois encontros semanais. O curso está sendo inserido no sistema de extensões. Na próxima semana, quando reiniciam as aulas, deve começar a ser divulgado. Os alunos poderão se inscrever pelo site. A expectativa é de que sejam disponibilizadas cerca de 200 vagas.
Os temas*
Luis Alberto Grijó - Capítulos de um golpe anunciado: a mídia empresarial brasileira
Fernando Nicollazi - A educação golpeada
Natália Pietra Mendez - As mulheres e a resistência ao golpe de 2016
Claudia Wasserman - A democracia estressada na América Latina: derrotas sucessivas
Arthur Ávila - O neoliberalismo e o golpe de 2016
Benito Schmidt - Golpe, relações de gênero e pessoas LGBTTTQ
Alfredo Gugliano - O golpe de 2016 e a desdemocratização do Brasil
Caroline Bauer - Os usos do passado e(no) golpe de 2016
Marcelo Kunrath - Movimentos sociais, contramovimentos e o golpe de 2016
Céli Pinto - A democracia estava indo longe: o golpe de 2016
Temístocles Cezar - História e memória no presente
Clarice Speranza - O trabalho golpeado
Mara Cristina de Matos Rodrigues - A BNCC e o golpe
*Definidos até 1º de março.