Reduto eleitoral do governador Eduardo Leite, Pelotas convive com a gestão tucana no Executivo municipal há mais de uma década — período inaugurado com a dobradinha Leite e Paula Mascarenhas, em 2013. A atual prefeita conclui o segundo mandato ao final do ano e tenta fazer do ex-secretário de Desenvolvimento Fernando Estima (PSDB) o seu sucessor na prefeitura do quarto maior colégio eleitoral gaúcho.
Com trajetória no polo naval, o empresário, de 58 anos, também foi superintendente do Porto de Rio Grande. Entre outros concorrentes, enfrentará dois ex-prefeitos e um representante de uma das seis siglas que já ocuparam o Paço Municipal desde a redemocratização: Fernando Marroni (PT), Irajá Rodrigues (MDB) e Reginaldo Bacci (PDT).
Ex-deputado federal, Marroni busca fixar no eleitorado o conceito de ser esta uma eleição marcada pelo "combate a um projeto de poder". Aos 68 anos, o petista — que coleciona participações em momentos distintos da política local — volta à cena da qual faz parte desde 1996, quando concorreu pela primeira vez.
Marroni esteve no cargo que pretende reconquistar de 2001 a 2004, após derrotar o ex-prefeito, deputado estadual por três mandados e ex-secretário de Estado Bernardo de Souza (à época filiado ao MDB).
Na eleição seguinte, em 2004, Souza devolveria a derrota nas urnas, desta vez, concorrendo pelo PPS. Contudo, não terminaria aquele mandato, em razão do afastamento para tratar de um raro diagnóstico de saúde que o levaria à morte, em 2010 — sendo substituído pelo vice, Fetter Júnior, que acabaria sendo eleito prefeito no pleito de 2008.
Início da hegemonia tucana
Anos depois, a ausência de oposição à candidatura natural de Marroni foi fator determinante para abrir caminho ao surgimento de um jovem vereador tucano. Em carreira meteórica, Eduardo Leite havia tomado posse na Câmara Municipal em 2008 — após a polêmica cassação de um dos vereadores por ter realizado sessão de exorcismo nas dependências do Legislativo.
Já no pleito seguinte, em 2012, o hoje ocupante do Palácio Piratini aproveitaria as brechas do cenário para ser eleito prefeito e inaugurar a hegemonia tucana, que perdura por 11 anos no município e, agora, é representada pela candidatura de Estima.
Um constituinte no páreo
Filiado ao Progressistas, o ex-prefeito Fetter Junior esteve na última disputa, em 2020, e chegou a lançar pré-candidatura neste ano. Mas o seu partido, que comandou a cidade até a eleição de Leite e participou da gestão tucana até a escolha de Paula, em 2016, decidiu por apoiar Estima. Ele está mais alinhado com outra figura lendária da política local: Irajá Rodrigues.
Deputado federal e um dos constituintes gaúchos na década de 1980, o emedebista conquistou a prefeitura pelotense pela primeira vez em 1977. Retornou ao cargo em 1992 e não se envolvia em disputas eleitorais no município desde então.
Aos 88 anos, motivado pelo sentimento de mudança, o sucesso da candidatura Irajá está ligado à capacidade de absorção do legado político do antigo correligionário Bernardo de Souza, que ainda hoje flutua entre as opções disponíveis aos eleitores no 6 de outubro.
Trabalhista disputa os espólios
Nome do PDT na disputa, Reginaldo Bacci precisa contar com a transferência do eleitorado do também trabalhista Ancelmo Rodrigues, eleito em 1988, 1996 e segundo colocado em 2016. Apesar de dois mandatos marcados por processos de corrupção, que culminaram com a cassação dele, em 1998, Anselmo teve a candidatura apoiada pelo PP e o grupo da família Fetter em 2016, quando perdeu no primeiro turno para a Paula Mascarenhas.
Aos 63 anos, Bacci fez carreira de auditor fiscal, tendo ocupado cargo no Ministério da Fazenda, em Brasília. Atualmente, é dono de um time de futebol no Distrito Federal e possui investimentos no setor de energia.
Voltou a viver na cidade que pretende comandar há seis anos e costuma falar em resgatar "a Pelotas Princesa do Sul, e não a Gata Borralheira" que afirma ter encontrado no regresso à terra natal.
Aliança rachada
Bacci e Irajá tentaram costurar aliança entre PDT e MDB até os instantes finais da pré-campanha. A definição por candidaturas próprias levou ambos os partidos a apresentarem chapas puras, o que pode dividir os espólios políticos de Anselmo Rodrigues — cuja votação nunca foi menor do que 47 mil votos — e de Fetter Júnior — acostumado com contagens que sempre lhe garantiram, no mínimo, 64 mil eleitores nas urnas.
Por outro lado, Fernando Estima tem a missão de herdar as históricas votações tucanas, que, nos últimos três pleitos, não ficaram abaixo de 77 mil votos. Foi assim com Leite (77 mil), em 2012, e com Paula (78,5 mil) em 2020. É da atual prefeita a maior votação da história, em 2016, quando angariou 112 mil eleitores.
Fernando Marroni (PT), que já participou de cinco eleições, jamais teve contagem inferior a 47 mil eleitores. Desde 2000, não recebe menos do que 55 mil votos nas urnas. Em sua maior densidade, chegou a 68 mil no primeiro turno, mas perdeu a eleição de virada no segundo.
Missão bolsonarista
Concorrem ainda o professor universitário João Bourscheid (PCO), 58 anos, e o empresário Marciano Perondi (PL), 41. O candidato liberal tem a missão de vetorizar o legado eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a visitar a cidade em setembro. Isso, no entanto, em um município onde o bolsonarismo, apesar de manifestações isoladas na Câmara de Vereadores, não consegue produzir ecos eleitorais audíveis nos salões do Paço.