Político de confiança do presidente Jair Bolsonaro, Onyx Lorenzoni (PL) busca se eleger governador com o impulso dos movimentos de direita. Além da longa carreira parlamentar, com dois mandatos de deputado estadual e cinco de federal, tentará se cacifar com as realizações nos cinco ministérios que ocupou ao longo do governo Bolsonaro.
Para chegar ao Palácio Piratini, terá de encontrar meios para superar a popularidade do ex-governador Eduardo Leite (PSDB), candidato à reeleição, e também manter-se atento em relação ao eventual crescimento das candidaturas de esquerda, sobretudo de Edegar Pretto (PT), apoiado por Lula. Confira abaixo os principais momentos da entrevista.
Série de entrevistas
De 29 de agosto a 8 de setembro, GZH publica entrevistas com candidatos a governador do RS. O foco é discutir problemas do Estado e aprofundar as propostas de governo. Cada um dos oito postulantes de partidos com ao menos cinco representantes no Congresso terá entrevistas mais longas. Os outros concorrentes dividirão uma reportagem em 8/9. A ordem de publicação é alfabética, conforme o nome que será apresentado na urna.
O RS obteve a homologação do regime de recuperação fiscal (RRF) com a União. Isso possibilita o pagamento escalonado da dívida do Estado com a União, de R$ 75 bilhões, entre 2022 e 2030. De outra parte, o Estado terá de observar teto de gastos, o que gerou críticas de engessamento. O senhor manterá o RRF ou pedirá revisão?
Esse programa é voluntário, entra quem quer. Será que era o momento de o RS colocar uma corda grossa no seu pescoço, subir em uma cadeira e pular? Eu acho que não. Esse programa tem uma junta de acompanhamento formada por dois técnicos indicados por Brasília e um do RS. Em toda a decisão, entramos perdendo de dois a um, é por maioria simples. O conjunto de restrições que se estabelece retira a autonomia do Estado. É por essa razão que o Rio de Janeiro, que entrou (no RRF) quando a lei era muito mais branda, mas com muitas e severas restrições, teve de entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) para ter a sua revisão atendida. E o mais grave: o STF suspendeu e determinou ao Tesouro Nacional e à Receita Federal que apresentem uma nova proposta ao RJ. Não estou falando de algo desconhecido ou que não existam experiências no Brasil. Tem. E quem teve a experiência se lascou. Por todas as razões, é um péssimo negócio para o RS.
O senhor, caso eleito, pretende revisar o RRF?
Eu já conversei com o presidente Jair Bolsonaro e com o ministro Paulo Guedes (Economia). Resolvida a eleição, e se for da vontade de Deus e do povo gaúcho que eu seja o governador, vou sentar com o presidente da República, com o ministro da Economia e vou apresentar uma proposta de um novo caminho para o RS.
O senhor é contundente na crítica ao RRF. Entende que, politicamente, tem plena legitimidade para contestar? O senhor era ministro do presidente Jair Bolsonaro e, em parte, foi a União quem impôs ao RS as condições. Como avalia?
Desde quando um programa voluntário é imposto por alguém? As regras foram feitas em uma legislação levada ao Parlamento. Quando eu estava lá, fui o único deputado gaúcho, e um dos raros brasileiros, que apresentou um destaque para evitar que houvesse uma regra que eu considero inconstitucional, de que o Estado tem de abrir mão de discutir a dívida. Desde quando um governante tem o direito de praticar o crime que o ex-governador praticou de transferir para as futuras gerações do RS uma dívida que, pela irresponsabilidade dele, vai custar R$ 168 bilhões? Quem vai pagar? É ele? Ele não vai pagar.
O governo homologou a concessão de trechos de seis estradas estaduais na Serra e no Vale do Caí. A concessionária terá de investir R$ 3,4 bilhões em obras. Houve crítica à licitação porque teve um concorrente que apresentou deságio mínimo nas tarifas. Vai levar adiante esse pacote, que ainda prevê oferta de outros dois blocos de rodovias?
Durante um ano, tive a responsabilidade de coordenar o PPI, o programa de parcerias e investimentos. Foi levado para a Casa Civil. Obtivemos naquele ano a maior arrecadação em privatizações e concessões da história do Brasil: R$ 450 bilhões (ZH tentou confirmar o valor com o Ministério da Economia desde 26/8, mas não houve resposta). Quem coordenou isso? Eu tive essa responsabilidade. Sou favorável às privatizações e concessões. Agora, o foco é melhorar a vida das pessoas. E não agravar. No bloco (de concessão de rodovias) que incluía a RS-118, projetaram uma praça de pedágio junto a duas populações muito carentes, de Alvorada e Viamão. O que queriam fazer? Destruir a vida das pessoas? Espantar as empresas? Acabar com empregos? O nosso governo vai fazer privatizações e concessões, mas elas têm de atender as pessoas.
