No quinto dia após os primeiros movimentos de bloqueio de estradas em protesto ao resultado das eleições, manifestações nesses moldes seguem em pelo menos sete Estados, mas continuam arrefecendo. O impacto maior, neste momento, é observado em rodovias federais.
No Rio Grande do Sul, o movimento perdeu força nos últimos dias. No início da manhã desta quinta-feira (3), era registrado apenas um bloqueio parcial no km 12 da RS-478, em Maximiliano de Almeida, mas a situação foi resolvida, segundo o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM). Nas rodovias federais do Estado não há pontos com bloqueios, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Mato Grosso, no Centro-Oeste, é o Estado que registra a maior mobilização no momento. Boletim divulgado pela PRF às 16h30min aponta que existia nove interdições em rodovias federais mato-grossenses.
Santa Catarina também registra uma das situações mais complicadas, mas segue com retração na mobilização. Em boletim da PRF divulgado às 16h30min, havia quatro bloqueios parciais e um total. Nas primeiras horas do dia, esse número estava em 30. Nas rodovias estaduais, a situação está normalizada, segundo o presidente do Colegiado Superior de Segurança Pública e Perícia Oficial de SC, Giovani Eduardo Adriano.
A PRF informou também no último boletim que 921 manifestações já haviam sido desfeitas em todo o país.
Motivo
Os primeiros atos foram registrados ainda no domingo (30), logo após a conclusão da apuração das eleições, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre Jair Bolsonaro. Os bolsonaristas protestam contra o resultado das urnas e muitos pedem intervenção militar para evitar que Lula assuma a Presidência.
Busca por solução
Alguns setores da sociedade e de órgãos públicos citaram possível falta de ação por parte da PRF contra os bloqueios. Em alguns casos, foram registrados agentes da corporação ajudando manifestantes ou informando que estavam ali somente para acompanhar os atos.
Na noite de segunda-feira (31), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e as polícias militares dos Estados liberem imediatamente as rodovias bloqueadas por manifestantes bolsonaristas. A decisão foi confirmada pela maioria do plenário da Corte na madrugada de terça-feira (1º).
Ainda na terça, a PRF começou a usar a força para desmobilizar os pontos de bloqueio. No Rio Grande do Sul, uma operação do tipo foi realizada, como registrado pela reportagem, em ponto da BR-116, em Novo Hamburgo.
O Ministério Público Federal (MPF) pediu à Polícia Federal (PF) abertura urgente de um inquérito sobre a conduta do diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, nas eleições. O documento aponta indícios de prevaricação, violência política e omissão na desmobilização dos protestos que bloquearam estradas.
Impactos
Com o impedimento da circulação de parte do transporte terrestre, as manifestações geram preocupações que vão desde o desabastecimento de combustíveis e alimentos até falta de insumos hospitalares. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou, na quarta-feira, que está monitorando os possíveis desabastecimentos de suprimentos de saúde diante dos bloqueios em rodovias. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) também destacaram receio em relação a problemas em cadeias de suprimentos.
Multas
O último balanço do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), divulgado na quarta, informou que 2 mil motoristas foram autuados por interromper o fluxo em rodovias, o que representa R$ 18 milhões, segundo a pasta.
Posicionamento presidencial
Derrotado no domingo, o presidente Jair Bolsonaro permaneceu em silêncio até terça-feira. No período da tarde, em breve pronunciamento, ele afirmou que as manifestações mostravam o descontentamento de parte da população com o resultado do pleito, mas condenou atos que impediam o direito de ir e vir.
Na quarta-feira (2), o chefe do Executivo nacional voltou a criticar os bloqueios de rodovias. Em vídeo, ele fez "um apelo" aos apoiadores para que "desobstruam as rodovias".
— Sei que vocês estão chateados, estão tristes, e esperavam outra coisa, eu também, estou tão triste quanto vocês, mas precisamos ter a cabeça no lugar. Os protestos e manifestações fazem parte do jogo democrático e, ao longo dos anos, muito disso foi feito pelo Brasil. (...) Mas tem algo que não é legal: o fechamento de rodovias pelo país prejudica o direito de ir e vir das pessoas. E está lá na nossa Constituição — afirmou Bolsonaro.