A maior parte dos prefeitos das 10 cidades mais afetadas pela enchente de maio não passou incólume pelas urnas. Somente dois dos chefes do Executivo destes municípios se elegeram ou fizeram seus sucessores no domingo (6). Outros dois conseguiram um lugar no segundo turno. Seis localidades optaram por candidatos desvinculados dos atuais comandantes. O levantamento leva em conta os números absolutos de atingidos pela tragédia ambiental com base no Mapa Único Plano Rio Grande.
Guaíba foi o único caso em que houve reeleição, com a vitória de Marcelo Maranata (PDT), por longa margem de votos. Em Esteio, o PL manteve a prefeitura com a eleição de Felipe. A lista ainda pode aumentar com as disputas no segundo turno em Porto Alegre e Canoas.
Sebastião Melo (MDB) esteve a menos de meio ponto percentual de iniciar mais um mandato na Capital e evitar um novo turno contra Maria do Rosário (PT). Na briga pelo seu quarto governo à frente da terceira maior cidade gaúcha, Jairo Jorge terminou na segunda colocação contra Airton Souza (PL).
A situação vista em algumas das cidades atingidas com força pela chuva onde prefeitos ou sucessores indicados receberem alta votação pode causar estranheza. Mas o que acontece nesses casos é enxergar a oportunidade em meio à dificuldade. Com um outro olhar, catástrofes climáticas podem ser vistas como um momento para que os entes políticos de uma localidade mostrem a sua liderança e o poder de resolução de problemas.
Uma pesquisa de doutorado de Ítalo Soares, doutor pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV, mostrou que a ocorrência é menos rara do que se imagina. Quando intempéries climáticas acontecem no ano da eleição, foi constatado um impacto positivo de 447% na chance de reeleição dos prefeitos.
O mesmo não se apresenta quando os fenômenos são mais distantes do período eleitoral. A análise de Soares mostra que casos de seca em 2013 diminuíram a possibilidade de reeleição em 64%. Cheias de 2015 tiveram influência negativa de 98% na eleição do ano seguinte.
— Na ocorrência do desastre, você tem a fase da emergência, quando tudo colapsa e depois uma fase da gestão do pós-desastre. Há uma oportunidade política muito grande para exposição. O prefeito que estava meio apagado estava com uma rejeição alta ganha uma oportunidade de estar todo dia na mídia. A população vê aquele líder ali gerindo pessoas diretamente o que geralmente não acontece — explica Soares.
Ainda assim, São Leopoldo, Rio Grande, Pelotas, Eldorado do Sul, Novo Hamburgo e Alvorada não reelegeram seus prefeitos ou os indicados por eles.
O pesquisador aponta que munícipios com até 50 mil habitantes sofrem um impacto eleitoral maior em tragédias climáticas. Das 10 cidades do levantamento de Zero Hora, apenas Eldorado do Sul conta com população inferior a 50 mil habitantes.
— A pesquisa mostra que o desastre natural é um elemento que importa, mas ele não é um elemento que explica completamente (o resultado da eleição). O contexto local é muito importante. O desastre é um elemento dentro de um conjunto de várias outras variáveis e a trajetória política da cidade vai acontecendo — pontua Sores.
O dinheiro investido na campanha e as alianças políticas são apontados como fatores capazes de sobrepor as catástrofes climáticas durante um período eleitoral.
Confira como foi a eleição em cada uma das 10 cidades mais afetadas pela cheia
Canoas - 157.829 atingidos
Na disputa por seu quarto mandato, Jairo Jorge (PSD) conseguiu avançar para o segundo turno, mas não como o mais votado. O atual prefeito ficou 8.030 votos atrás de Airton Souza (PL). Em percentuais, a disputa ficou em 35,26% contra 29,76%. No terceiro maior colégio eleitoral do Estado, outros aspectos influenciaram o resultado das urnas. Jairo ficou afastado do cargo por 493 dias após ser acusado em um processo que apura suposta fraude em contratos com empresas terceirizadas que prestam serviços à cidade.
Porto Alegre - 125.274 atingidos
O atual prefeito Sebastião Melo (MDB) esteve próximo de liquidar a eleição no primeiro turno. Ele ficou a menos de meio ponto percentual de evitar uma nova disputa com Maria do Rosário (PT). Melo recebeu 49,72% dos votos válidos.
São Leopoldo - 90.371 atingidos
Ary Vanazzi (PT) não fez seu sucessor. Nelson Spolaor, o candidato do partido, obteve 41,34% dos votos. Índice insuficiente para vencer Delegado Heliomar (PL), dono de 51,24% dos votos e prefeito eleito. A diferença entre os dois foi de 10.585 votos.
Rio Grande - 70.930 atingidos
O atual prefeito Fábio Branco (MDB) não estará no comando da cidade a partir de janeiro. Ele ficou na segunda colocação, com 34,12% dos votos. A nova prefeita será Darlene (PT). Ela conquistou 49,13% dos votos, uma diferença de 14.704 eleitores.
Pelotas - 49.795 atingidos
Depois de três mandatos sob o comando do PSDB, Pelotas terá embate entre Marroni (PT) e Marciano Perondi (PL) no segundo turno. O tucano Fernando Estima ficou na terceira posição, com 20,90%. Marciano, o segundo colocado, recebeu 31,67% dos votos, uma distância, em termos brutos, de 18.614 votos.
Eldorado do Sul - 32.509
Foi a disputa mais acirrada dentro do recorte. A diferença ficou em 355 votos em favor de Juliana Carvalho (PSDB). Apesar de ter tido três mandatos à frente da cidade, o atual prefeito Ernani de Freitas Gonçalves (PDT) não elegeu seu sucessor. Apoiado pelo partido, Fabiano Pires (MDB) ficou com 49,09% contra 50,91% de Juliana Carvalho (PSDB).
Guaíba - 31.754 atingidos
É o único caso de reeleição de prefeito. Marcelo Maranata (PDT) teve uma vitória tranquila ao somar 78,18% dos votos contra os 18,76% de Cleusa Silveira. Uma diferença de 31.133 votos.
Novo Hamburgo - 29.161 atingidos
Apoiada pela atual prefeita Fátima Daudt (MDB), Tânia da Silva (MDB) foi a terceira colocada entre os quatros postulantes à prefeitura do município. Ela contabilizou apenas 13,98% dos votos. A cidade do Vale do Sinos será comandada por Gustavo Finck (PL). Ele recebeu 53,32% votos. Fátima comandou o município por dois mandatos, sempre se elegendo pelo PSDB, partido que se desfiliou em 2022. Raizer Ferreira, candidato tucano, terminou na quinta e última colocação, com 6,50% dos votos.
Alvorada - 25.825 atingidos
José Arno Appolo do Amaral (MDB) não conseguiu colocar sua candidata Neusa Abruzzi (MDB) como futura prefeita de Alvorada. O cargo será de Douglas Martello (PL). Neusa ficou na quarta e última colocação, com 10,97% dos votos. Martello liderou a disputa com 32,83% dos votos.
Esteio - 19.970 atingidos
Leonardo Duarte Pascoal (PL) elegeu o seu sucessor. Candidato do partido, Felipe contabilizou 48,23% dos votos.