Os desafios previstos no Plano de Desenvolvimento Econômico detalhado nesta quarta-feira (30) pelo governo do Estado são gigantescos em todos os eixos, mas nenhum é mais complexo do que o do capital humano. É ele a base de todo o arcabouço e os formuladores tiveram a sensibilidade de entender que sem capital humano não existe inovação, exploração adequada dos recursos naturais, infraestrutura e logística, ambiente de negócios. Por mais que a inteligência artificial esteja se infiltrando em todo o processo produtivo, sempre haverá necessidade de homens e mulheres capazes de pensar e de fazer o que as máquinas não fazem.
A consultoria McKinsey captou bem a necessidade de formar e reter talentos no Rio Grande do Sul. O difícil é transformar esse diagnóstico em ações no prazo curtíssimo que a urgência exige. Educação é a palavra-chave e o governo se propõe a investir em escolas de tempo integral no Ensino Médio, em medidas para melhorar a aprendizagem e em escolas técnicas. Mas o que deveria ser para ontem ainda está no futuro do presente.
Na prática, a meta é chegar a 50% das escolas de Ensino Médio com turno integral até o final deste governo. E os outros 50%? Pergunta a ser feita para o sucessor de Eduardo Leite. O plano prevê investimento em inteligência artificial, mas ainda temos alunos saindo do Ensino Fundamental sem saber ler, interpretar um texto ou fazer as quatro operações. As crianças ainda estão na fase da alfabetização digital e precisamos de profissionais capazes de tirar o máximo da inteligência artificial.
A ampliação e valorização do Ensino Técnico está entre as ações necessárias para o aumento da produtividade, que compensará o envelhecimento da população, mas como estão as escolas tradicionais do Rio Grande do Sul? Cadê o Parobé, que já foi uma escola técnica de excelência? A Liberato Salzano, com uma capacidade extraordinária de formar técnicos de diferentes áreas, carece de professores. Sua estrutura comportaria o dobro dos alunos que tem hoje, mas é preciso contratar mais professores e substituir a rede elétrica do prédio para aumentar a oferta de vagas.
As escolas agrícolas, que sempre formaram bons técnicos para o campo, já deveriam estar redesenhadas e operando para preparar essa mão-de-obra sofisticada que a agricultura de alta precisão exige e tem dificuldade para encontrar.
Há outro ponto decisivo para que o plano deslanche em matéria de formação de capital humano: o baixíssimo número de jovens fluentes em inglês ou mesmo em espanhol. Embora seja disciplina obrigatória nas escolas, são raras as que realmente conseguem ensinar uma língua estrangeira, seja pela baixa carga horária, seja pela formação deficiente dos professores. O turno integral seria um caminho, mas isso é futuro do pretérito.
Ainda que se resolva o problema da formação com um mutirão para oferecer aos alunos o conteúdo que o mercado exige hoje, resta o problema da retenção de talentos. Os secretários e o vice-governador Gabriel Souza, que participaram da apresentação para jornalistas, não têm respostas definitivas.
Dizem os porta-vozes do governo que o problema dos salários, bem inferiores aos que as empresas estrangeiras pagam (em moeda forte), se resolve com o aquecimento da economia e a concorrência. Hoje a concorrência já existe e, mesmo assim, o que se paga para profissionais de tecnologia da informação, por exemplo, trabalharem em modo presencial é inferior ao oferecido em São Paulo ou por empresas estrangeiras para que trabalhem em modo remoto, de qualquer lugar.
Claro que não é só o dinheiro que conta, mas como convencer um jovem de 25 anos de que ele deve continuar no Rio Grande do Sul, podendo ganhar mais em São Paulo? Dizer que nosso céu é mais azul ou que aqui é "onde tudo o que se planta cresce e o que mais floresce é o amor" são versos para atrair turistas, mas será que convencem os que se foram a voltar para a terra natal?
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