CORREÇÃO: o PSDB governa Santa Maria há oito anos, não 13, como publicado nesta reportagem entre as 19h04min e as 22h38min. O texto já foi corrigido.
Em Santa Maria vão para o segundo turno nas majoritárias os dois candidatos que despontavam como favoritos pela força de seus respectivos partidos nas últimas eleições. Valdeci Oliveira (PT) saiu na frente, com 40,63% dos votos válidos. Ele terá o atual vice-prefeito, Rodrigo Decimo (PSDB), na disputa do segundo round deste pleito, que ocorre dia 27. O tucano, quase um oposto do petista na carreira profissional, é novato em política e fez 25,86% dos votos válidos nesta primeira rodada. São dois candidatos de perfis bem diferentes.
Valdeci é de longe o mais experiente dentre os sete que disputavam o comando da maior cidade da região central do Rio Grande do Sul: foi prefeito duas vezes e disputou uma terceira, sem sucesso. Na época, em 2020, perdeu para o PSDB, que ocupa a prefeitura há oito anos.
Valdeci Oliveira, 66 anos, foi metalúrgico e depois virou político de carreira, tendo se transformado num dos expoentes da esquerda na região central do Estado. Líder partidário e sindical conhecido, é filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1986. Foi vereador por dois mandatos em Santa Maria, deputado federal em duas oportunidades, se elegeu prefeito em 2000 e foi reeleito em 2004. Também concorreu à prefeitura local em 2016, mas não se elegeu.
Atualmente, Valdeci é deputado estadual, pelo quarto mandato seguido. Foi presidente da Assembleia Legislativa, em 2022, época em que, por dois dias, de forma interina, foi o governador do Estado. Defende suas duas gestões como prefeito (com retomada de propostas da época) e um dos seus trunfos em busca de votos é a proximidade com o governo federal de Lula, por meio do ministro Paulo Pimenta (PT), que também tem Santa Maria como base eleitoral e que passou a manhã circulando com o candidato petista pelos locais de votação.
Valdeci é candidato por uma federação de esquerda (PT/PCdoB/PV), coligada com o União Brasil, que escolheu o vice, o médico e também ex-prefeito José Farret, de longe o mais experiente candidato santa-mariense nesta eleição. É o trunfo para conquistar eleitores ideologicamente moderados, até conservadores (Farret foi filiado à antiga Arena durante o regime militar e depois fez carreira em partidos de direita). No segundo turno, o petista espera contar com apoio de eleitores de candidatos que perderam o primeiro turno, como o psicólogo Alidio da Luz Silva (PSOL) e o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFRGS) Paulo Burmann (PDT). Ambos com muitos votos entre alunos e professores universitários, que formam uma das grandes comunidades em Santa Maria.
— Somos a candidatura da experiência. Eu e doutor Farret rodamos os quatro cantos dessa cidade e respeitamos quem pensa diferente. Certeza de que o resultado das urnas é consequência desse trabalho.
Rodrigo Decimo (PSDB), 57 anos, não é um político profissional. Engenheiro e empresário da construção civil, atuou em entidades representativas de classe ligadas à construção civil, ramo empresarial e ao comércio, como a presidência da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism). Só ingressou na política em 2020, quando concorreu a vice-prefeito pelo PSL. Em 2024, ingressou no PSDB para ser o candidato a prefeito.
O tucano Decimo defende o legado de oito anos do atual prefeito, Jorge Pozzobom (PSDB), e o governo estadual de Eduardo Leite, do mesmo partido. Aliás, Decimo passou a manhã com Pozzobon ao seu lado, nos locais de votação. Ao lado deles, a professora universitária Lúcia Madruga, sua candidata a vice, que é filiada ao Progressistas. Apesar da pouca experiência política, tem a seu favor uma grande coligação que vai da esquerda à direita do espectro ideológico: PSDB-Cidadania, Progressistas , PSD, PSB e Republicanos.
— Foram muitos candidatos, o que resulta em dissipação de ideias. É verdade que não tenho carreira política e nem pretendo, mas sou experiente em gestão. E tenho senso de missão, boas gestões para defender — disse à reportagem.
Uma das vantagens no segundo turno é que Decimo deve contar com o voto anti-petista e que não é pequeno em Santa Maria. Pelo menos três candidatos que disputaram o primeiro turno têm viés direitista: a bolsonarista Roberta Leitão (PL, professora universitária), o empresário Giuseppe Riesgo (Novo) e o dentista e militar da reserva Moacir Alves (PRD). São gente que tem muito voto no meio militar, importante núcleo em Santa Maria (que congrega o segundo maior contingente de integrantes das Forças Armadas no país).
Dois candidatos saíram maiores no pleito, embora sem chegar à final. Roberta Leitão fez 18,61% dos votos e Riesgo, 10,48%.
Entre vereadores, duas curiosidades. Até o fechamento desta edição estavam se elegendo Valdir Oliveira (PT) – irmão do candidato a prefeito Valdeci – e Admar Pozzobom (PSDB), irmão do atual prefeito, Jorge Pozzobom.
Santa Maria teve uma campanha intensa, mas quase sem incidentes. A exceção aconteceu na manhã da votação. Uma mulher alterada agrediu uma mesária com vários arranhões no peito, porque queria passar na frente dos eleitores que estavam na fila pra votar na Escola Castro Alves. A agressora foi detida em flagrante, mas antes conseguiu votar.
Propostas em comum aos dois candidatos
Em termos de propostas, os dois finalistas das eleições em Santa Maria comungam de algumas ideias em comum:
- Programa de recuperação e expansão de vias.
- Atendimento em saúde também à noite, em todas as regiões. E novas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), assim como equipes de saúde bucal.
- Centros de Atendimento Psicossociais (Capes) 24 Horas.
- Secretaria Nunicipal de Segurança e Plano Municipal de Segurança.
- Novo aeroporto, separado da Base Aérea.
- Resolver definitivamente os problemas das áreas de risco para deslizamentos e inundações.
- Apoio ao Santa Maria Tecnoparque, ao Distrito Industrial e ao Projeto do Distrito Criativo Centro-Gare (que estimula microempresas voltadas sobretudo para as áreas de cultura e lazer).
Há, no entanto, algumas diferenças:
- Os partidos mais à direita vão pressionar Decimo pela redução do número de secretarias, para aliviar o bolso do contribuinte.
- As candidaturas mais à esquerda falam em implementar Escolas em Tempo Integral e programas contra a fome. Querem também mais representatividade para mulheres, comunidades LGBTQIAPN+ e da negritude.