
A campanha para prefeitura de Santa Maria tem sete candidatos, mas, na prática, são seis contra um. O alvo em comum dos opositores é o representante do PSDB, Rodrigo Decimo, que tenta se eleger para garantir mais de uma década consecutiva de gestores tucanos no município da Região Central — o atual prefeito, Jorge Pozzobom (PSDB), foi reeleito e está no poder desde 2017.
Os sete nomes na disputa à prefeitura são, pela ordem alfabética: Alidio da Luz (PSOL), Giuseppe Riesgo (Novo), Moacir Alves (PRD), Paulo Burmann (PDT), Roberta Leitão (PL), Rodrigo Decimo (PSDB) e Valdeci Oliveira (PT).
Dos sete, apenas Valdeci já foi prefeito (por dois mandatos, tendo perdido uma terceira eleição). Decimo é o atual vice-prefeito. Ambos, obviamente, defenderão suas gestões na prefeitura santa-mariense — no caso do petista, de 2001 a 2008, e do tucano, de 2017 até hoje.
Os demais candidatos concorrem pela primeira vez ao Executivo, embora alguns já tenham ocupado cargos públicos. É o caso de Riesgo (ex-deputado estadual) e de Roberta Leitão (vereadora).
Em termos ideológicos, há de tudo, para todos os gostos. As chapas são de direita, centro, centro-esquerda e esquerda, inclusive com alguns ex-oponentes agora coligados.
É o caso do petista Valdeci, metalúrgico que tem como candidato a vice um ex-adversário que fez carreira na direita, o ex-prefeito e médico José Haidar Farret (do União Brasil, mas que foi filiado à Arena durante o regime militar e, depois, ao Progressistas). À reportagem, Valdeci lembra que Farret já apoiou a candidatura Lula em 2022 e tem muito orgulho de contar com a experiência e a sabedoria do ex-prefeito.
À direita deles estão as candidaturas de Roberta e Riesgo, adversários no primeiro turno, mas que podem caminhar juntos num eventual segundo turno. Até porque são críticos contumazes da esquerda.
Ambos apostam num voto mais ideológico: Roberta pelo bolsonarismo, defensora da libertação dos envolvidos nos distúrbios de 8 de janeiro de 2023 em Brasília (a quem chama de presos políticos). Riesgo, com apelo ao livre mercado e menos regulação pelo Estado. Ambos garantem que vão fazer porque não têm a marca do passado, são a renovação de direita.
No campo conservador, também aparece o dentista e ex-militar Moacir Alves, que já foi de seis partidos e agora concorre pelo Partido Renovação Democrática (PRD). A esperança é de muitos votos entre os militares e seus familiares (Santa Maria tem o segundo maior contingente de militares das Forças Armadas no país). Ele teve candidatura impugnada por questões envolvendo contas dos partidos que deram origem ao PRD, mas recorre contra a decisão e seu nome constará nas urnas.
Já o empresário Rodrigo Decimo, candidato do PSDB e atual vice-prefeito, amealha votos de vários campos ideológicos. Mas virou vidraça para críticas dos concorrentes. Defende investimento em vias, postos de saúde à noite e empreendimento criativo, além de um aeroporto regional.
Do outro lado do espectro político vem o pedetista Burmann, dentista e ex-reitor universitário, que defende uma proposta colaborativa de gestão e desenvolvimento na educação e na saúde como pontos centrais.
Bem mais à esquerda surge a candidatura de Alidio da Luz, psicólogo e atual presidente do PSOL santa-mariense, em chapa pura com a companheira de partido e professora municipal Marisa dos Santos. As bandeiras deles incluem transporte público com tarifa zero.
Contudo, ideologia não costuma ser o forte nas eleições municipais, embora possa ser decisiva num segundo turno. Na primeira rodada do pleito, o eleitor costuma se identificar com propostas.
Algumas unanimidades entre os candidatos:
- Programa de recuperação e expansão de vias
- Atendimento em saúde também à noite, em todas as regiões, e novas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), assim como equipes de Saúde Bucal
- Centros de Atendimento Psicossociais (Capes) 24 Horas
- Secretaria municipal de Segurança e Plano Municipal de Segurança
- Apoio ao Santa Maria Tecnoparque, ao Distrito Industrial e ao Projeto do Distrito Criativo Centro-Gare (para fomentar economia criativa (podendo envolver atividades como artes cênicas, arquitetura, audiovisual, publicidade e propaganda, gastronomia, jogos, entre outras)
- A implantação de um aeroporto regional (separado da Base Aérea) é outro programa em comum entre os candidatos.
As candidaturas mais à esquerda – como do PT, PSOL e PDT – falam ainda em criar Escolas em Tempo Integral e programas contra a fome. Outras bandeiras são Centros de Convivência para Idosos e Rede de Atenção à Mulheres em Situação de Violência.
