Os bloqueios em rodovias, que ocorrem desde o fim da noite de domingo (30) contra a derrota do presidente Jair Bolsonaro nas eleições, já provocam problemas no abastecimento de 70% dos supermercados do Brasil. O dado foi apresentado pelo vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Marcio Milan, em coletiva de imprensa início da noite desta terça-feira (1º). Na Central de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa), o risco é a escassez de hortifrutigranjeiros de fora do Estado.
Segundo Milan, os produtos mais impactados são: frutas, legumes e verduras, seguidos das carnes, (bovina, suína, aves e peixes), além de frios, laticínios, mercearia e panificação. Ele alerta que, dependendo da evolução dos bloqueios, alguns destes setores podem ficar desabastecidas nos próximos três dias. Os Estados mais impactados são Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal.
— Normalmente, nas segundas e terças-feiras são os dias em que os supermercados fazem a compra e reposição de produtos e foi justamente quando aconteceu isso (bloqueios). As lojas menores que vêm apresentando maiores problemas porque têm uma baixa capacidade de estocagem e abastecimento diário desses produtos. O reflexo imediato já está sendo sentido das lojas que se abastecem do Ceasa — pontua.
O vice-presidente da Abras também comentou sobre o aumento da presença de consumidores nos supermercados durante a tarde desta terça-feira que, na sua avaliação, pode representar uma preocupação com a possibilidade de escassez de produtos. Ele também manifestou preocupação com os produtos que podem ser perdidos ao longo da cadeia, gerando desperdício.
Impactos no RS
Embora tenham reduzido nas últimas horas, os protestos nas estradas também começaram a afetar o movimento na Ceasa, em Porto Alegre, mas ainda não provocam desabastecimento no local. No entanto, esse cenário pode mudar nos próximos dias. O presidente da empresa, Ailton dos Santos Machado, informou redução de 50% na entrada de mercadorias de fora do Estado no complexo na manhã desta terça-feira (1º) diante das intervenções em vias.
Destacando que terça-feira é o segundo dia com maior movimento no local, Machado também citou diminuição no número de clientes que vêm do interior. Esse fato, a garantia de um estoque formado por mercadorias com origem no Estado, que entraram normalmente, e a véspera de feriado, que afeta a demanda, garantiram o abastecimento normal nesta terça-feira, segundo Machado:
— Por sorte, a gente tinha um pouco de estoque de ontem, então, o impacto não foi tanto. Também tivemos uma redução dos clientes do interior, que chegam na parte da manhã, também de 50%.
O fluxo de clientes da Região Metropolitana foi normal durante o período da tarde, segundo o presidente da Ceasa. O dirigente destaca que, como o local não abre durante o feriado de Finados, na quarta-feira (2), a expectativa fica voltada para quinta-feira (3), dia com maior movimento na Ceasa. Caso o problema dos bloqueios não seja resolvido até lá, a situação deverá ser pior, conforme Machado:
— Se não normalizar, o pessoal vai limpar a Ceasa hoje (terça-feira, 1º) e não vai ter produtos. A não ser os produtos, como as folhosas, que são produzidos em municípios vizinhos de Porto Alegre. Esses ainda chegam, mas as frutas e os legumes que vêm do Sudeste e do Nordeste não chegarão.
Machado afirmou que levantamento interno da entidade aponta quase 100 caminhões com legumes e frutas, em cargas que vêm de fora do Estado, parados em algum tipo de bloqueio.