Após três anos liderando uma ampla aliança à frente do Estado, o governador José Ivo Sartori começa 2018 tentando segurar uma debandada dos apoiadores. Depois de perder o PDT em abril e o PSDB há uma semana, Sartori agora luta para preservar o PP, dividido entre a candidatura própria e o apoio ao tucano Eduardo Leite.
Há poucos dias, a cúpula do governo enviou um recado aos progressistas: Sartori cogita concorrer ao Senado, batendo com a candidatura à reeleição de Ana Amélia Lemos (PP). Nessa hipótese, o candidato do governo ao Piratini seria o vice-governador José Paulo Cairoli (PSD) ou o ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra (PMDB).
O movimento coincide com outra articulação na base governista. Em almoço da direção do PSD há duas semanas, o senador Lasier Martins, o deputado Danrlei e o presidente estadual da sigla, Humberto Chittó, convidaram Cairoli a concorrer a governador.
– Ficou acertado que ele vai para a disputa – relata Lasier.
Todos esses arranjos ainda são muito embrionários. Osmar Terra, por exemplo, não tem pretensões de concorrer a governador e seu nome foi usado pelo Piratini a sua revelia – vai disputar a reeleição a deputado federal. Cairoli cultiva essa ambição, mas, a despeito de o PSD se sentir subvalorizado e insistir na candidatura própria, só aceita assumir a cabeça de chapa se for o candidato oficial do governo, ou seja, com Sartori disputando outro cargo.
– Sartori acha que já cumpriu seu papel, sabe o desgaste que precisou enfrentar e o preço que pagou. Então, agora entende que é melhor construir um nome para dar continuidade ao projeto. Mas se for candidato, jamais Cairoli iria contra ele – garante um assessor palaciano.
A cartada governista pode ser um blefe, mas tem endereço certo e assustou o PP. Por enquanto, o partido tem como postulante ao Piratini o deputado federal Luis Carlos Heinze, porém, cresce rápido um movimento interno para rifar sua candidatura, mesmo contra a vontade das bases.
A articulação tem origem no gabinete de Ana Amélia, que teme sofrer prejuízos eleitorais em um voo solo do partido. Sartori conhece as preocupações da senadora e sabe que ninguém tem mais influência dentro do PP do que ela.
A partir da pressão de Ana Amélia e da ameaça governista, alguns dirigentes do partido já consideram inviável montar uma aliança competitiva com a sigla ocupando a cabeça de chapa e ainda uma das vagas ao Senado. Restaria apoiar Leite ou o próprio Sartori, tirando o governador da corrida ao Senado.
– Ana Amélia é nossa prioridade. Ela vai decidir a questão e não quer o Heinze de candidato. Ela gostaria de apoiar o Eduardo Leite, mas acredita que apoiando Sartori sua reeleição é mais tranquila – comenta um graduado progressista.
Os passos do PP são acompanhados de perto por PSDB e PTB. Os dois partidos têm candidatos ao Piratini e consideram o PP peça fundamental por conta da capilaridade no interior do Estado. Nas conversas preliminares entre as três legendas, há quem diga que uma eventual tríplice aliança formaria uma chapa dos sonhos, com Eduardo Leite ao governo, o delegado petebista Ranolfo Vieira Júnior de vice e Ana Amélia ao Senado.
Secretário de Segurança em Canoas, Ranolfo é pré-candidato a governador e vem sendo preparado pelo partido para a disputa. A prefeitura, administrada pelo presidente estadual do PTB, Luiz Carlos Busato, alardeia redução nos índices de violência no município e aposta nesse discurso como plataforma eleitoral.
Entusiasta da candidatura própria, Busato rejeita apoio a Sartori e diz que o próprio PP não quer Heinze de candidato, fatores que aproximam os trabalhistas dos tucanos.
– Vamos sentar e conversar, ver quem tem mais bala na agulha, mas creio que Eduardo Leite seria o único pelo qual o PTB toparia ceder a cabeça de chapa – avalia Busato.
No final de novembro, as duas bancadas almoçaram juntas na Assembleia, com a presença de Leite. Ex-prefeito de Pelotas, o tucano cita as alianças entre os partidos na cidade, em Bagé e inclusive na Capital como exemplo da boa convivência. E sugere a criação de grupos temáticos pluripartidários para discutir uma agenda de governo.
– Vamos ver as afinidades que temos sobre áreas essenciais, como segurança, educação, ajuste fiscal, e, depois, discutir quem lidera o projeto. Pode ser até por meio de pesquisas – diz Leite.
Olhando toda essa movimentação dos partidos aliados e ainda sem decidir seu futuro político, Sartori tem cumprido agenda de candidato, entregando pequenas obras e dando atenção especial à segurança pública. O governador tem consciência de que precisa colocar os salários do funcionalismo em dia para se mostrar competitivo. Para tanto, aposta na assinatura do acordo com a União, na obtenção de um empréstimo para financiar a folha, na venda de ações do Banrisul e no leilão com deságio de recebíveis do governo, tudo como forma de incrementar o caixa no ano eleitoral.
– Não vamos segurar ninguém. Vamos reorganizar a base para uma nova eleição. Sartori está viabilizando essa massa falida que é o Estado. Ele não vai se lançar candidato agora, mas se alguém merece a chance de dar continuidade a esse ajuste das contas é ele – afirma o presidente estadual do PMDB, deputado federal Alceu Moreira.