Paulo Ferreira, ex-tesoureiro do PT e ex-deputado federal petista pelo Rio Grande do Sul, é o alvo mais vistoso da 31ª fase da Operação Lava-Jato, deflagrada nesta segunda-feira. Ele teria facilitado a obtenção de propina para o partido – e para si – em contratos da Petrobras. Em especial do contrato celebrado para a construção do novo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da empresa, cujo nome oficial é Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes) situado no Rio de Janeiro.
Segundo os investigadores, o grupo envolvido no esquema teria movimentado R$ 39 milhões em subornos. Ferreira, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF), teria recebido R$ 1 milhão.
– Os valores foram recebidos por meio de contratos simulados e repassados a pessoas físicas e jurídicas relacionadas com Paulo Ferreira, inclusive em favor dele próprio, familiares, blog com matérias que lhe são favoráveis e escola de samba – destacam procuradores da República que investigam o caso.
Os procuradores não detalham quais blogs foram beneficiados, mas em relação a escolas de samba há um vínculo antigo de Paulo Ferreira. Ele já foi homenageado por duas entidades carnavalescas de Porto Alegre, nos últimos anos. Em 2009, a Império da Zona Norte bordou uma bandeira oficial com o nome de Ferreira, durante inauguração da quadra, encabeçada pelo ex-deputado petista. Já em 2016, no último Carnaval, a Academia de Samba Praiana levou à avenida o samba "Uma declaração de amor em Verde e Rosa: Paulo Ferreira, um homem do Carnaval". As cores mencionadas são as da Praiana, e o enredo fala da trajetória do ex-deputado e ex-tesoureiro do PT. As doações de Ferreira às duas escolas serão investigadas pelo MPF. Segundo a investigação, dinheiro de propina foi feito também para a Estado Maior da Restinga – R$ 180 mil em quatro pagamentos.
A operação da Lava-Jato mira licitações de três grandes obras de construção civil abertas pela Petrobras em 2007: a Sede Administrativa em Vitória/ES, o Centro Integrado de Processamento de Dados (CIPD), no Rio, e o Cenpes. Conforme acordo de colaboração premiada feita pelos dirigentes da empresa Carioca Engenharia, as principais empreiteiras participantes daquelas licitações se ajustaram num grande cartel, fixando preços e preferências. Foram elas a OAS, Carioca Engenharia, Construbase Engenharia, Schahin Engenharia e Construcap CCPS Engenharia, integrantes do Consórcio Novo Cenpes.
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O MPF afirma que essas empresas pagaram, entre 2007 e 2012, R$ 18 milhões para que a WTorre (uma empresa concorrente) saísse do certame, permitindo que as demais renegociassem o preço com a Petrobras. Concretizado, o contrato com a petroleira ficou no valor de R$ 849,9 milhões. Para fechar o acerto, as empresas ofereceram propina a funcionários da Petrobras e, também, a Paulo Ferreira – segundo a delação feita pelos dirigentes da Carioca. Confirmaram também o acerto de subornos o ex-dirigente da Petrobras Pedro Barusco e o lobista Mário Góes, ambos colaboradores da Lava-Jato. As propinas giravam em torno de 2% do valor do contrato, tendo sido destinadas ainda ao ex-Diretor da Petrobras Renato de Souza Duque e a agentes do PT.
Também identificados pagamentos ilegais de R$ 16 milhões transferidos a Adir Assad, R$ 3 milhões para Roberto Trombeta e Rodrigo Morales, US$ 711 mil (cerca de R$ 2,3 milhões) para Mario Goes e R$ 1 milhão para Alexandre Romano (ex-vereador do PT) – que foi transferido diretamente para Paulo Ferreira, de acordo com o MPF. Então secretário de Finanças do PT, Ferreira teria recebido o valor por meio de três empresas de Romano: a Oliveira Romano Sociedade de Advogados e a Link Consultoria Empresarial e a Avant Investimentos e Participação Ltda.
– Os valores foram recebidos por meio de contratos simulados e repassados a pessoas físicas e jurídicas relacionadas com Paulo Ferreira, inclusive em favor dele próprio, familiares, blog com matérias que lhe são favoráveis e escola de samba – destacam procuradores da República que investigam o caso.
Adir Assad já foi preso na última semana, na denominada "Operação Saqueador". O MPF teve acesso também a dois contratos falsos firmados por ele com empresas controladas por Trombeta e Morales. O coordenador da Força Tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, ressaltou a interconexão com investigações deflagradas na última semana:
– Três operações da última semana, Saqueador, Custo Brasil e a de hoje, são ramos de uma mesma árvore. Juntas formam um ícone da recente articulação da Justiça que começa a cercar em diversas frentes de investigação de desvio de dinheiro público que se interconectam. É expressão disso o fato de que há alvos em comum entre Lava Jato e as demais, como Adir Assad, no caso da Saqueador, e Paulo Ferreira, na Custo Brasil. É preciso uma atuação interinstitucional firme contra a corrupção se desejamos que os demais ramos dessa mesma árvore possam produzir frutos como a Lava Jato – conclui.
* Zero Hora