A Operação Lava-Jato é "imprevisível", e, por isso, não é possível estabelecer um prazo para o fim das investigações. O recado foi dado pelo procurador da República Deltan Dallagnol em um evento na Universidade de Oxford, na Inglaterra.
– É difícil prever o fim, mas poderia dizer que, com certeza, não existe um marco próximo para acabar – comentou, após palestra no evento Brazil Forum 2016.
A declaração vai na contramão de recente discurso do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, que defendeu que a operação tem hora de parar. Coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol não citou o nome do ministro do governo Michel Temer, mas disse que a investigação é dinâmica e delações têm acontecido frequentemente, o que pode expandir o campo de trabalho dos procuradores.
– As investigações são muito dinâmicas. Quando elas se expandem, não dá para colocar um marco. É uma investigação em andamento e as investigações são muito dinâmicas. Imprevisíveis – declarou a jornalistas após palestra no evento organizado por alunos brasileiros da Universidade de Oxford e da London School of Economics.
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O recado do procurador acontece dias após o ministro da Casa Civil cobrar o fim das investigações. Em evento em São Paulo durante a semana, Eliseu Padilha disse "ter certeza de que as autoridades da Lava-Jato saberão o momento de pensar em concluir".
Em Oxford, o procurador explicou que, quando os acordos de colaboração trazem novos elementos, a apuração avança. E como não é possível prever o rumo das investigações ou o conteúdo de eventuais novas delações, também não é possível planejar o fim das investigações.
– Sempre que você encontra uma nova ligação, você pode expandir a investigação para novas frentes – mencionou.
Uma dessas frentes é a Caixa Econômica Federal. O banco estatal já está no radar dos procuradores desde a delação de André Vargas, mas nesta semana o ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, homologou a delação do ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Fábio Cleto.
Durante a palestra, Dallagnol citou que a investigação no banco federal está "em plena expansão".
– O grande esquema da Petrobras não é isolado. Não há razão para só existir na Petrobras – salientou.
Ação de "poderosos" e comparação com Itália
Conforme o procurador, o avanço da operação Lava-Jato não será suficiente para transformar o Brasil.
– A corrupção não é do partido A ou do B, um problema do governo A ou B – ilustrou.
Ele comentou, ainda, que boa parte do sucesso da operação pode ser atribuída à percepção dos envolvidos de que haverá punição.
– Sem punição, não haveria colaboração. Se a alternativa é impunidade, não vai fazer a colaboração. As pessoas passaram a acreditar que poderiam, como no mensalão no caso do Marcos Valério, ser punidas – disse o procurador. –Elas precisavam de alternativa, e a solução negociada era melhor do que a disputa processual. É o efeito Marcos Valério – concluiu.
Ao ser questionado sobre a ação de "poderosos" contra a atuação dos procuradores que investigam os atos ilícitos, Dallagnol afirmou que essa não é uma reação incomum.
– Na Itália, foi assim – mencionou, ao comentar o desdobramento da operação Mãos Limpas, que ocorreu no país europeu. – A grande questão é saber da sociedade brasileira para onde queremos ir. Vamos permitir que esse sistema seja mantido ou nós queremos combate à corrupção? Essa é a grande questão – acrescentou.
Em infográfico, confira os desdobramentos da Lava-Jato: