Os últimos dias dos candidatos à prefeitura de Santa Maria foram de convites para jantar, caminhadas exaustivas ao sol e muitos quilômetros percorridos em carreatas. Tudo para conquistar a maioria dos 209 mil eleitores do maior município da região central do Rio Grande do Sul.
O ambiente cortês que marcou a maior parte da campanha eleitoral, porém, cedeu lugar à troca de acusações mútuas nessa etapa final. Sobretudo após o último debate entre o mais votado no primeiro turno, Valdeci Oliveira (PT), e seu oponente, Rodrigo Decimo (PSDB), realizado na noite de sexta-feira (25) pela RBS TV.
PT e PSDB governaram Santa Maria duas vezes cada um. O próprio Valdeci foi prefeito duas vezes, enquanto o PSDB teve eleito e reeleito Jorge Pozzobom, o atual prefeito. Que tenta emplacar uma terceira gestão tucana por meio de Decimo, que é seu vice e disputa, pela primeira vez, uma eleição majoritária.
No primeiro turno, o metalúrgico e atual deputado estadual Valdeci saiu na frente, com 58,5 mil votos. O empresário e atual vice-prefeito Decimo fez 37,2 mil. O que ambos tentam atrair nesta segunda etapa é o apoio de quem se absteve, os 57,6 mil eleitores que deixaram de votar em Santa Maria. Difícil, mas qualquer conquista pode representar a diferença.
Valdeci conseguiu apoio do PSOL e de sindicatos diversos. Decimo ganhou suporte público de empresários e também de dois candidatos de direita derrotados no primeiro turno: a bolsonarista Roberta Leitão (PL) e o liberal Giuseppe Riesgo (Novo). Caso esses apoios fossem transformados em voto de forma automática, o candidato tucano já poderia comemorar a vitória — mas política não é matemática, envolve variáveis emocionais e subjetivas.
Troca de farpas
Até por isso, os dois candidatos partiram para o ataque nos últimos dias. Durante o último debate, Valdeci cobrou duramente a atual gestão de Santa Maria por não ter implementado o terceiro turno em grande parte dos postos de saúde e também por precariedades no Pronto Atendimento Infantil.
— O senhor não faz nenhuma proposta, o senhor só critica quem fez, quem já foi governo oitp anos. Qual sua proposta concreta pra resolver o drama na saúde? — questionou o candidato do PT.
Decimo respondeu que a pandemia atrapalhou os planos, mas garantiu que o terceiro turno será ampliado e criticou o sucateamento de ambulâncias na época em que Valdeci era prefeito.
Decimo partiu para o contra-ataque e acusou Valdeci de ter uma dívida de R$ 10 milhões com o município (valores atuais) da época em que foi prefeito. São apontamentos do Tribunal de Contas do Estado (TCE) por irregularidades como pagamento de servidores em cargo de confiança e algumas despesas de obras, cujos valores foram considerados exagerados.
— É preciso que o Valdeci pague o que foi estabelecido — alfinetou Decimo.
Valdeci disse que discute os valores na Justiça.
— Eu não devo nada, nunca tirei um centavo de dinheiro público para o município. Porque injustiça eu não vou aceitar. Eu vou continuar governando com seriedade, esse é o meu jeito de governar — retrucou o candidato do PT.
Tanto para o PT como para o PSDB, a vitória em Santa Maria seria vital para manter força estadual em uma eleição na qual ambos os partidos foram mal, com perda de espaço para agremiações mais à direita.
No campo das propostas, muitas ideias dos dois candidatos são iguais. Tapar os buracos da cidade é a promessa mais repetida, assim como dotar o município de um aeroporto civil (hoje funciona junto à Base Aérea).
Os dois aspirantes a prefeito falam em providenciar postos de saúde abertos à noite, Centros de Atendimento Psicossociais (Capes) 24 horas e incrementar de vez o Santa Maria Tecnoparque, o Distrito Industrial e o projeto do Distrito Criativo Centro-Gare (para fomentar economia criativa, com atividades como artes cênicas, arquitetura, audiovisual, publicidade e propaganda, gastronomia, jogos, entre outras).
As ruas santa-marienses estão movimentadas pelos cabos eleitorais neste domingo (27). Os dois candidatos votaram no mesmo horário, 10h, em pontos bem distantes um do outro. Agora pretendem acompanhar em suas residências o cenário eleitoral e devem se pronunciar apenas após os resultados.