A atual gestão do banco (Banrisul) é incompetente. Como é que a gente mede a competência de uma gestão? Com os seus resultados. O Banrisul iniciou o mandato do governador que renunciou valendo R$ 10,2 bilhões. Sabe quanto ele vale hoje? R$ 4,4 bilhões.
O Banrisul é relevante no crédito para a economia e tem operação sadia, mas há avaliações sobre dificuldade de competir em longo prazo, com o crescimento de fintechs, e eventual perda futura de valor. O que pensa sobre a privatização?
A atual gestão do banco é incompetente. Como é que a gente mede a competência de uma gestão? Com os seus resultados. O Banrisul iniciou o mandato do governador que renunciou valendo R$ 10,2 bilhões. Sabe quanto vale hoje? R$ 4,4 bilhões. Sumiram R$ 6 bilhões ao longo de três anos e meio. O Banrisul perdeu espaço porque foi um banco mal administrado, com uma pessoa sem capacidade para ser o presidente do banco. E foi usado politicamente. Nós vamos privatizar e conceder muitas coisas aqui no RS. Mas enquanto não recuperar o valor do Banrisul, (é importante) ter um banco público que pode se transformar em um grande instrumento para o microcrédito, para o pequeno agricultor, para o pequeno e o médio empreendedor. E se a gente juntar Banrisul, Badesul e BRDE, será que a gente não encontra um sistema para financiar a nossa arrancada para a recuperação econômica? Eu acho que sim. Mas, para isso, temos de buscar os melhores técnicos do Brasil. Tem de levar o banco para o mundo digital com competência. Encontrar caminhos que existem para que ele, daqui a três ou quatro anos, possa valer R$ 15 bilhões ou R$ 20 bilhões. Aí vamos falar em competência. Por enquanto, só temos a triste politicagem misturada com incompetência no comando de um banco que tem um patrimônio de 90 anos. O dia em que o banco valer R$ 20 bilhões ou R$ 30 bilhões, pode ser interessante a sua privatização.
Em maio, dado do Inep apontou evasão de 10,7% no Ensino Médio no RS, quarto índice mais elevado do Brasil. O que fazer na educação?
Esse é um dos maiores dramas que temos hoje no RS, a qualidade da nossa educação. Não tenho dúvida de que precisamos ser ousados. E, para isso, já anunciei que o primeiro passo a ser dado é focar na primeira infância. O que aprendi no Ministério da Cidadania é que a criança de zero a 36 meses é o momento em que ela precisa de especial estimulação. E especial cuidado. É quando desenvolve sua capacidade cerebral, intelectual e de aprendizagem. As principais valências para que uma criança possa ter bom desempenho escolar são desenvolvidas ali. Eu ajudei a criar e expandir o Criança Feliz. Hoje, o governo do presidente Bolsonaro cuida de 1 milhão de bebês de zero a 36 meses. E isso tem de ser casado com os cuidados de 36 meses até cinco anos e 11 meses. E aí tem de ter escola infantil de qualidade e apoiada. Principalmente para as famílias de baixa renda. Se esse ciclo não for respeitado, a criança vulnerável, de famílias com dificuldade, chega na 1ª série do Ensino Fundamental com 40 vezes menos capacidade do que a criança de classe média. Esse é um abismo insuperável pelo resto da sua vida. Vamos criar a Secretaria Estadual da Primeira Infância. Será uma secretaria ligada ao gabinete do governador, de ação transversal às diversas secretarias, para a gente fazer um trabalho em profundidade. Com isso, a gente prepara o futuro. Como a gente tenta melhorar o presente? Lá no Ensino Médio temos de trabalhar com a capacitação para o emprego. Criamos no Ministério do Trabalho e Previdência, na minha passagem, uma grande parceria com o Sistema S através do serviço civil voluntário. Foi um programa criado para dar, através das prefeituras, a oportunidade para os 8 milhões de jovens "nem-nem" do Brasil, parte da população de 18 a 24 anos que nem trabalha nem estuda, para que eles, tendo oportunidade de trabalho, ainda pudessem ser capacitados ao longo da experiência de um ano em uma prefeitura. Chegamos a listar quase 200 cursos diferentes de formação no Sistema S. Por outro lado, pretendo implantar no mínimo cem escolas cívico-militares por ano aqui no RS. Nas cidades em que essas escolas já estão implantadas, e são 30 que estão funcionando, os resultados são espetaculares.
Esse é um dos maiores dramas que temos hoje no RS, a qualidade da nossa educação. Não tenho dúvida de que precisamos ser ousados. E, para isso, já anunciei que o primeiro passo a ser dado é focar na primeira infância.