Veja quem são os sete candidatos a prefeito em Santa Maria:
Rodrigo Decimo (PSDB)
Engenheiro e empresário da construção civil, 57 anos, é o atual vice-prefeito de Santa Maria. Atuou em entidades empresariais, como a presidência da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism). Foi do PSL e mudou para o PSDB para ser o candidato a prefeito. Defende o legado de oito anos do governo Pozzobom e o governo estadual de Eduardo Leite (PSDB).
Uma de suas principais apostas é o projeto do qual é responsável na atual administração: a implementação do Distrito Criativo Centro-Gare. Promete também o maior plano de pavimentação de vias da história santa-mariense. Concorre por uma coligação que une PSDB-Cidadania, Progressistas (da sua candidata a vice, a professora universitária Lúcia Madruga), PSD, PSB e Republicanos.
Valdeci Oliveira (PT)
Ex-metalúrgico, 66 anos, é um dos expoentes da esquerda na região central do Estado. Líder partidário e sindical conhecido, é filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1986. Foi vereador por dois mandatos em Santa Maria, deputado federal em duas legislaturas, se elegeu prefeito em 2000 e foi reeleito em 2004. Atualmente, é deputado estadual, pelo quarto mandato seguido e chegou a presidir a Assembleia Legislativa.
Usa como trunfo a proximidade com o governo Lula, por meio do ministro Paulo Pimenta (PT), cuja base eleitoral é Santa Maria. Entre as propostas estão um gabinete de Emergências Climáticas, o programa Programa Santa Maria Contra a Fome, ampliar o Minha Casa, Minha Vida, agendamentos de consultas de saúde via WhatsApp e Centros de Convivência de Idosos.
Alidio da Luz Silva (PSOL)
Psicólogo, 32 anos, é filiado desde 2009 ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), o qual preside em Santa Maria. Militou no movimento estudantil e concorre pela primeira vez a uma eleição. Tem como vice a professora Marisa Carvalho da Silva dos Santos, do mesmo partido e conhecida sindicalista na área da educação.
Uma das bandeiras dos dois é tarifa zero para o transporte público e, também, políticas públicas para minorias, entre elas comunidades LGBT+ e da negritude. Pregam também postos de saúde 24 horas, investimento no Distrito Criativo Centro-Gare, escolas em tempo integral e programas contra a fome.
Giuseppe Riesgo (Novo)
Advogado, 28 anos, é filiado ao Novo desde 2017. Militou no movimento estudantil, por chapas de direita. Em 2018, foi o deputado estadual mais jovem, eleito aos 23 anos, com 16.224 votos. Concorreu à reeleição em 2022, fez 28.209 votos e ficou de primeiro suplente do Novo. É conhecido pelo ideário liberal e por lutar pelo empreendedorismo e redução de impostos.
Pretende transformar a cidade em referência em saúde (com agendamento digital, telemedicina e postos de saúde abertos à noite). Outras bandeiras são um plano de resiliência climática, castração em massa de animais e parcerias com o setor privado para revitalizar paradas de ônibus. Tem como vice a professora Magali Marques da Rocha, do MDB, partido que já governou diversas vezes Santa Maria.
Moacir da Rosa Alves (PRD)
Cirurgião-dentista, 70 anos, foi também militar do Exército. Foi coordenador da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS). Passou por cinco partidos, antes de migrar para o Partido Renovação Democrática (PRD). Foi candidato a vereador, a deputado federal e a deputado estadual, sem se eleger.
O seu foco é saúde comunitária e empreendedorismo para Santa Maria. Tem como vice o ex-jogador de futebol José Carlos Lima dos Santos, o Zeca Lima, também do PRD. Eles propõem enxugamento no número de secretarias, criação da Secretaria de Segurança, ensino de inglês e espanhol já nas séries escolares iniciais, e escolas permanentes (como espaço de lazer nos fins de semana).
Paulo Afonso Burmann (PDT)
Cirurgião-dentista, 65 anos, foi reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) por duas gestões e dedicou 34 anos de trabalho à instituição. É filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) desde 1982. Concorreu a deputado federal e chegou a ser segundo suplente. É conhecido pelo trabalho na área de educação, principalmente pela atuação na UFSM. Tem como vice o bombeiro militar da reserva Adilomar Silva, do mesmo partido.
Na campanha, utiliza o slogan "Mudar o presente para construir o futuro", a partir de uma proposta colaborativa de gestão e de um plano de desenvolvimento para o município abrangendo diferentes áreas.
Roberta Pereira Leitão (PL)
Advogada, 46 anos, foi professora do Ensino Superior e técnico durante 12 anos. Nas eleições de 2020, foi eleita vereadora em Santa Maria com 1.129 votos, pelo Progressistas. Em 2024, trocou o Progressistas pelo Partido Liberal (PL), sigla da qual é presidente municipal. Ela se define "de direita e conservadora", além de defensora das ideias do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em sintonia com ele, defende implementação de novas escolas cívico-militares, criar uma Secretaria de Segurança Pública e reduzir o número de secretários em geral. Tem como vice o empresário Marcelino Dornelles Severo, do Podemos, que já concorreu duas vezes a vereador (não eleito).