A disposição do governador Eduardo Leite em não concorrer a cargo público nas eleições de 2026 movimenta a sucessão ao Palácio Piratini. Nos círculos mais restritos do poder, fermenta a possibilidade de Leite lançar um candidato tucano ao governo do Estado, rompendo a aliança com o MDB.
Tal cenário leva em conta o vigor político exibido pelo prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), reeleito com 61,5% dos votos há 10 dias. No entendimento do grupo de Leite, o vice-governador Gabriel Souza (MDB), candidato natural da situação, corre o risco de perder espaço dentro do próprio partido para Melo, que mantém relação distante da dupla que comanda o Estado.
Ante a possibilidade de o prefeito postular uma candidatura a governador, o PSDB sustenta a necessidade de construção de um nome competitivo e que defenda o legado de oito anos à frente do Piratini. Para tanto, Leite vai reforçar a presença do partido no governo, com o ingresso em janeiro dos atuais prefeitos de Pelotas, Paula Mascarenhas, de Santa Maria, Jorge Pozzobom.
Com 28 postos de primeiro escalão, o secretariado tem atualmente apenas dois tucanos, Artur Lemos (Casa Civil) e Luiz Henrique Viana (Sistemas Penal e Socioeducativo). O MDB de Gabriel, por sua vez, tem três pastas (Agricultura, Transportes e Desenvolvimento Social), todas de maior apelo eleitoral em relação às do PSDB.
No redesenho da equipe, Pozzobom ainda não tem cargo definido, mas espera obter um espaço de visibilidade que possa alavancar uma candidatura a deputado estadual. Já Paula é cotada entre os auxiliares mais próximos de Leite para assumir a Educação, secretaria de maior orçamento, que está nas mãos de Raquel Teixeira e cujos resultados são prioridade neste segundo mandato. Amiga pessoal do governador, de quem desfruta da mais estrita confiança, Paula surge como favorita para ser ungida como candidata genuína à sucessão.
O complicador nessa operação política é romper o acordo com Gabriel, um aliado que sempre se manteve fiel a Leite. Em 2022, o emedebista venceu uma disputa interna contra seu padrinho político, o deputado Alceu Moreira, para ser pré-candidato ao Piratini. Depois, carregou o partido para a aliança com os tucanos, ficando com a vaga de vice.
A movimentação, que fez o MDB pela primeira vez abdicar de candidatura própria a governador, causou discórdia na legenda. O grupo de Alceu, mais posicionado à direita do MDB, ainda hoje culpa Gabriel pela redução das bancadas na Assembleia, de oito para seis deputados, e na Câmara, de quatro para três. No segundo turno, Melo ignorou a orientação partidária e fez campanha para Onyx Lorenzoni (PL) contra a chapa PSDB-MDB.
O acordo firmado com Leite concedia ao vice a primazia de ser o candidato governista em 2026. Para se proteger de ressentimentos no MDB, Gabriel cedeu espaços estratégicos no governo e reforçou o controle sobre a executiva e o diretório estadual. Todavia, a redução no número de prefeituras do MDB na eleição municipal, de 135 pra 126, vem sendo atribuída ao grupo de Gabriel, enquanto a vitória robusta em Porto Alegre, é creditada a Melo e à ala bolsonarista do partido.
O êxito eleitoral desta composição política já projeta uma aliança para 2026. Embora Melo venha afirmando que pretende cumprir o mandato até o final, ele está contratando profissionais para ampliar a imagem pública. Ao mesmo tempo, ganha força em conversas reservadas a formação de uma aliança tendo Melo ao governo do Estado, o PP indicando o vice e PL e Novo disputando as duas cadeiras ao Senado.
É para se prevenir de tal construção que Leite vislumbra dar musculatura a uma candidatura tucana à própria sucessão. Quem desfruta da intimidade do governador considera difícil ele entregar a candidatura a alguém de outro partido. Para Gabriel ser esse nome, asseguram, teria de filiar-se ao PSDB, a exemplo do que fez Paula Mascarenhas quando concorreu à sucessão de Leite na prefeitura de Pelotas, em 2016, e o ex-vice-governador Ranolfo Vieira Jr. quando tentou disputar o Piratini em 2022.
Após a publicação da reportagem, o governador Eduardo Leite informou que "a prioridade absoluta do governo é a reconstrução do nosso Estado, tema no qual o vice-governador Gabriel Souza tem papel fundamental, tanto que é o presidente do Conselho do Plano Rio Grande. Trata-se de uma missão muito importante para a participação da sociedade no processo da reconstrução. Gabriel é o candidato natural à sucessão. Entretanto e no momento oportuno, o tema será tratado em conjunto com toda a base do governo."