Aposta de renovação do PT gaúcho, Edegar Pretto cresceu na reta final da campanha ao Palácio Piratini, alcançou 26,77% dos votos válidos, mas o saldo foi insuficiente para retirá-lo do terceiro lugar, posição que ocupou desde as primeiras sondagens de intenção de voto do período eleitoral. Pretto terminou a corrida próximo do ex-governador Eduardo Leite (PSDB), segundo colocado no pleito, o que indica a força da sua arrancada nos últimos dias. O resultado, apesar da derrota, consolida Pretto como a nova liderança jovem do PT gaúcho.
A esquerda repete 2018 e está novamente fora do segundo turno no Rio Grande do Sul. A etapa final da eleição no RS será disputada pelo ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), que teve 37,50% da preferência do eleitorado, e por Leite, candidato à reeleição, que anotou 26,81% dos votos válidos.
Agora, os partidos que compunham a aliança — PT, PC do B, PV, PSOL e Rede — terão de decidir sobre a posição no segundo turno. Há setores da coligação que defendem a ideia de se posicionar, mas, entre os dirigentes petistas, o discurso é de que Onyx e Leite “representam o mesmo projeto”. Se prevalecer essa tese, a tendência é de que seja adotada a neutralidade.
Ao longo da campanha, a avaliação é de que o maior acerto foi a conexão da imagem de Pretto com a de Lula (PT). A estratégia surtiu efeito, tornou o candidato mais conhecido e o guindou a patamares maiores de preferência, mas o chamado voto LuLeite, fusão de eleitores que preferiram Lula e Leite como opção para derrotar o bolsonarismo, limitou a ascensão do petista. Lula obteve 42,28% dos votos válidos no Rio Grande do Sul, enquanto Pretto registrou 26,77%. Ou seja, outro candidato ficou com importante fatia dos votos de Lula, e tudo indica que foi Leite o beneficiado.
— Leite tem uma fatia razoável de votos do Lula. É o povo que não chegou a conhecer outra opção — avalia Mari Perusso, coordenadora-geral da campanha do PT.
Não ter conseguido desidratar o voto LuLeite se revelou uma das principais barreiras para que a candidatura alcançasse o segundo turno. É unânime a avaliação de que a candidatura de Pretto custou a embalar. No primeiro mês de campanha, o crescimento era modesto, mesmo após o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, plataformas em que a conexão com Lula foi reforçada, além das redes sociais. Pretto somente foi pegar no tranco depois de 16 de setembro, quando Lula esteve em Porto Alegre para participar de um comício que lotou o Largo Glênio Peres e a Praça Montevidéu. No ato, Lula deu tratamento especial a Pretto e disse que ele era seu único candidato ao Palácio Piratini. As imagens e os discursos passaram a ser explorados em massa, fazendo Pretto entrar em rota de crescimento acentuado.
— Edegar é o nosso quadro de mudança geracional. Foi mais difícil, fizemos um grande esforço, não bastavam depoimentos (de Lula) de estúdio. Foi o comício que colou as imagens deles quando o material foi enviado para a TV — diz Mari.
Secretário de Assuntos Institucionais do PT-RS, Cícero Balestro complementa ao dizer que foi a associação com Lula, consolidada após o comício, que fez Pretto tornar-se mais conhecido. Até então, ele era um deputado estadual de terceiro mandato, o mais votado do PT, conhecidíssimo da militância e dos movimentos sociais de esquerda, mas ainda distante do eleitorado médio.
— A colagem com o projeto nacional: quem vota em Lula vota em Edegar. Essa síntese foi o grande acerto da campanha — avalia Balestro.
Dentre os aspectos positivos, ainda é citada a candidatura de Olívio Dutra (PT) ao Senado. Liderança de maior carisma na esquerda gaúcha, Olívio atendeu ao pedido de socorro do partido para ter uma chapa mais robusta. Sua participação em uma campanha renhida, aos 81 anos, foi uma injeção de ânimo.
— Olívio nos deu impulso muito grande. Pela história dele, pelo o que ele representa nos movimentos sociais. A disposição do Olívio gerou um entusiasmo importante na campanha — afirma Ary Vannazzi (PT), prefeito de São Leopoldo.
Mobilização das militância s
Para o presidente estadual do PC do B, Juliano Roso, é merecido um destaque à mobilização das militâncias, mesmo com a derrota ao Piratini. Na campanha de 2018, o PT e seus aliados históricos, caso do PC do B, estavam sob intensas pressões da sociedade e da Operação Lava-Jato. Em consequência disso, o envolvimento dos simpatizantes naquela eleição ao Piratini foi menor, ocasião em que o candidato do PT era Miguel Rossetto.
— A militância abraçou a candidatura. Edegar tem boa imagem, é uma renovação para a política — avalia Roso.
A análise é de que, embora tenha ficado novamente fora do segundo turno, o PT gaúcho conseguiu abrir um novo momento com a votação de Pretto. É como se o partido tivesse interrompido a trajetória de queda, acentuada sobretudo em 2018, e tivesse iniciado um novo ciclo.
— Hoje temos outra situação política. O PT retomou seu papel político preponderante na sociedade — diz Vanazzi.
Entre os petistas, a leitura é de que Pretto encerra a campanha mais prestigiado do que quando ela iniciou, consolidado como nova liderança do partido no Rio Grande do Sul.
— Ele sai maior e como uma liderança jovem. Não há dúvida — opina Balestro.
Pauta econômica
Para a coordenação da campanha, além de colar em Lula, ter batido na tecla da pauta econômica foi acerto de Pretto. Isso ocorreu em alinhamento com a estratégia nacional de Lula.
— Conseguimos identificar o Edegar com a causa da fome. O que ele mais falou foi de economia. É o que está presente na vida das pessoas. Temos as pautas identitárias, a defesa da democracia, a segurança, mas o povo está sofrendo mais é com a miséria — afirma Mari.
Apesar de ter reunido cinco partidos na coligação, Pretto teve na disputa estadual uma aliança menor do que a de Lula na corrida nacional. O PSB, por exemplo, preferiu lançar Vicente Bogo como candidato, um movimento de demarcação de território, em vez de apoiar Pretto. O PT gaúcho tem dificuldade histórica em alargar suas alianças em direção ao centro. Mesmo nas duas eleições em que saiu vitorioso na disputa pelo Palácio Piratini, o PT teve parceiros apenas do campo da centro-esquerda. Dirigentes partidários entendem que, em parte, isso é fruto da demarcação mais clara que existe no Rio Grande do Sul entre as legendas de esquerda e de direita.
Uma parte dos aliados avalia que a opção por bater tanto em Onnyx quanto em Leite foi equivocada. A leitura é de que fazer de Leite um alvo não foi a melhor estratégia para tirar votos dele.
— No nosso entendimento, foi correto. Nos posicionamos como o anti-bolsonaro. Leite votou no Bolsonaro (em 2018). É o mesmo projeto. E Leite é um candidato mais fortalecido do que o Onyx. Tínhamos de disputar com os dois — avalia Mari.