O arcebispo de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, pediu aos fiéis, na manhã desta quarta-feira (12), durante missa do Dia da Padroeira no Santuário Nacional de Aparecida, que exerçam seu direito ao voto, e alertou que o país precisa vencer "muitos dragões", como "o do ódio e o da mentira", em alusão a problemas como fome e desemprego.
— Maria venceu o dragão. Temos muitos dragões que ela vai vencer. O dragão que é o tentador, o dragão que já foi vencido, a pandemia, mas temos o dragão do ódio, que faz tanto mal. E o dragão da mentira, e a mentira não é de Deus, é do maligno. E o dragão do desemprego, o dragão da fome, o dragão da incredulidade. Com Maria vamos vencer o mal e dar prioridade ao bem e a Justiça que o povo merece, porque tem fé e ama Nossa Senhora Aparecida — discursou Orlando Brandes.
Durante a homilia (discurso de um sacerdote no decorrer de uma missa), nesta que é uma das principais celebrações do ano para a igreja católica brasileira, Dom Orlando disse ainda que é importante distinguir a ideologia da verdade e "acolher aquele que for eleito com o voto e o poder do povo", sem citar nenhum nome político durante a fala.
— Nós temos um compromisso ético com a verdade. A verdade na política, mas a política caminha muito pelos caminhos ideológicos, que são caminhos de grupos e interesses pessoais — afirmou.
Em coletiva de imprensa depois da celebração, o arcebispo defendeu que os fiéis devem ter uma "identidade religiosa", ao ser questionado por jornalistas sobre eventual uso político-eleitoral da visita à Basílica do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), que participou da missa das 14h, conforme agenda divulgada previamente pela equipe de seu candidato ao governo paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A missa solene da manhã teve a presença do ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, e do candidato eleito para o Senado paulista, Marcos Pontes (PL).
— Eu não posso julgar as pessoas, mas nós precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos. Então, nós precisamos ser fiéis à nossa identidade católica. Mas, seja qual for a intenção, (Bolsonaro) vai ser bem recebido, pois é o nosso presidente — afirmou Dom Orlando.
CNBB critica manipulação religiosa
Em nota na terça-feira (11), sem mencionar candidatos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamentou o uso da religião como forma de angariar votos no segundo turno das eleições 2022. A CNBB afirmou que a manipulação religiosa "desvirtua valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que precisam ser debatidos e enfrentados no país".
"Lamentamos, neste momento de campanha eleitoral, a intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno. Momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha e demais assuntos relacionados às eleições", diz a entidade, sem citar candidatos.
O Santuário Nacional também divulgou nota referente à possível realização de uma oração de terço, organizada pelo Centro Dom Bosco, que aconteceria em local separado do Santuário, à tarde. O grupo anunciou que Bolsonaro participaria do evento, mas a equipe do presidente não confirmou a presença. "É importante reforçar que esta atividade não é organizada pelo Santuário Nacional, tampouco tem anuência do Arcebispo de Aparecida", escreveu em nota o comando do santuário.
Sobre a oração do terço, Dom Orlando defendeu que o grupo tem o direito de realizar a oração, mas pediu que o terço não se misture com ideologia.
— Não é uma iniciativa nem do santuário nem da arquidiocese. Todas as pessoas são livres. É preciso respeitar os credos. Vai ser em um lugar neutro, então está tudo dialogado e as pessoas têm direito à sua manifestação. Se esse terço é ideológico, é uma coisa. Se é um terço de piedade, para o bem comum, para a esperança do povo, em homenagem à nossa senhora, não podemos dizer outra palavra — pontuou.
Milhares de fiéis celebraram, nesta quarta, o Dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, no Santuário Nacional de Aparecida. O fluxo de romeiros no maior templo dedicado à santa no país começou intenso desde a madrugada. A expectativa é de que Aparecida receba cerca de 120 mil fiéis nas celebrações deste feriado, que retornam com mais força após dois anos de restrições motivadas pela pandemia.
Aplausos, gritos e vaias para Bolsonaro
Bolsonaro foi recebido com gritos e vaias em mais de uma ocasião durante a celebração da tarde, da qual participou. Quando o nome do presidente foi chamado pelo padre Eduardo Ribeiro, os aplausos foram mais perceptíveis.
O coordenador da celebração chegou a pedir silêncio três vezes na tentativa de sobrepor os presentes que chamavam o chefe do Executivo de "mito". Um dos padres presentes abriu a batina e mostrou que usava uma camiseta do Brasil por baixo.
— Silêncio na Basílica, viemos aqui para rezar — disse.
Em uma das entradas do Santuário, centenas de pessoas aguardavam a chegada do presidente. Na porta, havia bandeiras e distribuição de adesivos com o número de urna de Bolsonaro e do candidato Tarcísio de Freitas.