Empresário natural de Gramado, Roberto Argenta tem 70 anos. Presidente da Calçados Beira-Rio, o candidato do PSC ao Palácio Piratini volta a disputar eleições depois de anos afastado da política. Antes disso, já havia ocupado cargos como os de vereador e de prefeito em Igrejinha pelo antigo PMDB, além da cadeira de deputado federal entre 1999 e 2003 pelo PFL e, posteriormente, pelo PHS. Mais recentemente, entre 2004 e 2006, foi presidente da Companhia de Processamento de Dados do Estado (Procergs). Novamente candidato, Argenta coloca a geração de empregos e a educação entre os temas primordiais de sua campanha, além de uma atenção especial à Metade Sul.
Série de entrevistas
De 29 de agosto a 8 de setembro, GZH publica entrevistas com candidatos a governador do RS. O foco é discutir problemas do Estado e aprofundar as propostas de governo. Cada um dos oito postulantes de partidos com ao menos cinco representantes no Congresso terá entrevistas mais longas. Os outros concorrentes dividirão uma reportagem em 8/9. A ordem de publicação é alfabética, conforme o nome que será apresentado na urna.
O senhor se ausentou por muitos anos da política. Por que decidiu voltar?
É uma forma de agradecimento a tudo o que aconteceu de bom para mim na área empresarial com a Calçados Beira-Rio e na área educacional, com o Recanto Maestro, onde temos uma faculdade, termas romanas, geração de emprego para estudantes. É um agradecimento ao povo gaúcho, que é trabalhador, bom, mas que precisa de redirecionamento para retomarmos a pujança do Rio Grande do Sul. Estamos perdendo investimentos para outros Estados, empresas gaúchas vão para outros Estados porque têm certas dificuldades burocráticas e fiscais para se ampliarem aqui, colocarem novos negócios. Além de buscar que o empresário gaúcho invista no RS, amplie negócios aqui, quero abrir o Estado para o Brasil e o mundo porque entendemos que o emprego é fundamental. Minha frase-chave é que o emprego garante o presente, e o que garante o futuro é a educação. Nossa educação também precisa de reformulação muito forte.
Na prática, como gerar esses empregos?
Veja bem, há uns 25 anos fui assediado por Nordeste, Bahia, Ceará, para botar unidades (da Calçados Beira-Rio) lá. O secretário da Fazenda de Sobral (CE) dizia que não tinha nada lá, e a arrecadação era zero. Se botar fábrica de mil pessoas, vai ter arrecadação, salário, mercados, consumo de gasolina. Só o salário que vai gerar já resulta em mais imposto.
O senhor se refere a dar benefícios fiscais?
Sim, precisamos ter um Fundopem (Fundo Operação Empresa) turbinado, principalmente para novas tecnologias, novos negócios e especialmente na Metade Sul. Estive em Bagé há poucos dias, e a Rainha da Fronteira está em dificuldades. Como levar empresas para lá, como fazer com que o vinho produzido em Santana do Livramento seja engarrafado lá e não levado para a Serra? Questão de diferenciação fiscal. Mas isso não vai tirar imposto, vai gerar imposto. Emprego é que gera imposto. Olha o que é o Ceará hoje, estão bem porque levaram empresas para lá.
Mas hoje o cenário é um pouco diferente, com limitações à guerra fiscal, não?
Sim, veja o que houve em Santa Catarina nos últimos 10 anos, no Paraná. Eles não têm a dívida ou o déficit que temos, estão pujantes.
O senhor se refere também a facilidades para abertura de empresas?
Sim, a questão burocrática. A questão da Fepam, sobre licenças ambientais, por exemplo. Se tenho um projeto assinado pelo investidor, pelos técnicos necessários, apresento para a Fepam, passou 30 dias e não foi aprovado, aprova por decurso de prazo.
Independentemente do porte do empreendimento ou do nível de risco?
Se já tem as pessoas responsáveis que assinaram... Muitas vezes, a Fepam não tem gente com capacidade e conhecimento total. Vamos fazer uma lei, via Assembleia, que passados 30 dias aprova (licença ambiental) por decurso de prazo. Se for instalar usina atômica é diferente, mas para instalar fábrica que vai gerar emprego, para implantar um açude que vai dar água para agricultura, não pode ter essa burocracia. Empresas tentam, não dá, vão para Santa Catarina, Paraná.
O acordo do Regime de Recuperação Fiscal leva o Estado a ter de observar teto de gastos e limitação a incentivos. Caso eleito, manterá o acordo nos termos já homologados?
