Prestes a ingressar no biênio final do mandato, o governador Eduardo Leite prepara mudanças no secretariado enquanto estuda o próprio futuro político para 2026. Cada vez mais disposto a não concorrer na próxima eleição, adiando a aspiração à Presidência da República, Leite tem como prioridade incorporar ao governo a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas.
Amiga pessoal de Leite, Paula sucedeu o tucano no comando do município em 2017 e em dezembro conclui o segundo mandato. O governador já formalizou o convite para que ela ocupe um espaço no secretariado, mas o cargo ainda não foi definido.
Diante da atual configuração política do primeiro escalão, não há muita margem de manobra nos 28 postos. O tucano fez mudanças recentes em cinco pastas (Agricultura, Comunicação, Desenvolvimento Rural, Turismo e Esporte), não pretende mexer em nomes de MDB e PP, principais partidos da base de sustentação na Assembleia Legislativa, e tem quase metade do governo composto por quadros técnicos (13 secretários).
Nesse cenário, cresce a chance de Paula assumir a Secretaria de Educação, ocupada por Raquel Teixeira. Ex-deputada federal, que já ocupou a mesma pasta em Goiás, Raquel está no cargo desde abril de 2021.
Outra possibilidade cogitada por Leite é aproveitar a experiência de Paula na condução do Pacto pela Paz, programa que reduziu violência e criminalidade em Pelotas. Para tanto, ela ocuparia a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, hoje aos cuidados de Fabrício Peruchin, do União Brasil, ou a de Sistemas Penal e Socioeducativo, cujo titular é o tucano Luiz Henrique Viana.
Definição após viagem
A prefeita disse a Leite se sentir incomodada em tirar o lugar de um amigo, caso de Viana, e considera a Justiça e Direitos Humanos mais próxima de seu perfil político, o que acarretaria na perda de espaço do União Brasil. Nesse caso, não se descarta uma composição em que Peruchin migre para a Secretaria de Sistemas Penal e Viana seja aproveitado em outro cargo, movimento idêntico ao ocorrido com o também tucano Mateus Wesp.
Assim como Viana, Wesp não se reelegeu deputado e assumiu a Justiça em 2023, mas acabou sendo deslocado para a assessoria especial do governador quando Leite precisou incorporar o Republicanos ao governo. Leite e Paula conversaram mais uma vez sobre o tema nesta terça-feira, mas a definição só irá ocorrer após a volta do governador da viagem oficial ao Japão, dia 28 de novembro.
Prefeito de Santa Maria também é cotado
Outro prefeito do PSDB que ingressará no governo é Jorge Pozzobom. Fortalecido após eleger o sucessor em Santa Maria, Pozzobom tem conversado sobre 2025 com o chefe da Casa Civil, Artur Lemos. Candidato a deputado estadual em 2026, o prefeito aspira um posto de visibilidade, mas Leite ainda não se debruçou sobre a questão.
Por ora, o governador tem refletido sobre o próprio futuro. Após perder a prévia tucana e não conseguir viabilizar uma candidatura presidencial em 2022, Leite revê os planos. A pessoas próximas, ele confidencia a vontade de encerrar o atual mandato e não concorrer em 2026.
Vislumbrando uma nova disputa polarizada ao Planalto, Leite tem dito que só toparia a empreitada caso tivesse uma infraestrutura robusta o suficiente para enfrentar as máquinas petista e bolsonarista.
Mais uma vez, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, acena com uma candidatura, mas Leite enxerga dubiedade no dirigente que tem três ministérios no governo federal ao mesmo tempo em que é o estrategista-mor do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tido como candidato natural da direita à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Cotado também para disputar uma cadeira no Senado, o governador descarta tal possibilidade. Leite diz não ter vocação para o Legislativo e ironiza conjecturas em torno de seu nome, inclusive o desejo de Lula de fazer o PT lhe apoiar informalmente em 2026 como forma de evitar a eleição de um senador bolsonarista pelo RS.
Com vários convites da iniciativa privada para atuar como executivo após encerrar o mandato, cresce em Leite a disposição de morar em São Paulo, onde recém comprou apartamento no bairro Pinheiros com o marido, o médico Thalis Bolzan. A princípio, seria um retiro temporário da política, semelhante ao movimento que realizou em 2016, quando não concorreu à reeleição à prefeitura de Pelotas e se elegeu governador dois anos mais tarde.