O resultado da última pesquisa Quaest de intenção de votos à prefeitura de Porto Alegre parece ter influenciado o timbre das falas entre os principais candidatos ao Paço Municipal. Em debate promovido por entidades empresariais nesta quinta-feira (19), a troca de cobranças entre Sebastião Melo (MDB), Maria do Rosário (PT), Juliana Brizola (PDT) e Felipe Camozzato (Novo) foi mais contundente.
Os empresários presentes no Salão Nobre do Palácio do Comércio viram um maior embate entre os quatro principais nomes na corrida eleitoral na Capital. As acusações e ataques, mesmo que em maior quantidade ao atual prefeito, espalharam-se entre o quarteto. O leque de temas também se abriu. A enchente deixou de ser o único centro das atenções. Educação, infraestrutura, turismo, segurança e o Centro Histórico emergiram nas mais de duas horas de diálogo.
Os momentos mais ásperos ficaram para o quarto, e último, bloco, em que os temas eram livres. Melo e Juliana se embicaram durante todo o debate. O emedebista afirmou que sua adversária tem andado pouco pela cidade. O tema do momento era empreendedorismo, e a pedetista fechou sua resposta acusando a atual gestão de corrupção.
— Vou fazer bem diferente de ti, pois estamos perdendo nossas empresas — iniciou para, no fim, disparar: — Precisamos acabar as obras. Fazer a economia girar. Construir creches, melhorar a mobilidade urbana. Combatendo a corrupção, que é o grande mal que governa a cidade de Porto Alegre.
— Quando a senhora foi secretária, a senhora foi processada. Não aceito esse tipo de provocação. O que a senhora fez como vereadora, deputada para tornar essa cidade empreendedora? — rebateu Melo.
O enfrentamento entre Maria do Rosário e Camozzato se deu mais no âmbito ideológico a respeito da crise na Venezuela. Em outro momento, a proposta da petista de isentar imposto sobre produtos da linha branca reapareceu. Juliana questionou a capacidade de ela dialogar, já que o projeto não teve aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Rosário afirmou que o veto presidencial se deu por questões técnicas e não por divergência sobre a proposta.
Enchente protagonista do primeiro bloco
Apenas na primeira parte do debate, a enchente foi protagonista. O formato deste recorte consistiu em os candidatos responderem a uma pergunta formulada por representante das entidades promotoras do evento (ACPA, CDL POA, SHPOA, SINDHA e Sindilojas POA). Entre uma resposta e outra, cada postulante escolhia um concorrente para debater um novo tema, o que fez com que em muitos momentos os assuntos voltassem.
A temática do bloco inicial versou sobre a prevenção para possíveis novas enchentes. Entre uma manifestação e outra, Juliana Brizola trouxe à pauta a educação. Maria do Rosário criticou a atual gestão, enquanto o atual prefeito e Felipe Camozzato retomaram a discussão sobre os alagamentos.
O que cada um falou
Sebastião Melo (MDB)
Líder na pesquisa Quaest, Melo defendeu-se das críticas à sua gestão. Sobre a coleta de lixo e a limpeza da cidade após a enchente, alegou que decisão do Ministério Público impediu a conclusão dos trabalhos:
— Temos combatido os focos de lixo. Fomos a primeira cidade da enchente a limpar. Não saiu tudo porque o Ministério Público proibiu que levasse para Gravataí e não terminamos o processo. Não concordo com esse baixo astral que tem nesse debate. Vamos superar as tragédias e as dores — afirmou.
Ao falar sobre as enchentes, Melo defendeu sua atuação antes e depois da tragédia ao ser questionado por Rosário.
— Fizemos todas as manutenções, o sistema não resistiu à quantidade de chuva. Agora, só tem um caminho: refazer de forma emergencial. Fazer um sistema robusto. É um projeto de cidade, não de quem disputa a eleição.
Maria do Rosário (PT)
Maria do Rosário, segundo lugar na pesquisa Quaest, mas com vantagem menor em relação a Juliana, precisou também se defender de críticas da pedetista. O confronto direto com Melo ficou apenas para o final, quando debateram um projeto para a cidade.
A candidata do PT se mostrou preocupada com a atual situação do Centro Histórico, abordando a problemática em temas como turismo, segurança e infraestrutura. Ela também assegurou que não aumentará impostos.
— Estou preocupada com as obras do Centro, que tiveram começo, meio, mas não tiveram fim, e não foi só pela enchente, mas também pela inoperância e falta de diálogo — disse em um primeiro momento.
— O Centro esta cada vez mais vazio. A perda da qualidade do ônibus tem tirado movimentação do comércio — completou.
Juliana Brizola (PDT)
Registrando crescimento na pesquisa Quaest, Juliana adotou um discurso mais forte contra Melo e Rosário. Seu foco, como de costume, esteve mais ligado a temas de educação, defendendo a ideia da escola em tempo integral.
— Infelizmente, em muitos setores não estamos encontrando boa gestão. A educação precisa de uma política séria e continua. Gestão é tudo no poder público — afirmou.
— Sou a favor da escola de tempo integral. Precisamos despolitizar a educação no nosso município — disse a pedetista mais adiante.
Felipe Camozzato (Novo)
Com uma candidatura sem coligações, Camozzato disparou contra o trio de adversários. Contra Melo, oscilou entre elogios e críticas. Entre suas principais propostas apresentadas, esteve uma ligada à infraestrutura.
— Queremos fazer uma espécie de Lei Rouanet da infraestrutura, onde a gente possa ter projetos já criados pela prefeitura em que o empreendedor e o pagador de impostos da cidade possam optar que parte dos tributos devidos possa ser transferida para a prefeitura na forma de obras entregues e concluídas, fazendo com que a gente acelere as transformações da cidade — explicou.
A Rádio Gaúcha promoverá novo debate entre os candidatos em 25 de setembro, durante o Gaúcha Atualidade.