Vamos buscar, sim, reformulação. Primeiro porque com juro médio de 6% ao ano, em 11 anos a dívida dobra e nunca vamos pagá-la. E isso envolve a questão de darmos oportunidade para o desenvolvimento, por exemplo, da Metade Sul, região um pouco abandonada do RS. Segundo empresários de grandes cooperativas, é um Eldorado que o Brasil e o Rio grande desconhecem. Precisamos levar negócios para a Metade Sul, hoje várias coisas estão acontecendo lá, mas tem de incentivar. Por exemplo, plantio de cevada. O Brasil produz hoje em torno de 20% do que é consumido pela indústria das cervejarias, e lá se produz cevada, trigo, soja, tem mil possibilidades. Se hoje temos muita gente vindo para as grandes cidades, elas saem do Interior porque não têm emprego. Precisamos levar emprego para todos os recantos. Especialmente na Metade Sul, mas há outras regiões como o Alto Uruguai onde também há municípios perdendo população.
O senhor esteve nesses locais recentemente?
Estive faz dois meses em Alegrete fazendo palestra. Há 10 anos havia 76 mil pessoas, hoje são 72 mil. Perguntei para onde foram os jovens estudantes: para Santa Catarina. Quer dizer, Santa Catarina está nos ensinando que precisamos ser mais ágeis, menos burocráticos e mais ativos. Outra empresa disse o seguinte: fui lá (Santa Catarina), em três dias me deram as licenças.
O senhor já manifestou preferência pelo atual presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Como ficaria a relação com Brasília em eventual vitória de Lula ou outro candidato?
Não vejo problema. Depois de eleito, sou o governador e ele é o presidente. Temos de ter relação muito boa porque não cabe o governador não ter boa relação com o presidente, e vice-versa. O jogo político termina na eleição, depois temos de ter bom relacionamento.
O senhor citou a educação. Vimos, a partir da pandemia, prejuízos ainda maiores ao aprendizado e dados elevados de evasão escolar, que chega a 10,7% no Ensino Médio. Como melhorar o cenário?
A sociedade precisa incorporar que educação é prioridade. Isso é muito importante. Meu primeiro ato de governo será conclamar a sociedade, Círculos de Pais e Mestres, comércio, indústria, cooperativas, bancos, para que a gente, até 15 de fevereiro, quando comecem as aulas, pelo menos a grama do pátio esteja cortada, as lâmpadas queimadas sejam trocadas, os vidros quebrados trocados, e haja pintura no colégio. Se a criança ou o adolescente vê isso, pensa “opa, educação voltou a ser prioridade”. Se ficarmos somente discutindo e não tiver coisa prática, não vai acontecer. Outra coisa importante é privilegiarmos cursos técnicos para adolescente com 16, 17, 18 anos.
O senhor tem alguma proposta de curto prazo para reverter o cenário de miséria e fome?
É importante termos emprego em todas as regiões do Estado porque, dessa forma, diminui a migração para as grandes cidades. Tendo menos migração, reduz a miséria. Emprego é extremamente importante para isso. Outra coisa importante é o trabalho que as igrejas católicas e evangélicas fazem, atuam em todos os municípios do RS e fazem trabalho muito importante na questão da miséria, da fome, atendendo pessoas mais humildes. Vamos ter de trabalhar muito na questão social. Esse trabalho precisa ser reconhecido e, na medida em que o governo puder ajudar, deve trabalhar em conjunto com as igrejas.
O senhor disse que pretende reduzir o número de secretarias de 25 para 12. Quais pastas poderiam ser eliminadas?
Vamos ter as secretarias básicas: Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia, Segurança e Pacificação Social, Infraestrutura, Administração e Finanças, Agricultura e Agronegócio, Emprego, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Irrigação, Desenvolvimento da Metade Sul, Agricultura Familiar, Assistência Social e Esporte. Teremos desperdício zero, porque hoje temos 14 mil imóveis do Estado fora de uso. O Palácio das Hortências, em Canela, não precisa. É despesa mensal, tem de vender. Temos antigas instalações da Corlac abandonadas, e como esses imóveis há milhares. É dinheiro jogado fora. Vamos ter 12 secretarias e reduzir em 40% os cargos em comissão. Pretendo concentrar toda a administração estadual no Centro Administrativo. Lá teremos reunião com os 12 secretários a cada 15 dias, e de 90 em 90 dias vou passar em todas as regiões do Estado, dividido em 15 regiões, e a cada mês passo em pelo menos cinco.
O governo estadual lançou programa de concessões rodoviárias em três lotes, dos quais um, o bloco três, que inclui Serra e Vale do Caí, teve uma empresa concorrente e críticas sobre o valor dos pedágios. Falta licitar dois blocos. Pretende manter o projeto atual?