Crimes como homicídios, latrocínios e roubos tiveram quedas nos últimos anos, mas os índices de feminicídio seguem elevados e crescentes. O que fazer?
Na questão que envolve o feminicídio, é a fórmula que a Damares (Alves, ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) construiu. Abrir canais de denúncias. E é daí que acabamos descobrindo esses crimes. Ou podemos agir preventivamente para evitá-los. Uma ação muito firme para coibir. A segurança pública é um todo. E ela teve melhoras no Brasil inteiro desde que o presidente Bolsonaro assumiu. O que vamos fazer é aumentar a presença no RS dos programas federais de segurança. Por uma questão ideológica, o atual governo pegou um pouco de dinheiro federal mas agiu parcimoniosamente no que diz respeito à implantação de programas federais aqui. Temos de melhorar a condição dos presídios e construir presídios. O governador tem de construir relação de confiança com a Brigada Militar, com a Polícia Civil, com a Polícia Penal e a Polícia Científica. As forças de segurança têm de saber que o governador é um aliado. Sempre que houver enfrentamento com o crime, o governador estará ao lado das forças de segurança.
O MDB decidiu indicar o candidato a vice-governador na chapa de Eduardo Leite. O senhor espera contar com o apoio aberto da ala bolsonarista do MDB gaúcho? Conversou a respeito?
Eu sou parceiro do MDB ao longo de muitas eleições. Simon, Sartori, Tiago Simon, Osmar Terra, Perondi, Cezar Schirmer, Mendes Ribeiro Filho, amigo até o último minuto. Esse MDB, que é o MDB que conquistou muitas coisas importantes para o Brasil e o RS, não é o MDB que enxergo hoje. O MDB que conheço e respeito, e sei que esse MDB me respeita, é o MDB que tem princípios e valores sólidos. O MDB que eu acredito é o do (Sebastião) Melo. Tive a honra de colocar o vice do Melo, o Ricardo Gomes. Hoje, eles fazem administração extraordinária em Porto Alegre. Minha amizade e aliança com o MDB vêm desde 1994. Eu era presidente do PL, foi o primeiro partido a dar apoio para que o MDB ganhasse aquela eleição com o Antônio Britto.
O MDB que eu conheço e respeito, e sei que esse MDB me respeita, é o MDB que tem princípios e valores sólidos. O MDB que eu acredito é o do (Sebastião) Melo. Tive a honra de colocar o vice do Melo, o Ricardo Gomes. Hoje eles fazem uma administração extraordinária em Porto Alegre.
Acredita que algum deles poderá vir a público manifestar apoio?
Eu acho que amigos, quando veem um bom propósito em outro amigo, em algum momento eles vêm para perto e ajudam.
Como o senhor pretende governar, caso eleito, em um cenário com Lula na Presidência? Existe a chance de ele ser eleito. E o senhor tem relação conflituosa com o PT. Conseguirá conversar com o governo federal ou terá de governar daqui do RS?
Como é que pode se eleger um sujeito que não consegue sair na rua? O Brasil sofreu muito na mão do PT e de Lula. Duvido que essa hipótese aconteça. Essa hipótese só está na cabeça de uma parte da mídia engajada e dos próprios petistas esquerdistas e de mais ninguém. Isso é um delírio. Não haverá isso. O Brasil não merece essa tragédia.
O senhor sempre pautou o combate à corrupção, mas, após a delação da JBS, acabou confessando o recebimento de caixa 2 (R$ 300 mil) e assinou acordo de não persecução penal para encerrar o processo. Como irá tratar o assunto?
Eu estou em paz com a minha consciência porque esse problema foi resolvido. Primeiro com Deus. Depois, com a Justiça. Entre ter uma mancha e varrer para baixo do tapete e passar a vida inteira com uma mancha, eu escolhi expor a verdade e ter uma cicatriz. Essa cicatriz me lembra todo dia de que integridade é algo fundamental, que combate à corrupção é fundamental. A gente tem de lembrar que ali tem uma questão contábil. Não tem nada a ver com desvio de dinheiro público. Nada a ver com participar de atos de corrupção, ativa ou passiva. Quem tem de explicar corrupção ativa ou passiva é o PT. Tenho muita tranquilidade de enfrentar isso e estou preparado. Pode vir. Eu não tenho medo. Quem tem a verdade dentro de si não teme a nada nem a ninguém.
Calendário de entrevistas
- Argenta - 29/8
- Edegar Pretto - 30/8
- Eduardo Leite - 31/8
- Luis Carlos Heinze - 1º/9
- Onyx Lorenzoni - 2/9
- Ricardo Jobim - 5/9
- Vicente Bogo - 6/9
- Vieira da Cunha - 7/9
- Demais candidatos - 8/9