Qualquer que seja o seu voto, o decano Celso de Mello será crucificado pelos descontentes ao final da sessão desta quarta-feira. Por ser o último a votar em um julgamento que está empatado, levará a culpa pelo resultado, como se os outros cinco que adotaram posição idêntica não contassem. Às portas da aposentadoria, será escrito o capítulo mais polêmico da extensa biografia do homem que decidirá se cabem ou não embargos infringentes no caso dos condenados com pelo menos quatro votos pela absolvição.
Celso de Mello encarna o drama de todo juiz: sempre desagradará a uma das partes em litígio. A história do ministro tem controvérsias, mas merece respeito. Jogar sua biografia na fogueira pelo voto que der nesta quarta-feira, seja qual for, é desumano.
Em um julgamento com os ingredientes políticos do mensalão, o ministro se alterna nas posições de herói e de vilão, dependendo de seus votos. Em 2012, quando condenou os réus e fez manifestações agudas contra a corrupção, virou inimigo dos mesmos líderes petistas que agora veem nele uma esperança de abrandamento das penas impostas a José Dirceu e José Genoino, por exemplo.
Em outubro do ano passado, o jornalista Augusto Nunes, blogueiro da revista Veja, chegou a lançar um manifesto com o título "Fica, Celso de Mello" e o definiu como "a face luminosa do Brasil". Diz o texto que, "no julgamento do mensalão, esse paulista de Tatuí lavou a alma dos brasileiros decentes com votos que não se limitaram a reafirmar que ainda há juízes num país em decomposição moral. O desempenho do ministro mostrou que, enquanto existir um Celso de Mello no Supremo, os liberticidas que lutam pela captura do Estado Democrático de Direito não passarão".
Em dezembro, o ministro se atritou com o então presidente da Câmara, Marco Maia (PT), que se recusava a acatar a tese de que uma condenação criminal leva automaticamente à cassação do mandato de deputados. Em uma entrevista à Folha de S.Paulo, Celso afimou: "A insubordinação Legislativa ou Executiva diante de decisão judicial revela-se comportamento intolerável, inaceitável e incompreensível".