Os contratos têm de ser cumpridos. Mas a gente vai rever, sim, tem muitas estradas estaduais em péssimo estado. Vamos criar um programa de manutenção em conjunto com prefeitos. A produção vai aumentar cada vez mais, e é importante ter bom escoamento. A questão da infraestrutura é muito importante. A questão dos pedágios, vamos rever, mas o que está contratado, está contratado.
Como é que a mulher vai trabalhar? Ela precisa ter uma creche para deixar as crianças, precisa de proximidade de creche, que pode ser feita pelo município ou pelo Estado. Então temos de dar condições para que essas mulheres possam trabalhar.
O governo estadual desistiu de vender ações da Corsan. A privatização por completo está em andamento. Que caminho pretende adotar?
Temos de ver as várias formas possíveis porque água é um bem essencial e tem de ser bem atendida, esgoto também. O desenvolvimento de uma cidade passa por ter água abundante e esgoto bem organizado e tratado. São investimentos necessários. Temos de ver cada caso. E buscar o que é melhor para o povo gaúcho.
Mas e sobre o destino da Corsan especificamente?
Teria de estudar, porque é um bem essencial.
O que o senhor pensa sobre a privatização do Banrisul?
Uma das coisas que vamos fazer é incorporar as atividades do Badesul no Banrisul. O Banrisul tem de ser um banco de fomento para geração de empregos, aumentar produção na área agrícola, para a irrigação e dar foco muito especial para indústrias e agroindústrias na Metade Sul. Se é um banco do Estado, tem de ser usado para o desenvolvimento do Estado.
Então não privatizaria?
Não, por enquanto não. Teria de analisar, mas teria de dar finalidade muito específica para o Banrisul.
Qual a sua posição sobre o uso de câmeras em uniformes de policiais?
Sem dúvida, é muito importante. Além disso, o Consepro é instrumento muito bom e já foi mais atuante. Quando fui prefeito, mais de 30 anos atrás, era muito atuante e muito efetivo para ajudar a Polícia Civil e a Brigada Militar. Então além da tecnologia, que é extremamente importante, temos de envolver a comunidade como um todo.
Sem dúvida, é muito importante (câmeras em uniformes de policiais). Além disso, o Consepro é instrumento muito bom e já foi mais atuante. Quando fui prefeito, mais de 30 anos atrás, era muito atuante e muito efetivo para ajudar a Polícia Civil e a Brigada Militar.
Crimes como homicídios, latrocínios e roubos tiveram quedas nos últimos anos no Rio Grande do Sul, mas os índices de feminicídio seguem crescendo. Como combater esse tipo de crime?
Nos municípios onde existe emprego, há pouco problema de violência, inclusive feminicídio. É muito importante a gente procurar fazer um trabalho para que as mulheres possam... como é que a mulher vai trabalhar? Ela precisa ter uma creche para deixar as crianças, precisa de proximidade de creche, que pode ser feita pelo município ou pelo Estado. Então temos de dar condições para que essas mulheres possam trabalhar, ter a sua atividade, e isso vai provocar tranquilidade maior nos homens e nas mulheres. Se há essa parceria no casal, vai melhorar o relacionamento das pessoas. Tudo isso vai ajudar a diminuir essa questão. Vamos combater o feminicídio melhorando a empregabilidade tanto do homem quanto da mulher.
O IPE Saúde atende cerca de um milhão de pessoas no Rio Grande do Sul e é considerado importante também para estancar a pressão sobre o SUS. O instituto está em reestruturação após um pico de crise recentemente, mas ainda deve mais de R$ 300 milhões a hospitais. Qual sua proposta sobre o IPE?
São um milhão de pessoas. Se o IPE não atender, alguém vai ter de atender. Na verdade, o IPE repassou para o Estado 400 imóveis, muito bons, vi alguns no Interior, que não estão sendo utilizados. Então é questão de esses imóveis serem usados para pagar dívidas, existem alternativas, mas é também questão de gestão. A participação dos profissionais médicos no conselho do IPE também é muito importante. Então, é um trabalho em conjunto com a sociedade que vamos ter de resolver colocando os médicos também no conselho.
Calendário de entrevistas
- Argenta - 29/8
- Edegar Pretto - 30/8
- Eduardo Leite - 31/8
- Luis Carlos Heinze - 1º/9
- Onyx Lorenzoni - 2/9
- Ricardo Jobim - 5/9
- Vicente Bogo - 6/9
- Vieira da Cunha - 7/9
- Demais candidatos - 8/9